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            Teria sido tão mais fácil. Eu ia dizer assim pro Gelcimar:
  
- Não quero namorar assim, não, ainda é muito cedo. Só quando eu crescer é que vou querer semente de bebê. 
 
            O Gelcimar foi tão sacana comigo! Ele já tem vinte anos, devia saber dessas coisas. Mas será que ele sabia também! E ainda por cima fugiu. Ouvi o pai falando:
        
- Como é que vai ser pra registrar esse bebê, Carminda? Você acha que devia registrar como filho nosso?
        
- E pode, José?
        
- Acho que não. Mas vou registrar no nome da Taís? Sem nome do pai? Ou será que posso pôr o nome do Gelcimar?…

- Melhor você se informar, José. Não vá fazer besteira.
        
- De que vocês tão falando?

            O pai olhou pra mim e suspirou:
        
- Minha nossa, ainda é uma criança!
        
- Não sou mais criança não, pai.
        
- É sim, minha filha. Você é uma criança esperando outra criança...
        
- Não bebe mais, pai - pedi. - Fico triste.
        
-  Prometo - ele disse, e parecia sincero.

           

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           Logo depois a vó chegou do interior

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           Logo depois a vó chegou do interior. Ela não sabia de nada e levou o maior susto. Ficou sentada na beiradinha do sofá, olhando pra mim. Quando conseguiu falar, perguntou:
        
- Mas Carminda, como foi isso?

            A mãe suspirou fundo:
        
- Imagine que o José trouxe um sobrinho pra morar com a gente, um rapaz bonzinho, bem-educado...
        
- Quantos anos ele tem?

- Vinte!

-Quantos? - a vó quase gritou.
        
- Que importa a idade dele agora? - A mãe sentou-se ao lado da vó. - Aconteceu, pronto. A senhora tem de me ajudar a segurar essa barra, mãe.
        
- Mas é uma judiação - a vó fez cara de dó. - Ela é só uma menininha... E cadê esse rapaz, quero falar com ele.
        
- Sumiu, mãe, se escafedeu. Nem pra casa dos pais ele voltou... A gente fez o noivado dos dois.
        
- Não me diga que queriam casar a Taís aos doze anos! - a vó até riu. - Vocês ficaram loucos? Casar essa criança, acham que ia dar certo? Quer saber de uma coisa? Ainda bem que o cara sumiu na poeira... Até gostei!
        
- Mas mãe, seria melhor pra menina, pro nenê. O José ia pedir ordem pro juiz de menores...
        
- E acham que ele ia dar? Trabalhei muitos anos na casa de um juiz. Ele comentava essas coisas com a mulher e eu ouvia... Tem de ter catorze anos pra casar.
       
- Tem certeza, mãe?
        
- Claro que tenho. Teve um caso parecido com o da Taís, lá na minha cidade, e o patrão negou o pedido. Agora me deixe sozinha com a minha neta que quero falar com ela...
        
            A vó é uma mulher baixinha, forte, e tem um olhar muito carinhoso. Sempre gostei muito dela. Pena que morasse longe e a gente só se visse nas férias ou quando ela vinha pra São Paulo.
        
- Ele te magoou, Taís?
        
- O Gelcimar, vó? Não, não magoou, não.
        
- Ele te forçou a fazer o que você não queria, minha neta?

O portão do paraíso- Giselda LaportaWhere stories live. Discover now