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— Se alguém quiser desistir, esta é a hora — Adriana quebrou o silêncio dentro da van, interrompido apenas pelo som do motor ligado.

Estava sentada ao volante. Seus dedos, protegidos por uma luva negra, tamborilaram nervosamente no banco causando um barulho suave em contato com o forro e arrepiando sua pele. Vez ou outra, respirava fundo. Tentava ganhar uma coragem que não sentia, então liberava o ar de seus pulmões pesadamente, repetindo-se que o que estava prestes a fazer era um mal necessário.

— Não viemos até aqui para desistir — Rebeca afirmou. Estava sentada ao seu lado com uma expressão quase feroz na face alva e bonita.

Vê-la tão séria, era tão ou mais estranho do que se imaginar vivenciando aquele momento. Mas, não era só imaginação, estava mesmo acontecendo.

Seus olhos, de um tom verde e amarelado, se fixaram no retrovisor e capturaram o reflexo dos dois homens sentados no banco de trás. Não havia qualquer dúvida neles, iriam mesmo fazer aquilo. Rodrigo, o mais jovem entre eles, foi para a parte traseira do veículo e apanhou as mochilas que estavam largadas no piso; entregou-as a Chico que ficou com uma e repassou as duas restantes para Rebeca.

Os dedos de Adriana aumentaram seu ritmo, enquanto seu olhar vagava pela rua sem se prender a nada em especial. Registrou o movimento dos carros, as buzinas incessantes e o vai e vem de pedestres, até que o pousou sobre um casal que havia acabado de estacionar o carro um pouco à frente da van em que se encontrava.

Dedicou pouca ou quase nenhuma atenção ao homem, mas demorou-se a admirar a mulher vestida em um tailleur azul marinho cuja a saia, justa e um pouco acima dos joelhos, deixava à mostra pernas longas e definidas. Seus cabelos negros, cortados na altura dos ombros, balançavam ao sabor do vento de uma forma quase hipnotizante. Era linda. Enquanto seu companheiro se dedicava a pegar algo no banco traseiro do carro, a mulher se voltou para a van, avaliando com cuidado as duas ocupantes nos bancos da frente. Seus olhos percorreram o rosto de Rebeca, mas não se demorou mais que um segundo, então saltaram para Adriana e encontraram os desta ao mesmo tempo em que deixava um sorrisinho sedutor se formar na boca carnuda e vermelha.

Um sorriso cativante e muito atraente que desapareceu no segundo seguinte quando o homem tomou sua mão e seguiram seu caminho.

Adriana ainda se demorou a admirá-la por alguns segundos, então voltou seu rosto para Rebeca que ergueu uma sobrancelha, contrariada, mas nada disse e ela se sentiu grata por isso. Não era o momento para discussões do tipo, principalmente, porque não havia razão para tal. Deixou um suspiro cansado escapar, então passou a mão pelos olhos afastando a imagem daquela estranha e apertando o volante com força sob o peso da ansiedade que sentia.

Rebeca pousou a mão em seu ombro pressionando-o levemente e Adriana pôde sentir o quanto ela estava trêmula, embora nada demonstrasse em sua face. Ela concentrou-se no relógio em seu pulso e seus lábios contraíram-se rapidamente.

— Está na hora — informou em um sussurro e escorregou uma mecha de fios loiros para trás da orelha, colocou a máscara negra de lã que deixava apenas seus olhos visíveis e foi imitada pelos dois rapazes no banco de trás.

O ar-condicionado da van estava ligado no máximo, mas Adriana sentia o suor escorrendo por sua fronte, tamanho era o seu nervosismo. Fez uma oração silenciosa, enquanto observava o vento brincar com as folhas de uma árvore próxima, erguendo as que estavam caídas em um redemoinho fraco. Por fim, também colocou uma máscara semelhante as dos demais.

Seus dedos longos, envolveram o cano da arma que repousava em seu colo e, apesar das luvas, pôde sentir o frio do metal. Verificou as balas pela última vez àquele dia, ligou o motor e saiu do veículo.

A porta fechou com uma batida forte, assim como seu coração batia naquele momento decisivo e caminhou com passos apressados para o banco que se agigantava diante de seus olhos.

Nada a impediria de cumprir o seu objetivo.

Reféns do DesejoWhere stories live. Discover now