4.

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Um tiro atingiu a parede diante dela.

Bianca encarou o orifício que ele deixou, notando o quão próximo de seu corpo passou, já que se alinhava perfeitamente com sua sombra. Seu movimento ficou congelado no ar, a barra que segurava parecendo duas vezes mais pesada do que realmente era. Respirava entrecortadamente, sentindo o sabor do próprio sangue na boca, resultado de um soco. Seu coração batia acelerado como se tivesse acabado de correr uma maratona.

Aguardou o próximo tiro, àquele que ceifaria sua vida, mas ele não veio. Então, um pouco trêmula, se voltou devagar para se deparar com a visão da atiradora, que se encontrava parada no meio do galpão, a arma firmemente apontada para ela, embora estivesse um pouco esbaforida.

— O próximo será na sua cabeça — ela avisou, os belos olhos frios, como o metal da pistola que segurava.

O brilho ameaçador da luz que refletia no cano prateado da arma, convidava Bianca a desafiá-la, mas algo lhe dizia que aquela era uma mulher que não jogava palavras ao vento e teve certeza de que ela a mataria, se necessário.

Baixou o olhar para o homem em baixo de si. Pressionava o peito dele com o joelho, colocando todo o seu peso naquele local, dificultando sua respiração.

— Solte a barra.

Bianca obedeceu, atirando o objeto alguns metros adiante e o bandido em baixo dela gemeu em busca de ar. Drica se aproximou com cautela, até parar do seu lado. Os lábios grossos comprimidos em uma expressão que, Bianca imaginou, era o mais próximo do ódio que aquele belo rosto poderia chegar.

Gesticulou, ordenando que saísse de cima do parceiro. Chico tossiu algumas vezes, recuperando o oxigênio e se colocou de pé com esforço. Manteve-se curvado, as mãos apoiadas nos joelhos e os olhos, lacrimejantes, fixos no vazio. Estava vermelho e com veias saltitantes, mas, fora isso e alguns arranhões, encontrava-se perfeitamente bem.

Adriana apanhou as duas armas no chão e as colocou na cintura; a dureza e o frio do metal incomodaram sua pele, mas sua face era uma máscara sem sentimentos. O peso delas fez sua calça deslizar alguns centímetros, revelando um abdome definido, onde parte de uma tatuagem em seu quadril ficou visível.

Manteve o olhar fixo em Bianca, enquanto se ajoelhava e examinava Rebeca, sentindo um grande alívio ao descobrir que estava apenas desmaiada, assim como o irmão. Escorregou os dedos, carinhosamente, pelo cabelo dela, verificando a ausência de uma ferida aberta e sangue, então voltou a ficar de pé.

— Vá pegar uma corda — ordenou a Chico.

Ele tossiu mais algumas vezes e se pôs ereto. Estava, visivelmente, envergonhado por ter sido vencido tão facilmente e, também, aliviado, pela chegada de Adriana ter impedido que fosse espancado e, talvez, morto. Ajeitou a camisa empoeirada, que exibia nodoas de suor, e notou que alguns botões tinham sido arrancados durante a briga, então mancou em direção ao carro, sem olhar para trás. Escondia um sorriso estranho, enquanto pensava no quanto àquele dia estava se tornando estranho.

— Uma corda boa e resistente — Adriana enfatizou, tentando aplacar um pouco da raiva que sentia.

Bianca a fitava o mais friamente possível, recusando-se a sentir qualquer coisa que não fosse ódio e raiva de si mesma por ter sido pega novamente. Tinha arriscado sua liberdade e perdera.

Quase teve vontade de rir, imaginando o que o pai diria se estivesse ali. Provavelmente, escarneceria de suas escolhas e lhe atiraria algumas verdades na face. Verdades, as quais ele se achava dono. Com certeza, a acusaria de ter pecado por excesso de confiança, o que não deixava de ser verdade.

Reféns do DesejoWhere stories live. Discover now