3. Ronnie á flor da pele.

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Idiota. Era essa a palavra que eu usaria para descrever Ronnie desse dia em diante. Finalmente o dia passou rápido e já estava na terceira aula, que durava cerca de uma hora e assim era um dia comum na W. W. Classical High School, uma das melhores aulas do dia era a de biologia e era justo nela que as gêmeas estavam, sua conversa me atrapalhava mas eu era boa amiga o suficiente para deixar passar e tentar ao máximo focar na aula. Ter paciência era algo difícil, mas era preciso.

Soube por Dixie que Juliet não viria, não era surpresa alguma que ela sempre arranjava um jeito e um motivo para não ir á aula. Ela era a mais rebelde, com seus 1,57 metros de altura e seus cabelos verdes cor de mato, podia ser facilmente confundida com uma dríade, ninfa das florestas. No fundo, desejava ser como ela, livre e desencanada, sem papas na língua e inseguranças infantis, de longe, Juliet era a mais madura de nós. E isso pesava.

— Dixie, quando vocês saíram? — Me referia ao episódio de hoje de manhã, quando me deparei com a sala vazia.

— Hm... Umas 6:30, não queríamos atrapalhar sua mãe por mais que todos estivessem morrendo de sono. Mas você teve sorte, não? Acordou na cama. — Era notável seu sorriso insinuante, Dix sabia muito bem sobre minha relação com Ronnie e não passava de amizade, no máximo ele seria equivalente á um irmão.

— Não me faça ter raiva de você também, Ron já teve sua dose hoje.

Então ela direcionou seus olhos azuis para mim, focando os meus com uma intensidade sobrenatural. As irmãs tinham isso, Lizzie e Dixie, gêmeas misteriosas e sinceras. No começo de tudo, quando começamos a ter aulas de biologia juntas, era um caos. As gêmeas não se cansavam de perguntar sobre o motivo de eu ter me mudado, até que um dia perdi a cabeça e lhes contei tudo sobre a morte de papai, desde então começaram a ser legais comigo, como se eu fosse motivo de pena. Era algo que me irritava ainda, com os anos aquilo foi se aliviando, mas ainda sinto uma pequena presença de pena quando olham nos meus olhos.

Finalmente chegara o horário do almoço e eu estava faminta o suficiente para ignorar qualquer coisa que aquela cozinheira havia feito, para minha surpresa, quando cheguei no refeitório havia um rumor de que agora só teríamos comida industrializada, e não precisávamos mais da cozinheira. Viva á obesidade! Era só o que teríamos daquele dia em diante, apesar de ser uma péssima profissional, Sra. Brookes era uma pessoa muito simpática e a única que prezava a boa alimentação, por isso todos odiavam sua comida. Sra. B sempre evitava fast foods, por isso - provavelmente - a tiraram.

Em seu lugar havia uma pessoa mais nova, que apenas ficava no caixa, pegando nossos dinheiros e nos dando venenos. Tudo bem, eu gostava muito de coisas não-saudáveis mas a questão é: vamos comer isso todos os dias.

— Estou revoltada. — Sentei em nossa mesa, os três devoravam sua comida e quase não tinham me notado ali, exceto Ron. Ele parou e olhou para mim, com uma confusão evidente na face, sorriu e colocou um pedaço de lasanha na boca. Revirei os olhos diante daquilo.

— Deixe-me adivinhar, não tem sua comida sem sal e sem sabor? E sua mente maligna está fervilhando para ir no diretor. Certo?

— Ronnie, achei que fosse mais esperto e pensasse sobre as consequências disso. Você é um jogador, como vai ficar em forma com essa alimentação?

— Isso é uma decisão minha. — Como se eu tivesse lhe atingido com uma pedra, ele se calou e seus lábios viraram uma linha dura e fina. Ótimo, tínhamos um problema. Tentei ignorar e comecei a me afastar da mesa, indo em direção ao leque de opções da cantina, peguei um  donuts de morango para a sobremesa e um prato de macarrão a carbonara, logo em seguida paguei e voltei á mesa, o silêncio continuava e era ensurdecedor, então decidi quebra-lo. — O que planejam fazer na sexta?

— Dormir — Lizzie respondeu enquanto dava pequenos goles em sua Coca Cola de baunilha, como um clone, Dixie afirmou com a cabeça, também faria isso.

— Ron?

Deslizei minha mão direita em sua direção, pegando e acariciando levemente a sua esquerda, me sentia mal por ter falado daquele jeito com ele, mas eu precisava tentar pôr algum juízo em sua mente.

— Você sabe que só fiz isso porque gosto de te ver bem.

— Não estou chateado, espero que vá ao meu jogo. — Ele se levantou e sorriu minimamente, saindo com sua bandeja e desaparecendo nos corredores.

O resto do dia fora um completo desastre, as três últimas aulas foram as únicas que tive cem por cento de concentração, pois Ronnie estava quieto comigo e as gêmeas tinham ido embora mais cedo por conta de alguma viagem. Perderiam muitas aulas, mas como sempre iriam se virar e tirar A em todas as matérias. Juliet deveria estar comigo na última aula mas em vez disso, estava sozinha e tive a pior sensação do universo quando um rapaz ousou sentar ao meu lado. Seus olhos chamavam atenção, eram amarelos âmbar e seus cabelos extremamente escuros emolduravam seu rosto pálido, era um rapaz muito bonito mas o que estava fazendo ao meu lado era um mistério. Então ele abriu a boca suavemente e disparou algumas palavras, era notável seu sotaque francês e charmoso.

— Me chamo James e a senhorita?

— Scarlett. — Engoli em seco e torci para estar no fim da aula, seria simpática enquanto a tortura não acabava. — Você tem sotaque, por que veio para os Estados Unidos?

— Posso te responder se topar sair comigo, senhorita Scarlett.

Ele era cheio de si e era algo que eu abominava, minha mente e paciência ferveu, me fazendo levantar da cadeira e coincidentemente o sinal tocou e então saí andando, deixando uma única coisa para trás:

— Não me importo com seus porquês.

A garota Escarlate.Where stories live. Discover now