Pág 33 - Fim

244 7 2
                                    

            Viu mesmo como mudei? Olho no espelho partido do guarda-roupa e digo pra mim mesma:
            "Oi, Taís, você tá tão bonita hoje!"
            Será que algum dia vou encontrar um príncipe encantado? Como vou reconhecer um príncipe de verdade? Não posso sair por aí perguntando:
            "Oi, cara, você é um príncipe?"
            Ou posso? Mas pode ter outro jeito de encontrar um príncipe... Fazendo uns testes. Não é assim que a psicóloga da escola fazia? Teste pra saber se a gente gostava de estudar, se vivia bem com a família, se tinha amigos ou raiva de alguém...
            Não tenho pressa, não, tenho muito tempo... Ainda sou tão nova. A coisa que mais tenho na vida é tempo. O negócio é deixar rolar e um dia... Um dia eu vou encontrar esse príncipe. Uma pessoa muito especial que vai dizer pra valer:
        
- Eu gosto de você, Taís.
        
- Gosta mesmo, de verdade?
       
-De verdade. E nunca vou embora. Vou ficar por que me preocupo com você.
       
-E da Taísa, você também gosta?

            Percebeu, meu diário? Esse é o teste final.
           Ele pode responder de duas maneiras: "Não gosto, não, sinto muito, mas não gosto da Taísa". Ou "Gosto sim, gosto da Taísa também..."
           Então, se ele der a primeira resposta, eu digo:
        
- Paciência, também gosto muito de você, mas, se você não gosta da Taísa, nada feito. Tchau, tchau, príncipe.

          Mas, se ele der a segunda resposta, vou dizer:
        
- Que beleza, você é mesmo o meu príncipe! Cadê seu cavalo que vamos as duas na garupa.
        
- Sou um príncipe moderno, Taís, não tenho cavalo... Ando de ônibus, de metrô, de carro...
        
             Não tem importância, quero mesmo é você, príncipe. Nós duas estamos prontas. Pra onde a gente vai?

-Pro paraíso, Taís...

- E onde é o paraíso, príncipe?
        
- Aqui do lado, é só passar pelo portão..
        
- Então o que a gente tá esperando? Vem logo, Taísa, não deixe o príncipe esperando...
        
- Tô indo, mãe... - (Aí ela já tá falando, né?)

            O que você acha, meu diário? Ensino a Taísa a me chamar de mãe? Outro dia saímos, ela, eu e a minha mãe. Parou um conhecido na rua, que fazia tempo não via a gente, e perguntou:
        
- Oi, Carminda, ganhou outra menina?
    
           A mãe ficou atrapalhada, mas disse:
        
- Não é minha filha não, é minha neta.

            O conhecido olhou pra mãe, olhou pra mim, desconversou, ficou sem graça e foi embora.
            Não quero que a Taísa passe por minha irmã. Quero que todo mundo saiba que ela é minha filha. Fui eu que fiquei barriguda que nem podia cortar a unha do pé. Fui eu que me senti como um abacate maduro quando sai o caroço... Ela é minha filha, pô! Tá registrada assim lá no cartório. Quem gostar, gostou. Quem não gostar, paciência, que se dane!
            Mas, voltando ao príncipe, meu diário... A Taísa então vai dizer: "Tô indo, mãe..." E vem com a malinha dela (a minha, claro, já estava pronta há um tempão!).
             Então nós saímos os três (o príncipe não tem mala, ou tem?) pelo portão...
        
- Tem certeza de que aqui é o paraíso, príncipe?
        
- Tenho, Taís. Aqui é o paraíso.
        
- Mas nem parece, quer dizer, parece a minha rua. Tudo igual como sempre. Como é que pode ser o paraíso?
        
- Porque a gente passou pelo portão, já disse.
        
- Mas era o portão da minha casa...
        
- Por isso mesmo, Taís... O paraíso não é um lugar fácil: ele é difícil, cheio de desafios, de dúvidas... Se não fosse assim, não seria um paraíso, seria um lugar muito sem graça, não é?
        
- E dá pra ser feliz? - (essa pergunta vou fazer com certeza).

         Mas, sabe, meu querido diário, acho que já sei a resposta. Posso ser feliz sim, muito feliz, porque agora eu aprendi a gostar de mim!

                Taís

O portão do paraíso- Giselda LaportaWhere stories live. Discover now