15 - O Peso de Ser

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Liberdade.

A palavra acima é muito usada em nossas conversas diárias, seja falada através do boca-a-boca ou digitada pelo teclado. É um termo elástico. Nós o usamos para tocar em diversos assuntos. Militantes políticos costumam usá-la o tempo todo. Com tal palavra falamos de liberdade de expressão, liberdade de escolha, liberdade criativa, liberdade de ir e vir, liberdade para trabalhar, liberdade para vagabundear, liberdade para gritar, liberdade para transar, liberdade, liberdade, liberdade... liberdade para fazer o que lhe vier à cabeça, ou quase.

Mas continua sendo difícil definir o que ela, esta dama complicada e não perfeita, significa. Tentaram representa-la naquela grande estátua em Nova Iorque, no entanto, creio que ela seja bem maior que aquilo. É preciso cautela para se lidar com a liberdade, é preciso andar nas pontas dos dedos quando se vai pelo piso de sua casa, de seu território, que abrange – por que não? – o universo.

Em relação a ideia de sermos livres se segue outra, também muito forte e presente no dia-a-dia: o conceito de respeito. Respeito é bom e... Ah! Vocês sabem o resto da história.

A liberdade de um sempre vai esbarrar na do outro, a menos que você escolha ser um eremita extremo, que vá viver longe da sociedade ou de qualquer contato humano. No lado externo da vida é assim, não tem jeito. No lado de dentro... aí você pode cometer os maiores atentados do mundo contra a ética e contra a moral, e o problema será todinho seu – não que isso seja recomendável.

No lado de fora sempre vai haver aquele vizinho que é uma tijolada no saco. Aquele mesmo, que vai ligar o som excessivamente alto, de dia ou de noite, quando você precisar estudar para uma prova que pode decidir o rumo da sua vida, ou quando você precisar dormir para se preparar para mais uma luta contra dragões no seu trabalho. Essa pessoa certamente ainda não descobriu a obra revolucionária da tecnologia chamada fone de ouvido.

No lado de fora você vai ter que continuar tentando achar espaço num ônibus ou metrô lotado, controlando-se para não empurrar ou brigar por um lugar vago com ninguém, pois, assim como você, ninguém gosta de ser esbofeteado, com exceção dos lutadores de alguns esportes marciais e algumas espécies de tarados. Tudo volta sempre àquela regrinha básica que todos os pais deveriam ensinar para os filhos: não faça com os outros o que você não gostaria que fizessem contigo. Alguns seguem esse conselho e acabam entendendo o seu significado.

Filósofos existencialistas, como Nietzsche ou Jean Paul-Sartre, acentuaram ainda mais o peso de ser dono, ou, melhor ainda, de ser pintor de si mesmo. "O homem está condenado a ser livre" disse o francês citado na anterior frase – é uma sentença paradoxal, mas os paradoxos podem, já que a vida é um absurdo, fazer muito sentido. Em relação a todos os seres que podem raciocinar e possuem todos os membros de seu corpo, o significado dessa afirmação me parece inteiramente certa. Uma pessoa sempre terá a possibilidade de fazer escolhas e de agir conforme tais escolhas – ficar quieto e esperar o caos passar, mesmo que nunca passe, é apenas mais uma delas.

A liberdade de escolher, de agir, de nos definir de maneira constante, ainda sobrevive, mesmo perante estas situações da vida em que nos dizemos governados pelos sentimentos e desejos, mesmo quando você se sente explodindo e impelido a dar naquele vizinho do som alto um belo de um socão na cara. A liberdade de escolha continua. Você, como um indivíduo completo, em sua versão calma ou impaciente, sempre estará na chefia. Você sempre terá o sim ou o não, talvez até um meio-termo – mas não tão facilmente –, e tudo resultará em consequências. Consequências... quantos de nós estão dispostos a abraça-las? Seja como for, esqueça qualquer coisa que te for alheia, na qual você possa buscar justificativas. Seja como for, meu amigo: a culpa é sua!




Texto originalmente escrito em 18/01/2018.

Palavras de Um Aprendiz.Where stories live. Discover now