8.

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Bianca estava, novamente, por cima de Adriana. Mas, desta vez, era ela a salvadora.

Podia ter ficado quieta, seria tão simples. Fácil.

Tudo o que tinha de fazer, era esperar que aquele ponto de luz verde, que se infiltrava através da janela e tremia levemente no peito da sua sequestradora, se tornasse um orifício vertendo sangue e roubasse sua vida e o último suspiro.

Era uma questão de segundos e os contou mentalmente, com o coração acelerado e uma vertigem a lhe tomar o corpo.

Mirou tudo em seu campo de visão, na esperança de fugir à aparição da morte. No entanto, seus olhos teimavam em retornar para ela que a fitava destemida, carregada de ódio e paixão, que se misturavam na dor que suas palavras lhe infligiram. As íris amareladas brilhavam com mais intensidade pelas lágrimas que não ousaram cair e Bianca recordou o modo carinhoso com que tinha falado da filha e o jeito gracioso com que seus lábios se curvaram em um sorriso quase tímido ao pronunciar o nome da menina.

Mais um segundo e tudo estaria acabado.

Contudo, se permitisse que aquela situação terminasse daquela forma, jamais seria capaz de voltar a se olhar no espelho. Não importavam os reais motivos que levaram aquela mulher e amigos a cometerem aqueles crimes, deixar que morresse daquela maneira só a faria se sentir igual ou pior que o homem que estava prestes a puxar o gatilho, escondido na mata.

Com um safanão, afastou o braço que empunhava a arma para o lado e jogou-se sobre ela. Caíram, quase abraçadas, no exato instante em que uma bala rasgou o ar frio daquela noite enluarada e alojou-se na parede diante da qual tinham estado.

Drica tentou empurra-la no segundo seguinte ao tocarem o chão e preparava-se para alvejá-la com um soco quando grãos finos de areia caíram sobre sua face. Notou o buraco na parede e o ponto verde que se movimentava sobre ela sentindo os músculos se retesaram de pavor.

— Fique abaixada — Bianca ordenou e rolou para o lado, mantendo-se agachada e longe do alcance da visão do atirador.

Ainda com as costas grudadas no chão, Drica falou:

— Que merda! Você não estava brincando.

— Nunca brinco quando o assunto é a morte — sentou-se junto à parede, recuperando sua confiança e arrogância, enquanto a via engatinhar na sua direção e se posicionar embaixo da janela.

Drica retirou o pente de balas do bolso e colocou na arma sob o olhar curioso dela.

— Sério?!

— Pensou mesmo que ia ficar com uma arma carregada com você solta?

Bianca ergueu as mãos, espalmadas para o alto, e balançou os ombros dando a entender que "sim".

— Você nocauteou o meu irmão duas vezes, os meus amigos também, sem falar que quase me estrangulou. De jeito nenhum deixaria uma arma carregada ao seu alcance.

— Não sei se fico com raiva ou lisonjeada.

A sequestradora arriscou dar uma espiadela através da janela, tomando o cuidado de não se expor demais e ser alvejada. Tudo que via era a noite e a copa das árvores tocadas pela luz do astro no céu negro.

— Desista — Bianca recomendou com voz baixa, quase sussurrada. — Não é páreo para eles e, quanto mais rápido fizer isso...

— Mais rápido morrerei?

Os olhos negros como carvão semicerraram-se.

— Você mesma disse que eles querem sangue. Me render significa apenas caminhar mais rápido em direção ao fim — olhou-a em desespero, amaldiçoando a ideia de ter-lhe sequestrado, tentando encontrar uma rota de fuga, mas nenhuma das alternativas em que pensou se oferecia adequada e o fato de não saber quantos inimigos as cercavam, tornava tudo ainda mais angustiante.

Reféns do DesejoWhere stories live. Discover now