Capítulo 7 - Correio Elegante

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Era tarde, e eu chorava pela rua escura, voltando da faculdade. Atrás de mim, ouvi passos, mas eu já não queria saber daquilo tudo, talvez eu fosse assaltada e até pensasse em reagir para, talvez, acabar com meu sofrimento logo.

Uma rápida olhadela para trás: uma mina. Sei o que deve ser feito nessa situação. Eu paro e me viro pra ela, espero que ela me alcance e voltamos, juntas, a caminhar. Sem dizer nada, sinto a mão dela no meu ombro:

- Tá tudo bem?

- Ah, tá sim, eu acho... Uma hora vai ficar bem, na verdade. Meu namoro acabou de terminar.

Sem dizer mais nada, ela assente com a cabeça e seguimos caminhando. A essa altura, só o atrito de nossos sapatos na calçada pode ser ouvido, vez ou outra, ouvia-se um ônibus que passava, vazio, na rua.


*


Um mês se passou desde que Joaquim terminou comigo, na noite em que eu conheci Bárbara, desde então nós conversamos e sempre voltamos juntas da facul.

Na semana seguinte Joca me mandou um SMS, queria me encontrar. Pedi ajuda pra achar um jeito de fazer esse encontro acontecer, mas ouvi:

"Ana, inúmeros foram os dias que você passou reclamando dele pra mim!"

E tudo o que eu conseguia pensar:

"Foi ainda maior o número de dias que passei chorando por perdê-lo."

Então eu percebi: ninguém sabe nada sobre a luta que está sendo travada dentro do teu coração. Todo mundo achou que eu tivesse ficado "de boa" com o fim do meu relacionamento com Joaquim. A verdade? O fim me destruiu. Eu já não sabia onde pisar, e vivia cada dia da minha vida "no modo automático", sentia como se um pedaço de mim estivesse faltando.

Mas, é engraçado como mesmo quando se está sofrendo, sempre amparas um amigo com dor. Naquela noite, recebo uma ligação de Bárbara.

Este trecho acaba, novamente, com uma mão sobre um ombro e duas pessoas caminhando sem dizer nada: o namoro de Bárbara também terminara, a mão era minha e o ombro dela.


*


Tudo o que posso dizer, prezado leitor, é que a esperança é a última a morrer, ou que o amor vem de onde você menos espera, se você der a ele uma chance:

Eu, depois de 27 anos, aqui estou ao lado de meu marido, Joaquim. Bárbara, por outro lado, recebeu um correio elegante em junho do ano seguinte, na faculdade. Ele viera de um calouro do curso de biomedicina, e Bárbara resolveu dar uma chance a um novo amor. Casaram-se e se preparam para passar as bodas na Itália no mês que vem.

Por isso, leitor, não se sinta desestimulado por uma história de amor fracassada. Quando há de ser alguém, não existe destino que se desvie; mas quando há outra pessoa predestinada a você, o destino também é firme e se encarrega de trazê-la.

Não desista de buscar alguém que te faça bem, se for essa a sua vontade. E se não fores do tipo que pensa em casar, caro leitor, não se sinta mal, porque há mais de um tipo de amor, e o amor próprio deveria vir em primeiro lugar em qualquer que seja a lista, pois para amar o próximo, é preciso primeiro transbordar-se.

Contos, Textos e Reflexões sem SentidoWhere stories live. Discover now