Capítulo Nove - Genética maldita

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Capítulo acrescentado
Davies

— Como foi seu dia?
— Normal — eu respondi.
O senhor Mitchell bagunçou meu cabelo e depois, me deu uma sacola.
— O que é isso?
— Ah, garoto, pelo formato, duvido que não saiba — ele riu.
Eu ri também e tirei a bola de dentro da sacola.
— Obrigado!
— Obrigado? Isso não foi de graça. Quero que me pague, mostrando o que sabe.
Ele tirou a bola da minha mão e começou a chutar. Eu tentei tirar dele, enquanto eu dava risada. Eu tirei a bola dele e o driblei.
Por que meu pai não fazia essas coisas?
Eu estava feliz. O senhor Mitchell me fazia feliz. Eu o agradeci na minha cabeça.
Depois que terminamos, começamos a caminhar. Eu iria chegar atrasado em casa, mas, minha mãe sabia que eu estava com ele. Ele sempre passava na escola, quando saía do trabalho e me acompanhava até em casa.  Eu gostava das nossas conversas. Eu gostava de tudo o que ele fazia.
— E depois que terminar a tarefa, o que vai fazer?
— Vou assistir.
— Ah, é? O que passa de tão interessante há essa hora?
Sesame Street  — eu disse alegremente.
— Eu nunca assisti. Isso é bom?
— É sim, senhor Mitchell. Deveria assistir. Tem uns bonecos bem legais.
— E quais são os seus preferidos?
— Ah, essa é fácil! — eu dei um enorme sorriso — Eu gosto do Kermit, do Sr. Snuffleupagus, e do Groover, mas, o meu preferido de todos, é o Elmo. E ontem, ele e o Groover, viraram entregadores de mensagens.
— Deve ter sido um episódio em tanto.
— E foi! — falei mostrando novamente o meu grande sorriso.
— Acho que vou assistir também. Preciso de alguns programas legais para passar o tempo.
— E nós poderíamos conversar sobre os episódios, certo?
— Isso mesmo. Agora, guarde a bola na sua mochila. Não deixe seu pai ver. Amanhã, nós jogaremos mais um pouco.
Ele me parou perto da cerca da sua casa que ficava do lado da minha, passou a mão no meu cabelo e esperou que eu entrasse.
Eu assisti Sesame Street mais alegre do que os outros dias. Eu sabia que o senhor Mitchell estava assistindo.
Quando meu pai chegou, eu já não fiquei mais alegre. Minhas mãos tremiam, estavam molhadas e escorregadias. Eu parei de prestar a atenção no programa.
Eu só queria que o dia acabasse e a noite chegasse. Eu poderia ir dormir e só acordaria no outro dia. Eu queria pular as partes em que ele chegava em casa.
— Davies! — ele gritou, enquanto olhava para dentro da geladeira.
Eu me aproximei com medo. Eu estava cansado de apanhar e eu não tinha feito nada para irritá-lo.
— Vai ao bar do Vincent e trás cervejas. Quantas ele puder vender. Diz para ele marcar.
Eu assenti e corri ao até o bar do Vincent. Cheguei perto do balcão e repeti o que meu pai disse.
— Fala para o Wilson, que é a última vez que vou vender para ele. Ele mal acabou de fazer mais uma conta e já quer fazer outra. Eu quero receber até semana que vem.
Eu apenas balancei a cabeça e esperei o senhor Vincent buscar as cervejas.
— Olha se não é o meu netinho.
Eu olhei para o lado e vi meu avô. Ele era um mostro igual o meu pai.
— Não vai falar comigo?
Eu continuei quieto.
— Pequeno imbecil — ele bufou. — Você é igual o seu pai. Até na aparência. Para falar a verdade, o idiota se parece com a mãe e automaticamente, você tem os traços da puta da sua vó. Genética maldita! Impossível olhar para você e não sentir raiva — ele cuspiu perto do meu pé.
Eu não gostava quando alguém me ofendia. Eu tinha vontade de chorar, porque eu ficava triste. Mas, eu não chorei.
— Deixe o menino em paz, Fred! Ele é só uma criança. Não tem culpa da merda que acontece com vocês — disse o senhor Vincent. — Toma as cervejas. Consegue carregar?
— Sim.
— Só estou mandando, porque eu sei que se você chegar lá de mãos vazias, ele vai descontar em você — ele disse baixinho. — Agora, tome esses pirulitos.
Eu agradeci e olhei para o meu avô. Ele me olhava com raiva nos olhos e eu fiquei com medo.
Corri para casa.
— O que o imbecil do Vincent disse?
— Que o senhor tem que pagar na próxima semana e que é a última vez que ele vende para o senhor.
— Alguém o ouviu dizer isso?
— Só o seu pai.
Meu pai parou a latinha de cerveja perto da boca, mas, não bebeu.
— Aquele filho de uma puta não é meu pai e não é o seu avô. Escuta bem, Davies — ele apontou o dedo para mim — eu prefiro ver você vomitando até morrer, do que ouvir você chama-lo de avô ou dizer que ele é meu pai, ouviu?
Eu balancei a cabeça rapidamente.
— Agora some da minha frente.
Eu subi as escadas correndo e fui para o meu quarto. Sentei na cama e apertei minhas mãos, para que elas parassem de tremer.

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