2| Harriet Callahan

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21 de novembro de 2020, Lorenburgh, EUA
04:00 p.m.

A respiração escapa com força por meus lábios ao encarar a parede pintada de azul claro

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A respiração escapa com força por meus lábios ao encarar a parede pintada de azul claro. Suspiro mais uma vez, e se Amber estivesse aqui, teria reclamado da minha frustração aparente. Os olhos recaem na caixa parcialmente aberta, os envelopes pardos parecem zombar das minhas emoções. 

— Queria ter coragem o suficiente para jogar todas essas cartas estúpidas no fogo — falo para o silêncio incômodo presente no quarto. 

Não lembro ao certo o momento exato que surgiu a vontade de escrevê-las, contudo, imagino que naquela época a intenção era enviá-las. Embora a vergonha tenha vencido a batalha, continuei escrevendo a cada ano que se completou desde que ele foi embora. Cada carta foi escrita com a mais pura emoção, e o que restou do meu coração parece estar dividido entre essas cartas. Se alguém de fora escutasse essas palavras poderia me rotular como dramática. 

— Inferno, estou parecendo uma adolescente com esses pensamentos, e não uma mulher de vinte e quatro anos.

Levanto da cama rumo ao banheiro, ao apoiar as mãos na pia e encarar o reflexo no espelho, quase não reconheço a mulher refletida. Meus olhos castanhos possuem certa frieza, esse surgimento, devo culpar os meus atos impensados. Todos os dias acabo por me martirizar pela escolha errônea de seguir o caminho da mentira. Como se fosse um disco arranhado, fragmentos daquela conversa surgem na minha cabeça. 

— Estou namorando. — A mentira escapou como um sopro, e ao ouvir o seu xingamento ergui a cabeça. 

— O que você disse? — questionou devagar, como se assim estivesse tentando domar a raiva e dor que brilhavam em seus olhos. 

— Estou namorando, Nathan. Por isso estou estranha, o conheci há pouco tempo e gosto muito dele. Estava com receio de contar, mas como você insistiu em saber o que está acontecendo comigo...

Mais uma vez reitero as palavras que escrevi na última carta: Se arrependimento matasse, imagino que teria morrido assim que abri a boca para dizer essas palavras. 

Os anos se passaram lentamente, cada dia que se passou considerei como se fosse um tipo diferente de tortura. Por vezes, lembrava dos bons momentos  nos quais vivenciei na companhia de Nathan, e em outras vezes, parecia estar revivendo aquela maldita despedida no aeroporto. 

Contudo, não posso dizer que nesses sete anos apenas o sentimento ruim habitou em meu peito. A felicidade em alguns momentos conseguiu escapar das correntes criadas pela mentira, e assim pude ser feliz na companhia de pessoas queridas. 

Sempre te Amei (Noveleta) | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora