Primeiro Beijo

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"Sinto muito, Robin, mas ela não resistiu"

Quando ouvi aquele conjunto de palavras sendo proferido pelo médico, o tempo parou, tudo ficou em silêncio e um grande vazio começou a se expandir dentro do meu peito. Não podia ser, não era verdade, não podia ser verdade. Olhei em minha volta procurando algum olhar irônico que denunciasse a natureza piadista daquela cena sem cabimento, mas não encontrei nada além de semblantes tristes e miradas penosas para mim. Por que todos estavam agindo daquela forma? Era claramente um engano, logo eu veria Marian passando pela porta rindo e feliz do jeito que era.

Infelizmente não aconteceu, eu nunca mais estaria com ela e a única forma de ver seu sorriso novamente era em minhas lembranças, mas pensar nela e em como foi seu fim era doloroso demais.

A brutalidade do acidente tirou sua vida no mesmo instante, não havia nada que a equipe médica pudesse fazer a não ser declarar a hora de sua partida. Ela me deixou e eu nunca pude me despedi ou dizer pela última vez o quanto a amava. Repentino e rápido, em um instante sua vida deixou de existir para se tornar recordação e vazio para os que a conheciam e amavam.

O luto, uma ferida aberta que nunca imaginei cicatrizar, crescia e doía em cada instante, cada passar de segundo que a injustiça prevalecia. A investigação da sua morte foi magicamente arquivada, ouso pensar que não fizeram autópsia em seu corpo, do contrário a causa do acidente não se decairia apenas na condição escorregadia da pista. A sujeira foi escondida em baixo do tapete e o verdadeiro culpado saiu impune, mantendo sua imagem de bom moço e perfeito cidadão. Daniel não contava apenas com a sorte ao seu lado, mas nunca consegui descobri quais eram as forças que o protegiam, nem o nome de quem as controlava.

Naquela noite chuvosa, eu pensei, na verdade, eu me prometi não amar mais ninguém; não havia pessoa alguma remotamente capaz de ocupar o lugar de Marian em meu coração, eu estava certo disto. Por mais de uma década, acreditei no meu luto e na minha dor, mas a vida prepara surpresas para as quais eu não estava preparado para enfrentar. Apenas me deixei levar sem ao menos perceber.

A responsável pela mudança em meu mundo, meu sorriso e pela felicidade impregnada em meu peito estava ali, no banco de trás do carro, com um sorriso doce, elusivo e com o pensamento distante, sonhando acordada.

O lugar de Marian não foi ocupado, ele continuou existindo, mas somente como uma recordação distante, uma porta fechada, uma página virada. Regina, sem eu conseguir impedir, chegou completando as lacunas vazias com um amor grande demais para mensurar. Iria parecer impossível para aquele Robin de anos atrás, mas meu anjo foi capaz de me fazer sentir um amor diferente, mais forte, mais intenso, mais puro.

Na noite passada, o reciproco sentimento foi finalmente posto em palavras sob o céu estrelado e com Deus de testemunha. As três palavras que mais queria ouvir eram as mesmas pelas quais eu estava louco para falar. Nossa situação não era fácil, mas com ela ao meu lado e sabendo do seu amor, eu poderia enfrentar qualquer batalha.

O trajeto até o hospital foi curto, mas tenso. Ava não percebeu o ponto que atingiu em nós dois quando se referiu a Daniel, minha mãe não escondia de ninguém a felicidade e satisfação pelo relacionamento dos dois. A parte mais complicada e frustrante era essa, esconder nosso amor da família, mentir e o tratar como um segredo imoral e ilegal; o que sentíamos era algo tão puro que não podia nem devia ser tratado naquela maneira, entretanto, nada podíamos fazer até meu irmão acordar.

Ao chegarmos no lugar, parei o carro na entrada do prédio para facilitar o desembarque do meu anjo. Minha mãe saiu logo e tratou de ir agilizando a parte burocrática da consulta, enquanto fiquei ajudando minha morena a sair do veículo.

— Está bem, amor? — Questionei baixinho enquanto transportava seu pequeno corpo para a cadeira de rodas, o que era a melhor das desculpas para tê-la em meus braços sem levantar suspeitas.

Hearts CollideWhere stories live. Discover now