Capítulo 5

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Desci e fui ver como estavam os outros. No entanto, hoje, ao contrário de ontem, nem todas as gracinhas de Daphne, traquinagens de Colin ou descobertas de Benedict conseguiam tirar minha mente e meu coração de Anthony.

Ele desceu logo depois do almoço, usando uma roupa limpa. Eu estava sozinha na sala, bordando, enquanto as outras crianças descansavam.

Chegou quieto. Seus olhos castanhos fitavam os meus ainda ressabiados, na defensiva. Sorri para ele de forma tímida, mas carinhosa.

—Nós acabamos de almoçar. Você se alimentou ao acordar, meu filho?

Ele fez que sim com a cabeça.

— Quer almoçar?

— Não. A senhora queria falar comigo?

Fiz um gesto para que se sentasse no sofá, perto de mim. Ele obedeceu, com o jeito de animalzinho acuado ainda estampado nos olhos e nos movimentos do seu corpo.

— Anthony, eu gostaria de dizer que fiquei muito magoada com o seu comportamento de ontem.

Os olhos se encheram de lágrimas e acusações, como se dissessem: "e eu, não fiquei magoado com o seu?".

— Eu sei que você também está magoado pelo castigo. Mas se não fosse sua própria teimosia, ele poderia ter sido cumprido de uma forma um pouco mais suave. Ele só não poderia ter deixado de ser dado, pois, ao fugir do seu quarto ontem à tarde, você não apenas me desobedeceu. Sabe o que você fez?

Os olhos dele se apertaram intrigados. Eu prossegui:

— Você traiu minha confiança.

Ele não falou nada. Apenas abaixou a cabeça, fitando os dedos machucados.

— Eu achei que você estava em seu quarto. Mas você me enganou e foi andar a cavalo sozinho. E se você se machucasse?

—Isso não iria acontecer — murmurou ele. —Eu nunca caí de um cavalo.

— Mas poderia ter caído!

Ele ergueu os olhos das mãos para me fitar.

—Eu tomei cuidado. Sempre tomo.

— Anthony, essa não é a questão. A questão é que eu confiei em você. E fiquei muito, muito desapontada quando vi que você tentou me enganar.

Ele ficou em silêncio por alguns instantes.

— É por isso que você ficou tão zangada comigo?

—Fiquei zangada com você por várias razões. Mas, sim, esse foi o motivo principal. Entende?

—Entendo.

Ficamos em silêncio. Eu sabia que esse devia ser o momento em que ele me pedia desculpas. Nada. Nem uma palavra, embora parecesse desconfortável por ter traído minha confiança. De repente, ele ficou de pé.

— Posso ir até o lago?

—Nós ainda não acabamos nossa conversa...

—Pensei que já tinha terminado.

—... e além do mais, o que o senhor quer fazer no lago?

— Nada demais. Só estou cansado de ficar trancado em casa.

Ele estava com jeito de quem não estava falando toda a verdade. Adverti:

— Eu posso deixar você ir até o lago. Mas nem pense em entrar dentro dele.

O rosto dele se desanuviou.

— Ah, eu nem estava pensando nisso!

—Posso confiar em você dessa vez, Anthony?

Ele fez que sim com a cabeça.

— Então, vá. Mas não demore muito, está bem?

—Não vou demorar.

— E prometa que não vai entrar no lago.

— Não preciso prometer. Eu não vou fazer isso.

Fiquei curiosa sobre suas intenções, mas dei a ele um voto de confiança.

Mil vezesWhere stories live. Discover now