4 - Eros

12 1 2
                                    


Quem sabe dizer exatamente o que é o amor? Aqui temos uma questão complicada – e por mais que soe repetitiva, eu não poderia começar esse texto com outra. Diante dela, aquele que responder "eu sei" de imediato, provavelmente carrega sobre as costas grande e pesada possibilidade de estar errado.

Existem tipos específicos de amor: o paterno, o materno, os das amizades, o canino, o felino, etc. Existe também aquele sagrado, o que os antigos chamaram de ágape, o amor que não espera algo em troca, o amor ao próximo, benevolente. Mas, além desses tipos, existe um que quem ainda não conhece, com certeza um dia vai conhecer: o eros. Este é o amor que arde, o amor "pega fogo lá embaixo", o amor que te põe de joelhos e te faz sonhar de olhos abertos como um legítimo idiota, o amor "explode coração".

Pois bem, no meu caso, descobri esse tipo de amor relativamente tarde.

Estava no terceiro ano do ensino médio pela segunda vez, aos 18 anos. Era a última aula do dia e o sinal para a saída tocara – o cenário onde tudo começou. Fui para fora da sala de aula antes de todo mundo, naturalmente com aquela mesma pressa diária de sair. Estava indo pelo corredor e ela – aquela que não deve ser nomeada – vinha logo atrás com sua irmã e alguns de nossos colegas. Não me lembro por qual motivo eu parei e a esperei naquele momento e também não posso afirmar, com confiança, que hoje me arrependo, ou não, disto; ela veio em minha direção, eu virei para o outro lado por um instante, para falar com um amigo, e então, antes que eu tivesse chances de tomar conhecimento do assalto, os braços da ladra já me envolviam, suas mãos já se tocavam atrás do meu pescoço e seus seios já se apertavam muito confortavelmente contra o meu peito. Eu não esperava por aquilo. Éramos amigos; sei que amigos fazem isso e que tal atitude parece ser ordinária, mas não era assim que as coisas funcionavam comigo. Aguardava um "até amanhã", somente, como de costume, pois eu não era dado a exercícios corriqueiros deste tipo de contato físico – fazia anos que tinha deixado de fazê-los, em algum ponto da minha vida em que eu nem sequer sabia o que era um rumo, e praticamente ninguém me estimulava a sair do sedentarismo. A arma da assaltante era, obviamente, perigosa e estava próxima demais para que eu pudesse resistir ou fugir do roubo. O máximo que consegui fazer foi me entregar – não que tenha sido difícil fazer isso.

Tal evento, contudo, foi somente o plantar da semente do interesse. Essa semente poderia germinar e se tornar algo maior, ou não, dependendo das condições do ambiente e da responsável por lhe dar de beber. Em uma noite, algumas semanas depois, numa aula extraclasse do colégio em que as condições estavam excelentes e a cuidadora estava especialmente bela, germinou.

Tive alguns interesses românticos antes deste, mas nenhum me enlaçou, me amordaçou e me deixou trancafiado num cativeiro por tanto tempo quanto este. E tudo começou com um abraço, um simples e fatal abraço.

Partindo daí cada toque era um sorriso, cada sorriso era apaixonado. A distância era tortura e o reencontro, um orgasmo. E o futuro parecia brilhante – ao menos para mim.

A árvore que brotou daquela semente não deu bons frutos.

Possivelmente tal planta já nascera podre e condenada, com alguma doença ou mutação do mundo da natureza que somente os biólogos poderiam a vocês explicar.

Volto a dizer que não sei se me arrependo daquele dia, daquele abraço, porém, sei que tudo que eu senti era verdade e continua sendo, mesmo depois de termos nos afastado. Mesmo que eu ainda não saiba o que é amor, de modo exato. Para que eu soubesse, quem sabe fosse preciso que esse amor tivesse duas pernas, que pudesse andar normalmente, que fosse recíproco ao menos numa medida não tão assimétrica. Infelizmente, nós nos queríamos em medidas distantes. Infelizmente, esse amor era aleijado – e não teve nenhuma muleta ou prótese que nele deu jeito.




  Texto originalmente escrito em 07/07/2017  






Palavras de Um Aprendiz.حيث تعيش القصص. اكتشف الآن