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— Não pode ter caído nessa historinha!

— Não caí.

Bianca encarava-a com uma fisionomia grave, então dedicou sua atenção para Adriana. Ela continuava sua caminhada intensa diante do carro, vez ou outra, lançando olhares preocupados para as duas.

A ex-refém foi até o carro, curvou-se e enfiou metade do corpo para dentro dele através da janela aberta. Retornou para junto da amiga segurando uma fotografia, o que gerou algumas rugas na testa da criminosa que estacou com dentes trincados.

— A menina existe e está morrendo — ela entregou a foto a Silvia, que a olhou com um sorriso cético.

— É apenas uma foto. Uma olhada rápida na internet e encontrará milhares como esta.

As mãos delicadas da moça envolveram seus braços como garras. Falava baixo, mas com tanta veemência que os olhos azuis da ex-policial se abriram mais, surpresos pelo rompante.

— Eu estive no hospital; a conheci e nunca me senti tão inútil quanto naquele momento. Você entende? Isso não é um dos meus caprichos! Estou falando da vida de uma garotinha. Não estou justificando o que ela — apontou para Adriana — e os amigos fizeram, mas não nego que se estivesse em seu lugar e esta fosse a única opção que se apresentasse para salvar a vida da minha filha, não mediria esforços, nem teria escrúpulos!

Em todos aqueles anos em que se conheciam, Silvia jamais a viu falar com tanto calor e emoção sobre algo, mesmo assim, ainda se apegava a descrença. Era tudo um grande absurdo.

Livrou-se das mãos que a aprisionavam, escondendo o rosto entre as suas próprias mãos por alguns segundos.

— Céus! Não consigo acreditar.

Deu um passo atrás.

— Quem é você? A Bianca que conheço é um poço de egocentrismo, jamais se arriscaria dessa forma por uma criança estranha. Ainda mais uma que saiu de uma história que parece enredo de novela mexicana!

Uma careta desfigurou o rosto moreno. Ela entendia a descrença da amiga. Como falou para Adriana, escondia-se das pessoas por trás de uma máscara de indiferença e frieza. Era natural a surpresa de Silvia.

— Você não me conhece tanto quanto pensa — pronunciou, amarga.

Chegou à conclusão de que em 24h, Adriana conheceu muito mais de seu caráter e sentimentos, que a sua melhorar amiga e ex-namorada com a qual convivia há mais de vinte anos.

— Acha que não entendo o que meu pai fez quando me sequestraram na adolescência? Pensa que não compreendo o que ele está fazendo agora? Ele me ama. À sua maneira, ele me ama e, como pai, está fazendo o que pode para me proteger. Mas isso não significa que devo concordar com as atitudes dele ou as suas.

Abraçou-se por alguns instantes, mirando a mulher para quem tinha se entregado de forma tão intensa e, por um breve momento, pegou-se a desejar estar abrigada entre seus braços novamente. A necessidade de estar com ela, em tão pouco tempo, era assustadora.

Riu com uma breve expressão de desgosto.

— Você sabe que não sou uma pessoa facilmente manipulável.

A contragosto, Silvia concordou. Bianca só fazia algo se fosse da sua vontade.

— Sua consciência, até entendo. Mas e aquele beijo? Por favor, não me diga que foi para ajudar a pobre mãe bandida e sofrida também. — Aquele era o ponto que desejava tocar desde o início.

Reféns do DesejoWhere stories live. Discover now