Capítulo 37

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Trinta e Sete

Agora estou certa a morte está prestes a me encontrar.

No momento em que a carruagem foi jogada do penhasco, o meu corpo tombou para trás, me empurrando para dentro do coche e eu caiu de um mau jeito na parede da carruagem, fazendo com que minhas costas latejassem. Sequer deu tempo de reparar na dor que havia sentido, pois logo fui jogada para todos os cantos da carruagem. Fechei os olhos na esperança de que dessa forma, iria amenizar a dor da minha morte.

Puro engano.

Senti a carruagem tombando contra o chão do penhasco e descer ladeira a baixo, meu corpo ardeu e logo após isso não senti mais nada. Só me vi rolando cada vez mais ladeira a baixo, como se a mesma não tivesse fim, com um único pensamento em mente:

"Por favor, salve o meu filho."

Depois desse pensamento tudo escureceu e não vi mais nada.

§

A primeira coisa em que notei assim que abri os olhos, foi o céu noturno. Tentei puxar pela minha mente e identificar o local onde estava, porém até o momento, tudo o que consegui identificar é que estou coberta de lama, não consigo mexer meu corpo e parece que levei uma anestesia. Porém, por mais que não conseguisse mexer todo o meu corpo, ainda assim sinto dores fortes na barriga, o que me deixou preocupada.

Tentei me sentar, e mesmo com dificuldade e com as dores intensas em meu abdômen, consegui fazê-lo depois de algumas tentativas.

Olhei ao redor, parece que estou em uma floresta com muitos arbustos e árvores. Podia ouvir os barulhos de corujas e outros animais que rondavam a noite. Novamente, olhei para o céu, este que estava nublado demonstrando que a qualquer momento viria uma tempestade.

Mais uma coisa com a qual me preocupar.

Não consegui pensar em mais nada, pois logo comecei a sentir fortes contrações. Meu olhar dirigiu-se até a minha perna e vi que meu vestido está banhado em sangue.

Outra contração.

Mais outra.

Outra.

Não conseguia aguentar muito mais, parecia que todo o meu corpo estava em pedaços, e como se o fato de estar perdida no meio de uma floresta já não bastasse, estou em trabalho de parto, toda ferida e não entendendo como estou viva após cair de um despenhadeiro.

O som de uma trovoada retumbou, rasgando o céu e então senti gotas de chuva no meu corpo, estas que engrossavam cada vez mais e mais.

Era só o que me faltava.

Não tive tempo para pensar em mais besteiras, pois senti uma contração que parecia algo tentando arrombar o meu útero. Tentei me levantar, mas não consegui. Me lembrei que as mulheres grávidas cada vez que sentem as contrações faziam força para o bebê sair e foi isso que fiz, todavia parece que quanto faço mais força a dor aumenta.

— Por favor alguém me ajude! – Tentei gritar com a pouca voz que tinha.

A dor só fazia aumentar e nada do bebê nascer. Não aguento mais fazer tanta força e, para piorar a minha vida, a chuva piorou, aumentando a minha aflição.

— Alguém? – Mais uma vez tentei chamar, mas minha voz saiu em um sussurro.

Não sei porquê estava tentando chamar alguém, pois quem estaria no meio da floresta na noite e ainda mais em meio a uma tempestade?

Após várias contrações, finalmente ouvir um chorinho.

Me esforcei ao máximo para me curvar em meio a dor e pegar o meu bebê do chão.

Ele era tão pequeninho, tão frágil e cheio de sangue e ao olhar com um pouco mais de atenção pude perceber que era uma menininha ainda indefesa. Ouvir seu choro desesperado, me partiu o coração e a apertei junto ao meu peito para tentar protegê-la pelo menos da chuva que caia.

Minha filha, minha menininha — pensei para comigo.

— Por favor meu Deus, preciso que alguém me ajude, socorro! – Implorei e não faço ideia de como isso aconteceu, mas após eu falar isso, o meu colar se iluminou como uma luz na escuridão.

Afastei meu bebê do colar e rezei para que alguém percebesse a luz que emanava do meu colar.

Depois de algum tempo, já não aguentava mais com a dor e a minha filha não parava de chorar, o que me deixava ainda mais angustiada, minhas forças começam a ir embora. Meus olhos não conseguem mais se manter abertos, no entanto, ao longe, era possível ouvir o som de passos se aproximando, antes que meus olhos finalmente cedessem e se fechassem por inteiro.

§

Não consegui abrir os olhos, mas pude sentir que o meu corpo quente e em uma superfície macia. Com um pouco de dificuldade abri os olhos, e me deparei com um teto forrado por madeira. Cuidadosamente, me sentei na cama com muitas dores e dificuldade, e olhei ao redor analisando o ambiente. Nessa pequena avaliação, pude notar que estou em um quarto com madeiras na parede, havia também objetos simples, aparentemente feitos a mão com tronco de árvores. O quarto era bem rústico, mas é bem confortável. Não reparei em nada mais que compunha o lugar em que estava, pois um senhor entrou no quarto com o meu bebê no colo.

— Parece que a mamãe acordou. – Disse se aproximando de mim e mim entregando minha filha.

Olhei para a bebê no meu colo, reparando em cada traço de seu rosto gordinho. Ela possuía um pequeno nariz como o meu, e o desenho da minha boca, já seu queixo era como o de Bromo e havia herdado também a sua pele branca de cadáver, combinando perfeitamente com os seus cabelos cor de ébano como os meus.

Olhei para o homem em minha frente, que me encarava sorrindo sem mostrar os dentes.

Ele é branco, com cabelos grisalhos em sua maior parte e apenas alguns fios loiro-escuros, seus olhos castanho-escuros, porém seu corpo é magro e com um tamanho mediano para os homens desse mundo.

— Quem é o senhor? Por que estou aqui? Como vim para aqui. – Perguntei com um pouco de receio de quem ele poderia ser.

— Não precisa temer, não irei fazer mal a você e nem para a sua filha. Meu nome é Juan e sou um carpinteiro. Estamos na floresta. Te encontrei no meio da mata desmaiada com seu amuleto brilhando, foi assim que consegui achar vocês.

Falou me deixando surpresa, então esse amuleto me ajudou, através dele esse homem me encontrou. Ia continuar a fazer perguntas ao homem, quando o bebê acordou e começou a chorar.

— Ela deve está com fome, só conseguir fazer beber um pouco do chá que fiz. Foi difícil fazer essa bênção dormir. – Informou dando um pequeno sorriso para a bebê no meu colo.

— Obrigada por me trazer aqui, e cuidar de mim e dela. – Agradeci tentando segurá-la, pois ela está se mexendo muito.

— Dê de mamar a ela, quando acabar me chame para retomarmos a nossa conversa. – Disse e saiu do quarto.

Olhei para a roupa e reparei que estou com outro vestido muito confortável, nem vou pensar sobre isso, vou me privar do vexame.

Abaixei a manga do meu vestido e tentei colocar o bico do meu peito na boca da minha filha, após um tempo ela pegou o jeito e sugou o meu seio com vontade. No início, doeu um pouco, mas depois passou. Acariciei os cabelos pretos do meu bebê, ansiosa para ela abrir os olhinhos, para que eu possa ver a cor deles.

A QUI ESTÁ MAIS UM CAPITULO, ATÉ A PRÓXIMA. NÃO ESQUEÇAM DE COMENTAR E VOTAR. TCHAU TCHAU.

Coração de Gelo - Meu DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora