Assuntos que recorriam a você

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"Amor quando é amor, não definha, e até o final das eras há de aumentar. Mas, se o que eu digo for erro, e o meu engano for provado, então eu nunca terei escrito ou nunca ninguém terá amado" As palavras do poema de William Shakespeare pareciam terem sido escritas naquele momento, exatamente para mim. Mesmo sentindo que estava tudo errado, mesmo acreditando em persistir na ilusão que um dia a terei só pra mim, o meu amor não definhava não se parava.

Pensava em você e me entristecia em suas lágrimas, me machucava por dentro em tê-la deixado lá, naquele estado. Meus lábios foram violentamente afastados dos seus, mas ainda assim, eram sentidos em minha carne, nossas mãos fortes e ligadas, foram separadas na descida da imensa escadaria, tão-somente em meu esforço hercúleo via seu lindo rosto choroso implorando para voltar.

Como eu queria voltar Sakura, como eu queria não ter te deixado sozinha naquele dia. O meu erro foi esse, o meu erro foi achar que não tinha mais o que fazer.

Tinha o que fazer.

Eu devia ter enfrentado tudo naquele momento, devia ter gritado ao mundo que te amava, talvez, seu pai naquele instante enxergasse nossos corações, ou talvez, alguma força maior nos manteria unidos antes de tudo acontecer.

Poderia ter feito mais, e não ficar perdido de paixão. Estava tão louco por você, louco, que jamais pensei que o seu pai seria o mínimo a nos separar.

E infelizmente, só descobri isso quando estava sentado dentro da cela daquela escura prisão.

Ao passar as mãos pelos cabelos, e abaixá-las querendo retirar o paletó do terno que usava, senti o envelope, que mais cedo uma estranha tinha me dado no fatídico baile, cair no chão.

O peguei conseguindo enxergá-lo perfeitamente, estava escrito: "Para minha amada menina".

Por um momento não quis abrir e ver o que era, afinal, era para você, mas ao pensar que poderia ser algo a nos ajudar, o abrir sem pensar duas vezes.

Eram duas fotos, e uma carta.

O gracejo, o sorriso, escapou de meu rosto, mesmo em cárcere privado. Era você, Sakura, você ainda tão novinha em uma foto cujo tamanho podias-se dizer, que era de um bebê de poucos meses.

Um bebê lindo, de enormes olhos verdes e cabelos loiros, e de já tão pequena, transmitia os melhores sentimentos a qualquer um que a visse.

Era literalmente uma linda princesa que surgia nesse mundo!

Contudo, a outra foto não me transmitiu a mesma felicidade, parecia alegre, como a outra, se visse é claro por quem não a entendia, porém, eu entendi, e ao entender, me apavorei.

Não era sua, era de sua mãe, aparentemente em sua adolescência, e ao lado dela estava outra, idêntica.

Idênticas, tudo se encaixou.

Os seguranças zombando de algo em relação a gêmeas, você me contar sobre as insinuações.

Eu descobri, um pouco tarde demais, e era algo maior do que pensávamos.

Muito maior, e muito mais sujo na verdade.

E você, unicamente você, era a vítima.

Quem mais sabia? Quem era o homem de cabelos esbranquiçados nessa foto? Ele as conhecia? Você o conhecia?

Porque nunca seu pai lhe contou?

Porque esconder a verdade?

O que realmente era toda essa sujeira?

Existiam duas, e suas palavras encaixaram-se como uma luva para entender do que se tratava.

Você estava certa o tempo todo ao dizer que "ela" não era sua mãe. Ela era um ser maligno, que queria roubar a luz que vinha do seu ser.

StigmatizedOnde histórias criam vida. Descubra agora