CAPÍTULO 21-O DETETIVE E O FILÓSOFO

514 100 7
                                    



Vitor achou estranho quando perguntou para Pedro, na próxima visita, se Otávio tinha descoberto algo através das tais fitas de segurança do banco e ele veio com um papo que o outro dissera que vira e que não identificara o cara.

Pedro disse que poderia ver a tal gravação, talvez fosse algum conhecido dele, afinal, já que Otávio sugerira isso na véspera. Mas não, Otávio disse que tinha descartado a ideia de mostrar as gravações a Pedro, alegando que não queria que ele se estressasse mais, afinal.

Porém, pra Pedro e Otávio aquele assunto poderia estar encerrado, mas não pra Vítor.

Muito estranho alguém desviar o seu pagamento num mês, irem lá, fazerem a reclamação e no mês seguinte, por coincidência, alguém clonar o cartão dele. Ou havia um mal entendido, ou Pedro realmente estava em uma bruta maré de azar.

Marlene tinha contatos na polícia. Solicitaram as fitas e, para surpresa dos dois, Vítor não pode identificar se agradável ou não, lá estava, no dia e na hora marcada, nada menos do que Otávio justamente no caixa fazendo aquela sacanagem com Pedro. Verificaram o roubo anterior e novamente conferia.

_Safado...e nem precisou mexer no próprio dinheiro, já que apenas devolveu o de Pedro para a conta._desabafou Vítor.

Marlene suspirou preocupada:

_Tem certeza que quer mesmo já iniciar sua nova vida amorosa mexendo de cara com um ex-namorado perigoso desse jeito? O cara é um ladrão bem cara de pau, hein?! O que pretende fazer? Contar para o Pedro ou acionar logo a polícia?

Vítor estava pensativo. Ainda não se decidira como agir.

_Eu vou pensar primeiro como pegar esse moleque. O certo é que eu vou ficar de olho nele, pode apostar.

Vítor ficou muito pensativo com a descoberta.

Efigênia estava na sala fazendo palavras cruzadas, quando Pedro acordou naquela tarde.

Sentiu que estava molhado, mas resolveu esperar um pouco para chamar Efigênia. Queria ficar sozinho.

Cada dia que passava era mais difícil dormir sem Beth ao seu lado na cama. Era uma delícia ter aquela peluda ao seu lado. Ouvir ela roncando baixinho, acordar com o focinho molhado dela lambendo o seu rosto, ter a cadela indo encontrá-lo toda vez que ele saía de casa e voltava já morrendo de saudades. Sua companheira, sua amiga, sua filhinha estava fazendo falta...só aqueles olhos doces e silenciosos seriam capazes de devolver-lhe novamente alguma noção de normalidade naquele apartamento.

Era tão raro ficar sozinho depois do acidente. Sempre alguém entrando, saindo, verificando, limpando, medicando, aconselhando...

Sabia que deveria agradecer por estar sendo tão bem assessorado. Poderia estar jogado num canto precisando implorar a ajuda de alguém, mas não...ele não sabia se fora Otávio ou Casimiro ou a sua mãe quem tivera a ideia de organizar tudo assim pra ele.

Ele não precisava se preocupar com horários de consultas, quem ficaria de manhã ou à tarde...quem dormiria com ele à noite...

Qual era o medicamento da manhã, da tarde, da noite...tudo estava perfeito!

Impressionante como a gente perde horas, dias, semanas se decidindo a mudar de vida...dar uma repaginada na vida e, de repente, como pode isso? Tudo trava...tudo emperra...tudo desanda...

Só mais uns dias...só mais uns dias e isso tudo acaba...repetia pra si mesmo toda hora.

Só mais uns dias o quê? Tirar o gesso?

E?

O que isso mudaria de tão radical em sua vida que lhe desse uma visão melhor do que tinha agora?

Talvez fosse melhor continuar daquele jeito...com todo mundo fazendo as coisas pra ele...decidindo tudo pra ele...dirigindo a vida dele pra ele...

Tinha uma dívida enorme com Otávio, o relacionamento que ele nunca teve, o namorado que nunca foi, mas que agora estava agarrado a ele por conta daquelas dívidas.

Gostava de sua privacidade respeitada, mas sua casa ultimamente parecia uma praça pública com gente transitando pra lá e pra cá.

Já acontecera dele dormir com um...acordar já era outro cuidador...que já estava indo embora, porque já chegaria o dono do próximo turno. Dá pra perder a noção das coisas mesmo.

Iria ter que acatar as intromissões de Otávio, seu provedor... até quando? Sua mãe organizando sua casa, insistindo que a melhor forma dele manter a energia positiva dentro da própria casa era conservando Beth dormindo na varanda e não na cama, cuidando dos vasos que ela espalhara pela casa como se marcasse terreno.

Lívia e Efigênia, a tia e a namorada,  se revezavam, geralmente à tarde...isso quando Otávio não se impunha, como marido fiel e as dispensava, agora, bem na cara de Pedro, alegando que elas poderiam ter algo melhor pra fazer e que ele estava à toa.

E Vítor...o infelizmente hetero/casado/também pai que ele tinha certeza de que só estava ali para diminuir o peso na consciência por ser o dono do cachorro que provocara o seu acidente.

Será que a lei era clara quando dizia "se seu cachorro arrebentar a guia e lançar alguém debaixo de um carro, você será obrigado a assumir o tratamento do acidentado até que ele o expulse de perto dele."

Vai esperando que ele expulsasse o senhor delícia de perto dele, pensou com um sorriso.

_Está com um sorriso safado no rosto. Está se masturbando?_era a voz masculinizada de Efigênia.

Tudo bem que o tio pisara na bola um milhão de vezes, se embebedava de segunda à segunda, batera na tia...mas ela tinha que radicalizar daquele jeito a ponto de, um mês depois do "basta" colocar aquela mulher dentro de casa? Ela era mais homem do que Pedro, pelo amor de Deus!

_Ô...não tem coisa mais broxante do que estar de fralda, acredite, Efigênia. Ainda mais encharcada._franziu o nariz como um gatinho._Troca pra mim?

_Mas não é pra isso que estou aqui, criatura?_virou-se e foi logo pegar uma fralda no canto do quarto.

Precisava ter esses ombros tão largos?

Talvez devesse ter medo dela. Os dois ali sozinhos, ela o arremessaria janela abaixo e depois se defenderia dizendo que ele estava deprimido o suficiente para fazer aquilo consigo mesmo.

_Se ficar de pau duro, encho a sua bunda de palmadas._ela riu da própria piada.

Outra coisa mais broxante ainda: ter uma sapata trocando a sua fralda, não se poupou de pensar.

&&&***&&&


VOCÊ VEM?-Armando Scoth Lee (Revisado em 2020)Where stories live. Discover now