Capítulo 24 - Nenhuma novidade

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O despertador tocou

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O despertador tocou.

Levantei da cama atrapalhada, ainda colocando os pensamentos em ordem. O dia inteiro havia sido o mais diferente da minha vida inteira. Tive que aprender a deixar Ícaro numa creche e ficar longe dele por algumas horas (o que foi absurdamente dolorido), como também foi a primeira vez em que trabalhei de verdade, como uma adulta.

É claro que tudo depende do que você chama de "trabalho de adulto". Divide, a empresa de tecnologia do Bob, cumpria todos os pré-requisitos de uma startup moderninha, incluindo sala de videogames, pessoas andando de patins dentro do escritório e uma total falta de compromisso com os horários.

Minha mãe ainda dormia. Eu me arrumei silenciosamente, tomei café da manhã e só então acordei o meu filho para repetir o mesmo processo com ele. Ícaro chorou muito, não estava habituado a acordar cedo. Isso vai ter que mudar.

Assim que abri a porta e coloquei os pés na rua, tomei um susto.

Sim.

Lucas ainda estava lá.

Sentado exatamente na mesma posição em que o observei durante a madrugada, ainda encharcado da chuva da noite anterior.

— Eu falei que não iria sair daqui até você me ouvir — ele disse.

Bufei. Não queria deixar transparecer o quão impressionada estava.

— Ok, talvez nós possamos começar a pensar em alguma maneira de você passar algum tempo com o Ick.

— Sério? Você não vai se arrepender!

— Calma lá! Pode ser um período de teste para começar. Você pode vir um fim de semana por mês aqui em casa.

— Por mim, ótimo.

— Se tudo caminhar bem, pensamos em aumentar a frequência e ele passar um final de semana na sua casa. Mas eu não prometo que isso vá acontecer um dia!

— Eu não vou te decepcionar.

— E se acontecer, isso vai ser bem no futuro!

— Eu espero, não tem problema.

— E não sei se você lembra, mas existe uma coisinha chamada...

— Pensão! Eu sei! Vou falar com o meu advogado hoje mesmo para acertarmos isso.

— E se você vacilar, fizer algum mal ao Ícaro ou fazê-lo se apegar a você para depois sumir, pode ter certeza absoluta que eu vou te caçar até o inferno e te matar com as minhas próprias mãos.

— Eu sei do que você é capaz Jéssica... — Ele olhou para o Ícaro, que estava em meus braços. — Eu... Seria pedir demais... Eu posso tentar segurá-lo?

— Não.

— Posso pelo menos encostar nele?

Assenti com a cabeça meio a contragosto.

Lucas se aproximou lentamente, estendeu a mão e afagou a cabeça do nosso filho, fazendo carinho com excesso de cuidado, como se o menino fosse quebrar. Ícaro agiu como se nada estivesse acontecendo e nem ao menos olhou diretamente para ele, mas isso não impediu Lucas de abrir o maior sorriso do mundo.

— Ele é tão lindo — disse.

— Você está chorando?

Era verdade. Lucas deixou fios de lágrimas escorrerem pelo seu rosto.

— Eu só estou muito feliz.

— Que seja. Preciso ir andando, senão vamos atrasar para o horário de entrada da creche.

— Eu posso levar vocês de carro, se quiser.

— Não abusa da sorte, moleque.

Entrei no ônibus sentindo a adrenalina descarregar hormônios em mim. O que acabou de acontecer? Eu REALMENTE dei uma segunda chance ao LUCAS?

A imagem dele chorando ao tocar no Ick foi poderosa de várias formas diferentes. Não teria como alguém simular algo assim. Eu precisaria dar o braço a torcer e ver como aquela história iria acabar.

O celular vibrou, era uma mensagem do meu amigo Ick. Ele enviou uma foto abraçado com uma moça ruiva e atraente. Ambos sorriam e pareciam muito mais jovens do que eu, mesmo sabendo que provavelmente temos a mesma idade.

"Estou namorando", dizia a legenda. "É aquele menina que te falei da outra vez, a Elena".

"Já começou a esquecer de mim?", mandei de volta.

"Jamais", ele respondeu. "E você, tem alguma novidade?".

Eu tinha a maior novidade de todas. Ick sabia da minha história com o Lucas e como me pesa ter que reatar contatos com ele. Fiquei imaginando como Ick reagiria se eu contasse a verdade.

"Nenhuma novidade", respondi.

JÉSSICA - MÃE AOS DEZESSETE (HISTÓRIA COMPLETA)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora