CAPÍTULO 23-FELIPE TEM QUE IR PRA CASA DE SARA

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_O senhor estava certo: o nariz e o pulso estão fraturados._informou o médico de plantão.

_Droga!_Luís passou as mãos pelos cabelos.

Estava em frangalhos, pois já era  de manhã, quando vieram dar notícias do primo.

_Terá de ficar internado?

_Não. Fizemos todos os exames e parece que não é nada mais grave. Assim que terminarmos de engessar, poderá levá-lo para casa. Não se preocupe se ele ficar apagado pelo resto do dia, pois o remédio pra dor é muito forte. 

O médico se despediu. Luís ligou para um amigo da academia, avisando que não poderia ir na pescaria com eles.

Luís estava arrasado: como não percebera que era Felipe brincando com ele uma brincadeira que o próprio Luís inventara na infância dos dois?

_É o senhor quem está acompanhando Felipe Alvez de Azevedo?_perguntou uma enfermeira tocando o seu ombro.

Luís assentiu.

_Se quiser, já pode levá-lo pra casa. Ele já teve alta.

Alguns minutos depois, o capoeirista se viu sozinho com o primo que ele agredira.

Seguindo um procedimento padrão do hospital, Felipe estava sentado numa cadeira de rodas e, realmente, parecia sonolento, como informara o médico.

Luís ajudou o primo a se ajeitar no banco de trás.

Sentia-se um monstro ao vê-lo daquele jeito.

Assim que saíram do estacionamento do hospital, Luís finalmente decidiu pedir desculpas:

_Felipe, me perdoa. Eu não vi que era você, bebê.

Percebeu que ele estava dormindo no banco de trás.

Em casa, após ajeitar o primo na cama, Luís percebeu a bagunça que fizera e notou que havia sujado vários lugares de sangue: a porta da geladeira, paredes, o trinco da porta...

Viu que precisaria de ajuda, já que tinha que  limpar tudo antes que Felipe acordasse e também que não queria deixar Felipe sozinho.

Ligou para Toni e pediu ajuda. Ela chegou em poucos minutos.

_Mas que coisa, hein, Luís? Logo o Felipe! Meu Deus! Olhe o estado que o rosto dele ficou! Já te aviso pra esconder todos os espelhos da casa, porque se bem o conheço, se ele se vir desse jeito vai ficar arrasado._disse Toni assumindo o posto que Luís lhe dera ao lado da cama de Felipe.

_Nem me fale, Toni. Estou me sentindo um monstro, pode acreditar.

Assim que limpou tudo, Luís liberou Toni, que ficou de voltar à noite, com Sara, para visitar o amigo.

Eram quase sete horas da noite, quando Felipe acordou.

_Felipe... bebê...eu sinto muito..._sussurrou Luís se sentando ao lado dele na cama.

_A culpa foi minha, Luís. Queria te assustar como você fazia comigo, quando éramos crianças e nem medi as consequências do meu ato.

_É, eu adivinhei. Como se sente?

_Meio zonzo. O nariz dói...o braço dói...o que o médico disse?

_O nariz e o pulso estão quebrados.

_Ai, meu Deus...o salão estará cheio amanhã, Luís, e o pessoal está contando comigo._desesperou-se.

Luís notou que ele começara a chorar ruidosamente.

_Não dá nem pra chorar direito com este nariz quebrado._gemeu.

Mais uma vez, Luís se sentiu um monstro.

_Não se preocupe com o salão. Liguei pra lá e avisei o que aconteceu. Falei com um tal de Robertinho.

_Beleza. Obrigado. O Robertinho é gente boa. 

_Felipe, não se preocupe. Qualquer coisa, tenho algum ainda da venda do apartamento e dos móveis. Posso te ajudar se precisar de dinheiro, ok?! E vou te ajudar a comprar a bicicleta, tá bom?!

_Para com isso, primo. Você não teve culpa. Eu é que fui vacilão.

Um silêncio se fez por um momento.

_Ah! Toni e Sara já ligaram várias vezes. Elas querem vir te visitar.

_De jeito nenhum. Devo estar horroroso, já imagino. Não quero ver ninguém. Só saio dessa casa quando tirar tudo isso, Luís! _decretou._Como vou tomar banho deste jeito? Estou todo melado e fedendo de sangue.

_Eu te ajudarei, Felipe, não se preocupe. 

_Não precisa. É só ligar o chuveirinho que eu me viro.

_Por quê? Tá com vergonha de eu te ver pelado, primo? Deixa disso, cara!

_Tô pouco me importando se você vai me ver pelado, Luís. É que imagino como você deve estar exausto  por ter passado a noite comigo no hospital e ainda ter ficado aqui me vigiando até agora. Vejo como está abatido.

_Não se preocupe que eu dou conta de te ajudar. Preciso fazer algo para aliviar a minha culpa. Vamos?

Luís foi muito solícito e cuidadoso, Felipe reconheceu. 

Infelizmente, não conseguiu evitar que Felipe se visse no espelho e, realmente, se assustasse com a própria aparência.

Felipe viu o primo estendendo o seu colchão ao lado da cama dele e teve que admitir que ficou admirado com todo o esforço do primo  para deixá-lo mais confortável.

O cabeleireiro pensou que poderia existir um remédio que fizesse o tempo passar mais rápido, para acelerar o processo de cura. Estava se sentindo feio, desajeitado.

Os primeiros dias foram os piores, até que se acostumou com as novas limitações, mas reconhecia que o primo estava se esforçando ao máximo.

Luís conseguiu se afastar da academia durante três dias, mas, no quarto, reconheceu que precisava voltar e aí combinaram que Felipe não deveria ficar sozinho em casa.

Quando Sara e Toni vieram visitá-lo, ficou combinado que ele ficaria na casa delas, enquanto Luís trabalhava.

Com a presença de Felipe na casa, Toni teve que admitir que Sara não teve opção, a não ser voltar a conversar com ela.

Sem que Sara ouvisse, Toni sussurrou no ouvido do cabeleireiro:

_Te devo essa, Felipe. 

MEU PORTO SEGURO É VOCÊ-Um romance para gays e lésbicas-Armando Scoth LeeDonde viven las historias. Descúbrelo ahora