Capítulo 14

18.3K 1.7K 184
                                    

Talvez vinte minutos já tivessem se passado, mas quem se importava? No momento, tanto Flora quanto eu, estávamos digerindo tudo o que havia sido exposto. Eu, ainda tentava acreditar na nova Rafi ao meu lado, tão exposta quanto a própria estória dita.

— Mas... O que isso tem a ver comigo? – perguntei por fim.

— Nós também não sabemos, Rosalho. Eu não consigo entender porque você consegue ler o diário de Selena e... Não interprete mal minhas próximas palavras... eu não.

Assenti, preferindo o silêncio.

A mulher suspirou.

— Rosalho, tem certeza de que é isso o que você quer? Porque se a sua resposta for positiva, estarei abrindo uma exceção para você... Não por você, e sim, porque devo uma à Rafi.

Nesse momento, Rafi ergue a cabeça – até então abaixada – na direção da bruxa, sua expressão era dura.

— Não ache que estará me pagando algo. A vida da minha filha vale mais do que isso! – ela se ergueu – A minha filha foi...

— Isso não foi culpa minha, Rafi, e já passou do momento de entender! – ela também alterou seu tom – Selena escolheu o próprio caminho! Ela teceu o próprio destino!

— Isso nunca teria acontecido se...

— Se você não tivesse...

Fiquei de pé, entre as duas.

— CHEGA!! – vociferei – Selena está morta, e isso não é culpa de ninguém, além daquele lobo! Pensem! Vocês são mulheres racionais, e se ela escolheu pular do penhasco para não ficar com o lobo, então...

— Não quero pensar nisso agora. – disse Rafi, voltando a se sentar – Continue.

A mulher olhou novamente para mim. Levei alguns minutos para entender, e finalmente a compreendi quando ergueu a sobrancelha para mim.

— Sim, eu tenho certeza.

Outro suspiro.

— Depois diga que desconhece as consequências, Rosalho.

Concordei com a cabeça, em pura determinação.

— Infelizmente, a primeira é a mais fácil, mas não se aplica ao seu caso. Ela consiste na pessoa dizer seu nome completo e o de seu parceiro, dizer que não o quer, e pronto... A ligação só voltará se a pessoa que fez a rejeição quiser, mas como você está ligada ao Alpha, ele não pode ser rejeitado então... Ficamos com a segunda. Um feitiço às cegas, quebra de ligação das almas, mas, como já disse, se seus olharem se encontrarem, o feitiço é quebrado imediatamente e a ligação volta como um soco bem potente.

Assenti novamente.

— O que preciso fazer? – perguntei.

— Preciso de dois dias para reunir todos os materiais necessários. – respondeu – Farei uma poção, e quando a Lua estiver em seu ápice, você irá conjurar um feitiço. Te darei tudo o que for preciso, e você apenas falará.

A bruxa olhou para Rafi e então para mim. Se aproximou, arrancou a manta do meu corpo e lançou na lareira. O cheiro do tecido queimando logo chegou aos nossos narizes, o fogo crepitava alto.

— Nora! – advertiu Rafi.

— Não se preocupe. – pediu. Seguiu até sua cozinha – Vou preparar algo para que ele não a encontre, este trapo não estava funcionando do jeito que deveria. Ela ficará segura aqui, Rafi, confie em mim.

Rafi olhou para mim, depois para Nora e então para mim novamente.

— Sou diferente de Selena, Rafi. – garanti – Não se preocupe. Você confia nela?

— Para proteger uma pessoa? – Nora roubou a fala.

— Não. – Rafi afirmou determinada.

— Mas como bruxa... – A bruxa fez novamente.

— Sim. – Rafi opinou dubitativa.

— Graças à Grande Mãe, ela confia nas minhas habilidades. – disse Nora, abrindo os braços e encarando o teto – Então, acredite quando digo que irei protegê-la.

— Você quer ficar? – Perguntou tirando sua atenção da bruxa e focando em mim.

Concordei.

Com a expressão derrotada, ela se calou.

Vi um sorrisinho pontilhar o rosto de Nora.

Essas duas são complicadas...

— Acaba a discussão, eu preciso ir. – diz Flora – Rafi?

Ela concordou.

Se levantou ao mesmo tempo que Flora. Esta seguiu até a porta, enquanto Rafi me abraçava com força, demonstrando um certo afeto materno. Retribuí o abraço na mesma força.

— Fique bem, minha jovem. – pediu.

— Ficarei.

— Tchau, Rafi... – despediu-se Nora.

— Até.

Com isso, ambas se foram.

Voltei a me sentar, sem saber o que fazer ou falar.

— Está pronta. – avisou – Beba de uma vez e não reclame.

Ela me entregou uma caneca de metal, estava quente e uma sutil fumaça subia lentamente.

— Beba de uma vez, admirá-la não mudará sua essência!

Bebi em três goles. Era amarga, queimei a língua e fiz uma expressão insatisfeita.

— Argh! – soltei – Isso funcionou? Não me sinto diferente.

Ela sorriu.

— Se estivesse sentindo-se diferente, então significaria que a poção deu errado.

— Ah...

— Bem, terminamos por agora. – disse – Use aquele quarto, – apontou – sinta-se livre para usar a cozinha quando sentir fome, mas não mexa nas minhas ervas e nem em nada do tipo... Cuidado por onde anda e não me perturbe. Tenho dois ciclos para preparar tudo.

—  dois ciclos? - Perguntei confusa, me esquecendo completamente que os dias desse mundo são contados pelas temporadas da lua, ou seja, estou nesse mundo a mais ou menos dois meses.

— É quando será a próxima Lua Cheia.

Assenti novamente.

O que essa mulher faz, que me deixa sem palavras?

Ela olhou novamente, no fundo dos meus olhos, tão incisiva quanto antes. Sorriu.

— Acontece... – e saí.

Falou como se estivesse capitado os meus pensamentos.

Continuei pensativa, com o pressentimento que algo horrível aconteceria.

Olá meus amores, espero que tenham gostado desse capítulo. Até a próxima, e não esqueçam de votar e dizer vossa opinião.

Coração de Gelo - Meu DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora