Capítulo Cinco

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                      Nickolas













Um filho.
Parecia uma piada.
Eu não queria um filho. Nunca quis.

Fechei os olhos, sentindo o líquido queimar minha garganta.
Mais um motivo para o Jeremy me chamar de irresponsável, e dessa vez o maior deles.

Isso não podia estar acontecendo.

- Nickolas?

- Me deixa em paz, Matthew! - gritei exaltado.

- Precisamos conversar.

Sorri com escárnio por ouvir ele usar as palavras preferidas de Jeremy.

- Você não tem nada a ver com isso! - sibilei.

- Nickolas, é um filho seu! Como pode ignorar isso?

- Já falei que pode não ser meu...

- Você tem certeza disso? Realmente você acha que a Evelyn ia mentir sobre isso? - percebi seu ceticismo.

- Eu não sei nada sobre ela. Foi apenas uma noite. Bebemos um pouco e... - esfreguei o rosto.

- Então, existe a possibilidade de ser seu. Não vire às costas para essa criança.

Virei, o encarando com firmeza.

- Você acha mesmo que ela merece tanta confiança?

- Acho. - respondeu sem titubear.

Voltei a encarar as luzes piscando, embaçadas pela fina garoa que caía lá fora.

- Jeremy vai me dilacerar quando souber disso. - murmurei sob a borda do copo.

- Ele não vai se você fizer a coisa certa. Se você agir com a responsabilidade que eu sei que tem, ele não vai ter nada do que falar. - apertou meu ombro.

- Pode ser... - devolvi o aperto, sentindo o medo recuar um pouco. - Sendo assim, acho que a viagem para Londres será cancelada não é mesmo?

- Não, ainda acontecerá. Só que dessa vez teremos mais uma companhia. - sorriu e eu bufei.

- Você não ta querendo dizer que a Eve tem que ir conosco né?

- É exatamente isso.

- Ah, qual é, Matt? Vai querer me casar as pressas com ela também?

- Nickolas, se ela é a mãe do seu filho, ela precisa estar onde você está.

Bati o copo com força sobre o balcão.

- Só me faltava essa... - resmunguei.

- Você viu que ela não tem a menor condição de criar esse filho sozinha, Nickolas. Será melhor pra ela e para o bebê, morar com a gente.

- Você quer dizer, até essa criança nascer não é?

Ele soltou um suspiro cansado.

- É, que seja. Mas até lá, ela ficará sob nossos cuidados e depois... Depois veremos um jeito de todo mundo sair ganhando.

Respirei um pouco mais aliviado.

- Sendo assim, tudo bem. Eu aceito essa criança.

- Acho que você deve desculpas à Evelyn.

- Ela vai entender que foi uma reação involuntária ao choque que a notícia me causou.

- Ela não me parece ser uma mulher que confunde idiotices com "reações involuntárias", Nickolas. - zombou.

Sorri lembrando que ela tinha mesmo uma língua afiada.

- Tem razão. Vou tentar, se ela quiser me ouvir ainda.

- Se falar com jeitinho, quem sabe...

- Matthew, você está cada vez mais chato. - reclamei brincando.

Ele sorriu e me acompanhou num brinde.

- Tudo pela família, irmão.

Concordei, sentindo minha admiração por ele aumentar ainda mais. Talvez se eu tivesse me espelhado nele, meu pai me olhasse de uma maneira diferente. Quem sabe até ele me amasse de verdade...







                              ...








As semanas seguintes foram de intensa preparação para a nossa volta à Londres. Tudo que eu não queria era ter que voltar para aquele lugar, e ainda mais com uma mulher grávida de um filho meu.
Matthew passou os últimos dias tentando convence-la a ir com a gente, mas ela estava irredutível. Eu ainda não tinha ido lhe pedir desculpas, e confesso que estava torcendo para ela não aceitar mesmo. Assim facilitava as coisas pra mim.
Não tive tanta sorte, porque à noite, Matthew chegou dando a notícia de que ela enfim tinha aceitado nossa proposta. Que aliás, era só dele, eu continuava achando isso desnecessário.

- Ela deixou claro que só faria isso pela criança, Nickolas. - falou arrumando suas malas.

- Ótimo.

- E que continua achando você um babaca. - me olhou sorrindo.

- Bom. - cuspi irritado. - Eu também ainda a acho uma aproveitadora. - Matt me olhou irritado.

- Não devia falar dela assim. Ela não é a única culpada nessa história.

- Eu tampouco. - resmunguei, me afastando.

Sua mania de defender a Eve com unhas e dentes estava me enervando.

- Amanhã vou leva-la para comprar algumas coisas para a viagem. - falou prestando atenção em sua mala sobre a cama.

Revirei os olhos, virando o restante do conhaque de uma só vez.

- Você devia parar de beber assim. - me olhou de esguelha.

- Você devia parar de querer me dizer o que fazer. - retruquei, voltando a me irritar.

Ele levantou as mãos, em sinal de rendição e voltou a organizar seus pertences.

Horas mais tarde, eu ainda não tinha conseguido pegar no sono, e minha mala estava bagunçada aos pés da cama.
Eu não queria ir...
Suspirei, esfregando o rosto com irritação e encarando a escuridão quase total do quarto, a não ser pelas luzes que brilhavam lá fora e refletiam na vidraça da minha janela.

Seria uma batalha diária contra Jeremy. E eu precisava de forças.









                          ...









- Que cara é essa? Não dormiu?

Tomei um gole de suco e arqueei a sobrancelha.

- Pareço ter dormido? - murmurei ríspido.

- Nossa, pra quê tanta grosseria? - sorriu debochado.

Só ele mesmo para ficar todo animadinho pela manhã. Sempre foi assim.

- Estou indo. - falou, levantando e tomando o resto do café em pé. - Preciso levar a Evelyn no shopping.

Ah, era por isso que ele estava animadinho. Bufei.

- Precisa mesmo disso?

- Claro, Nickolas. Ela precisa de roupas adequadas para o frio de Londres.

- Você quem sabe. - murmurei, comendo meu pão.

Ele balançou a cabeça com desgosto, saindo em seguida e eu fiquei encarando a porta fechada por longos segundos.

Decidi não beber por hoje. Precisava estar com uma cara boa para me apresentar na toca dos lobos amanhã.
E já me preparava psicologicamente para ouvir os sermões de Jeremy sobre voltar para casa com uma garota grávida à tira-colo.
Ele ia pirar.
Que se dane.

Intocável (COMPLETA NA AMAZON)Where stories live. Discover now