Quatro Estações

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Narração – Florence Bassan

- Sabe que Steve irá ficar furioso, não é? – Controlei o riso, enquanto Tony degustava um copo de whisky.

     Haviam se passado algumas semanas desde o meu encontro com o loiro, que me deixou plantada em meio à pista de dança do restaurante, para averiguar alguma coisa na rua; me lembro como se fosse ontem, Anthony chegando no pequeno restaurante indignado por não estarem atendendo e me encontrar lá, parada. Para ele foi o fim dos tempos, minhas bochechas estavam coradas, pelos olhares curiosos dos garçons, o moreno apenas esqueceu o quão indignado estava e se aproximou.

     "- Não acredito que ele te deixou aqui sozinha. Não há ninguém na rua inteira, Floren – Ele segurou um cacho do meu cabelo e o enrolou contra o dedo – Ele pode não voltar.

 - Nunca tive sorte com homens –
Soltei um riso fraco. Não que Steve não fosse um doce de pessoa, mas aquele momento seria o mais constrangedor de todos os encontros que eu já tive.

 - Você irá comigo em uma viagem de negócios – Disse ele, por fim – Não irá recusar e pode ir fechando essa boquinha agora mesmo, deixa eu continuar. Pepper e eu estamos cada vez mais distanciados e ela não irá comigo nessa reunião na Europa, mesmo sendo algo que temos em comum: a nossa empresa. Não quero ir sozinho e acredito que ficar ai esperando o picolé, perante esses olhares de dó não serão bons para sua alto estima, então nem se preocupe em passar na sede, compro outro armário de roupas para você em Paris, agora vamos. – Ele estendeu o braço e me estiquei, pegando minha pequena bolsa e aceitando seu braço – França, Stark e Bassan irão lhe abalar! – Ele colocou os óculos escuros e eu soltei uma risada."

- Depois de uma semana eu liguei avisando a todos, não se preocupe – Ele me deu uma piscadela.

     O carro estacionou e senti meu coração bater forte. Steve, Sam e Rhodes estavam treinando ao ar livre, enquanto agentes se aqueciam; minhas mãos tremeram e respirei fundo. Happy abriu a porta para nós e Tony fez questão de estender sua mão para me ajudar a sair. Eu não usava uniforme da S.H.I.E.L.D., apenas uma blusa branca larguinha, com uma saia azul bebê que tinha abrimento nos joelhos e terminava logo abaixo, um cintinho marrom o segurava e os saltos da mesma cor davam um charme. Até mesmo estava mais corada, o sol das praias que Tony me levou me deixaram bronzeada, sem contar o tanto que aprendi sobre os seus investimentos, sobre todas as palestras que ele deu e todas as vezes que o ajudava controlar sua crise de ansiedade, que eram freqüentes.

     Foram semanas mágicas. Gostava de estar perto de Stark, ele era um poço de mistério e muitas vezes mal compreendido pelas pessoas, mas eu consegui o conhecer melhor; sempre se escondia atrás do próprio sarcasmo, mas tinha um coração bom. Me contava até do projeto que ele estava criando para investir nos projetos de alunos.

     Além de Paris, passamos alguns dias na Alemanha para expansão do projeto e ao se ver livre das semanas de trabalho, decidiu que iria apresentar a Itália dessa dimensão. Nunca tive férias sequer em anos, porque me veria sozinha e isso era um fardo, conviver comigo mesma; Tony compartilhava isso comigo, a qual o confessei perante um de seus momentos vulneráveis. Os olhares se voltaram para nós e senti um rubor se espalhar pelo meu rosto.

 - O que esse homem fez com você? – Brincou Sam, que se aproximou e me deu um abraço apertado; eu havia pintado as pontas do meu cabelo, que iam até a cintura, de loiro. Sem contar que minhas sardas estavam mais visíveis.

 - Se passasse dias comigo, periquito, poderia ganhar um bico novo – Segurei o riso e Sam o fuzilou; Tony deu seu sorriso de lado, que repuxava os lábios.

 - É Falcão – Retrucou e percebi os outros dois se aproximando; foi difícil encarar Steve, ele não tinha mudado em nada, mas ambos tentávamos desviar o olhar, o que todos perceberam.

 - E aí, Rhodes – Stark abraçou o amigo e ambos saíram conversando, assim como Sam, que deu um jeito de escapar. Não sei quantos minutos ficamos encarando os pés, até ele quebrar o silêncio.

 - Wanda e Visão sentiram sua falta, não sei o que você ensina a eles, mas não é a mesma coisa em minha técnica – Meu rosto se iluminou com um sorriso ao ouvir o nome deles, estava com saudades.

 - Queria poder ter me despedido – Arfei e finalmente nos encaramos – Não foi uma escolha minha Steve, mas... – Ele me interrompeu.

 - Tudo bem. Talvez se eu não tivesse tido alucinações com o Bucky, poderíamos ter terminado nosso encontro – Suas bochechas coraram.

 - Talvez possamos terminar – Senti a brisa quente atingir nossos rostos e ele sorriu.

 - Não seria uma má ideia – Admitiu.

     Depois de reencontrar Wanda e Visão e os alertar de que os treinos começariam na manhã seguinte, cumprimentei alguns agentes no caminho do meu quarto. Minhas malas já estavam ali, provável coisa de Happy e o agradeci mentalmente; o recinto continuava o mesmo, porém as flores que Steve me dera continuavam ali, bem cuidadas, exalando um cheiro maravilhoso.

     Peguei meu travesseiro e o cheirei, sempre tive essa mania, de sentir o meu próprio perfume, mas ele não estava ali, havia sido substituído por um perfume forte, mas gostoso. Algo como um coquetel inebriante do revigorante limão italiano e a tangerina com suas folhas verdes evocando a seiva e um ímpeto desafiador da pimenta rosa, um Gucci Guilty masculino. Coloquei minha lista de música clássica para tocar, começando com Vivaldi, sinfonia Quatro Estações para arrumar minhas coisas.

     Abri as janelas e com um borrifador, aguei as flores.

 - Não sabia que gostava de rosas, ou melhor, flores – Tony se encostou na soleira da porta.

 - São minhas favoritas, além de tulipas – Sorri.

 - Mais de dois meses juntos e ainda não entendi como consegue ouvir essa coisa insuportável – O lancei um olhar repreensivo e ele apenas deu de ombros – Que foi? Poderia estar ouvindo aquela playlist de rock que te passei.

 - Escutei a viagem toda, era impossível – Me lembrei quando tentei fazer Friday mudar a playlist, mas ela pareceu confusa quando nós dois começamos a discutir nosso gosto musical – Sabe, poderia deixar Friday ser comandada por minha voz um dia desses.

 - Engraçadinha você, mas vou pensar a respeito e em como posso melhorar seu traje – O envolvi em um abraço que o pegou de surpresa, pois ele nunca demonstrava sentimentos; acredito que estava se acostumando com o esbanjo de afeição que eu sentia, ele aos poucos relaxou e me envolveu com seus braços.

 - Ah Tonyzinho, vou sentir tanto sua falta – O encarei.

 - Sei que vai, é o que todas dizem – Revirei os olhos e ele beijou o topo de minha cabeça – Sabe que pode me ligar a qualquer hora, menos quando eu estiver na oficina, sabe que o horário das dez a uma da madrugada são reservados para minhas belezinhas.

 - Sabe, queria ter uma pequena porcentagem da sua inteligência. Me pego pensando que quando partirmos desse mundo para melhor, não irei deixar nada, ao contrário de você, que construiu armaduras e é um gênio – Ele riu. Momentos assim eram raros, quando seu riso era sincero.

 - Você tem muito conteúdo nessa sua cabecinha levada, qualquer dia construímos algo para parar de se sentir assim. Mas agora tenho que ir, Floren, se cuida.

 - Juízo, bolinho Stark – Ele me mostrou o dedo do meio e se perdeu entre os corredores, me deixando sozinha novamente.

     Era tão bom estar com ele. Me sentia renovada e todos ao nosso redor diziam que onde um fosse , o outro estava atrás; tenho que confessar que formamos uma bela dupla. Ouço batidas na porta e logo um Steve apreensivo surge. Senti seu perfume invadir minhas narinas e o reconheci como o do meu travesseiro, me fazendo me perder em devaneios, até ele passar a mão a frente dos meus olhos.

 - Sim? – Ele soltou uma risadinha e depois sacudiu a cabeça.

 - Sabe, esses meses que estava fora, Sam e eu procuramos por Bucky. – Arqueei uma sobrancelha.

 - Está precisando de uma mãozinha, Rogers? – Ele assentiu.

 - Os pés também, se for preciso – Revirei os olhos.

 - Sabe, antes de eu partir você não possuía um humor desses. Será que levei uma pancada tão forte na cabeça e estou tendo alucinações?

 - Está insinuando que sou sem graça?

 - Não está aqui mais quem falou – Estendi os braços, em rendição – Mas conte comigo para o que precisar, Capitão.

Continua... 

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