1. As velas do meu funeral.

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 Faltava apenas um ano para terminar o ensino médio e finalmente começar minha vida adulta, infelizmente na América nós só terminamos com dezoito, sim, dezoito. E hoje coincidentemente era meu décimo sétimo aniversário, enquanto minha mente fervilhava com ideias e pensamentos melancólicos, mamãe trançava meus cabelos, ruivos como o dela e levemente ondulado como os de meu pai, meus olhos observavam o reflexo que se formava no espelho e quase que instantaneamente, lancei-os na direção dos dedos de minha mãe.

 Silenciosa como um gato, ela terminou o que viera fazer e me deixou sozinha com meus pensamentos, talvez não devesse fazê-lo pois parecia perigoso demais me deixar á mercê de mim mesma, mas ela confiava o bastante para saber que eu não faria nenhuma loucura. Esperava que ela estivesse certa, mas ambas sabíamos que minha mente não era das mais confiáveis. Uma melodia alegre ondulou pelo quarto, vinda do primeiro andar onde eu daria uma festa para meus poucos amigos, podia não parecer mas eu me sentia muito solitária e sentia falta de quando morávamos em Oregon e papai ainda estava vivo, eu precisava superar porque já faziam três anos.

— Scar, está na hora, desça aqui! — Meus delírios foram interrompidos pela bela voz de minha mãe, ela estava preocupada mas não queria que eu soubesse, fizera um péssimo trabalho tentando encobrir os rastros de sua inquietação. — Juliet e Ronnie estão aqui, aparentemente famintos.

— Já estou indo. — Fora tudo o que disse.

 Suspirei e então reuni minha força de vontade para enfim levantar de minha poltrona, Deus, como era confortável. Me olhei no espelho uma última vez e fiquei feliz com o resultado, a escada parecia um desafio que precisava ser vencido rapidamente, mas meus pés eram preguiçosos e me obriguei a descer mais devagar, da última vez que tentei descer correndo acabei com um tornozelo torcido. Minha mente viajava para todos os tipos de lugares quando eu me distraía, até mesmo descendo uma breve escada.

 Toda noite após a grande comemoração, meus pais sentavam juntos em frente á lareira e contavam como fora o dia em que eu nasci, era quase uma tradição, que foi quebrada há alguns anos. Assim que me viram, pensaram na cor Escarlate e assim em Scarlett, meus cabelos combinavam com meu nome e era por isso que eu o tinha, dizem que meus olhos eram iluminados como a noite estrelada, havia nascido na lua cheia mais linda do ano e assim aparecia todo dia 15 de novembro, como hoje.

A lua me banhava com sua luz.

E só ela podia me entender.

 Uma figura baixinha pulou em minha frente, Juliet havia cortado seu cabelo radicalmente e pintado de verde, parecia uma verdadeira fada das plantas e Ronnie, meu melhor amigo, não havia mudado nada desde o 8º ano. Seu cabelo bagunçado numa mistura de loiro e castanho, não se sabia exatamente qual era a cor que carregava em sua cabeça e isso não importava quando seus braços me envolviam quase completamente. Ele era um garoto alto e cosideravelmente forte, quando nos conhecemos, ele sonhava em ser jogador do time de futebol americano e agora, no ensino médio, ele finalmente conseguiu realizar seu sonho momentaneo. Juliet era mais fechada, tinha seu estilo único e despojado, eu a admirava por nunca ouvir as críticas e sempre seguir com sua vida do jeito que ela tinha vontade.

Juntos, eramos um trio de melhores amigos, invenciveis, corajosos e (quase) populares.

Existiam outras duas pessoas, quase tão importantes quanto eles, Lizzie e Dixie, eram gêmeas quase idênticas, Liz era a mais alta e pálida e Dix era baixa e levemente bronzeada, ambas eram tão loiras quanto o sol e iluminavam nossas manhãs entediantes em W.W. Classical High School.

A pequena e privada festa já havia começado, Juliet colocara uma de suas músicas favoritas que todos julgávamos ser entediante e ela sempre exibia seu dedo do meio para nós, começamos uma conversa sobre como seria interessante se todos pulássemos um ano e nos encontrássemos na universidade. As gêmeas, como sempre, negaram e disseram que gostariam muito de aproveitar seu último ano de High School. Não as julgo, mas eu pularia para o futuro sem nem pensar. Então a hora mais esperada havia chegado, mamãe pausou a música e começou a cantar a famosa canção, aquilo me deixava corada de alguma forma, e só me restava aceitar que eu estava atingindo uma quase vida adulta, o que não era ruim. 

Naquela noite, eu completava meu decimo setimo aniversário, mais um passo para a vida independente, mas será que era realmente como eu esperava? 

Estávamos cansados e todos dormiriam lá, inclusive Ronnie. Havíamos montado uma espécie de acampamento na sala de estar e Lizzie começou a contar sobre filmes de terror que havia visto, como toda noite, isso me gerou pesadelos depois que fomos dormir e então acordei no meio da noite, torcendo para que amanhecesse logo. Outro dia começaria: Segunda-feira.

A garota Escarlate.Where stories live. Discover now