82| Inferno atroz

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O nosso inimigo é o
próprio reflexo nos espelhos
pendurados pela casa de
papel, que incendeia-se com
problemas e discussões ao
entardecer.

Ilusório labirinto de paredes
com tijolos descascados,
as labaredas desfazem
irreais bolhas de desejo,
sádico chão de espinhos,
as tuas fossas efervescentes
incendeiam o interior do
abismo da alma.

Dentro de mim há um duende,
o seu olhar é o brilho do luar
e o seu alimento é o fogo
vivo que chamusca cada
broto de bondade.

Embaixo da cama só há o
vazio e a solidão cravada
entre o assento da poltrona,
porque o bem e o mal está
em nós,

abra o seu terno, rasgue o
seu vestido, descosture
o seu peito, olhe para
dentro e veja o que não
existe lá fora.

Os sussurros dele
incineravam a vida
que padecia nas
minhas olheiras,

como o único viajante
a explorar-me, às vezes,
ele caminhava pelas
minhas estradas
tortuosas

e eu sentia cada passo,
que ecoava o ruído dos
seus sapatos sobre as
folhas secas do outono.

Aos poucos, ele devorava
cada recanto do meu âmago,
e assim, eu me transformei
em cinzas a vagarem entre
os vitrais de esperança.

A vida se resume em poesiasWhere stories live. Discover now