Quando?

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Ela não aguentou. Não o ligou.

Mas depois...

"Hum... Só uma espiadinha..."

Ligou-o. Sua digital funcionou. Mas não havia nada lá. Nada de fotos. Sem redes sociais. E contatos, três: "Pai, Mãe, Meu Namorado." O que era aquilo? De onde ela arranjou um namorado?

Não haviam redes sociais. Não havia internet. O que era aquilo?

— Vai dormir, menina! — outro grito daquela mulher desesperada. Como se suporta algo assim?

Ela travou a mandíbula em ódio. Tirou a coberta do rosto e de um braço e bateu o celular na escrivaninha, não com tanta força a ponto de quebrar, e se cobriu inteira novamente.

O calor chegou, e ela, com suas mãos, com um movimento de uma ratoeira prendendo sua presa, trouxe as pontas do cobertor até o quadril. O calor a irritava e a noite se tornava interminável.

Olhava para o teto em descaso, com tédio. A claridade dos postes iluminava o teto branco de seu quarto e ela via tudo em quase plenitude. Sua atenção e falta de sono a impediam de dormir. O celular estava ao seu lado... Ela o pegou novamente. Olhou direito dessa vez, mas continuava sem nada.

Ela não conseguiria dormir.

Ela tinha uma opção interessante. Analisou-a com cuidado e se decidiu. Sim.

Levantou, tentando ao máximo não fazer barulho em nada, nem ao respirar. Foi até o armário. A porta que havia aberto antes só guardava roupas íntimas e pijamas, se lembrou. Então foi em direção à outra, que estava trancada.

"Que inferno de família é essa?", se perguntou, com indignação e ódio latejando na cabeça. "Se eu de fato vivia aqui antes, por que não se preocupam em me dizer o que está acontecendo ao invés de me trancarem nesse absurdo de lugar? Eu não sou livre para me vestir? Para falar com alguém?"

"Não", uma voz surgiu na sua mente. A mesma voz que sua própria mente tinha, coincidentemente.

"Ótimo, agora falo sozinha."

"Pensa, na verdade."

"Além de louca, eu sou insuportável."

Cansada de si mesma, resolveu ir até sua escrivaninha ver que comprimidos eram aqueles.

O barulho do plástico da cartela fez um barulho impensável.

"Miséria!". E ainda com raiva, descobriu que era um remédio para dores de cabeça e dores no corpo. Dizia tanto quanto o celular inútil e suas roupas da última moda.

Jogou seu corpo sentado na cama, decepcionada. Deitou novamente sob as cobertas e voltou a olhar o teto branco. Estava ficando agoniada. Já era tarde, ela sentia isso. Então virou-se de lado na cama e tentou dormir. Com sucesso dessa vez.

AcordadaWhere stories live. Discover now