14 - O covil do mal

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     Guido sentiu todo o seu corpo estremecer quando o sábio Kako disse aquelas palavras. Durante toda a sua jornada com Silvie e Jeor pelo Bosque, os três enfrentaram uma série de situações sobrenaturais e arriscadas e quase foram mortos, mas nenhuma delas envolveu contato direto com o dito grande e malvado mago War. Até então War parecia uma entidade distante, surreal, algo de que Silvie e Lulu Lian falaram com temor, mas que soava como uma fábula de horror contada ao redor de uma fogueira. Guido nunca imaginou que precisaria ir até onde o mago vivia. Era sandice. Era suicídio.

     Pela maneira como a testa de Jeor estava franzida e sua mandíbula tensa, o garoto imaginava que o caçador estava hesitando assim como ele. Porém, nos olhos claros de Jeor havia um lampejo que sobressaltou Guido. Era como se dissessem Precisamos fazer isso!, absolutamente decididos. 

     Realmente não havia outra maneira de salvar Silvie.

     - Como chegamos lá? - perguntou Jeor, dando um passo adiante.

     Kako ergueu as mãos espalmadas.

     - Opa, opa, vamos com calma... - o sábio deu uma risada constrangida. - Eu disse que o espelho está lá, mas isso não significa que vocês têm a mínima chance de pegá-lo. Ninguém entra na casa de War e, se entra, não sai. - Ele sacudiu a cabeça. - É impossível.

     A respiração de Guido ficou acelerada.

     - Mas... mas o senhor disse que é a única maneira de encontrar algo que quebre a maldição! - protestou o garoto, erguendo a voz. 

     - Sim - assentiu Jeor. - Nós iremos. Não vamos sobreviver aqui por muito mais tempo sem Silvie, de qualquer forma.

     Guido piscou. O amigo tinha razão. Eles quase morreram horas atrás ao enfrentarem o primeiro obstáculo sem Silvie - não tinham chances contra o Bosque de Antazes se ela não estivesse junto.

     - Pode nos dizer como chegar lá? - pediu Guido, numa quase súplica.

     O sábio Kako estava bastante hesitante e remexia as mãos ressecadas de maneira ruidosa. Encarou o garoto e o caçador e suspirou alto, agitando os braços.

     - Certo, certo... - resmungou. - Posso mandá-los na direção certa, mas não me responsabilizo pelo acontecerá aos dois. É uma jornada suicida.

     Jeor deu uma risada debochada.

     - Nós já estamos numa jornada suicida, velho.

     Kako pisco e sacudiu a cabeça sutilmente. Então fitou Guido, arqueando as sobrancelhas.

     - Minha amiga Preciosa via levá-los até o portal que guardo aqui nas cavernas. Ele dá passagem para qualquer lugar dentro do Bosque e é a forma mais veloz de se chegar a qualquer lugar - sábio gesticulou, agitando os dedos no ar como quem faz mágica.

     - Vai colocar a gente dentro da casa do mago?! - Jeor ficou atônito.

     Kako sacudiu a cabeça negativamente.

     - Preciosa e eu deixaremos os dois do lado de fora. Como vão entrar lá é com vocês.

     Guido e Jeor trocaram outro olhar preocupado.

     O sábio colocou dois dedos na boca e assoprou, num assobio surpreendentemente alto e agudo. Instantes depois, a cobra que antes estava pendurada nos ombros dele veio rastejando pelo chão, sibilando com a cabeça erguida. Guido não conteve uma careta de aversão - detestava cobras. Uma vez Eugene colocara uma debaixo do travesseiro dele para pregar-lhe uma peça e Guido molhou a cama de medo, o que lhe rendeu uma surra da mãe e uma trauma para toda a vida.

A Raposa [VENCEDOR 'THE WATTYS 2018']Onde as histórias ganham vida. Descobre agora