Capítulo Doze - O simpático Johnson

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Heloyse

Já havia passado um mês desde que cheguei em Clearwater. Entrei em contato com Ashley, Margot e algumas das pessoas que trabalhavam para mim e nenhum deles falaram sobre o Michael. Não disseram se o viram ou se souberam alguma coisa dele e isso, era bom. Na verdade, às vezes eu esquecia e quando me lembrava, sentia uma fisgada, uma ponta de dor lá no meu coração.
Eu tinha meus duros momentos. Às vezes, eu queria companhia, outras vezes, queria ficar sozinha. Houve dias, em que eu estava feliz com os Ferrel, em outros, eu me abatia e não pelo Michael, mas, agora, pelas mesmas coisas de sempre. Pelas mesmas coisas que muitas vezes, faziam com que eu me agarrasse a ele e não soltasse mais. Eu tinha medo da solidão, porém, eu estava tão acostumada a ela, que mesmo com medo, a solidão era a única coisa verdadeira que fazia parte da minha vida.
Fiz um jardim nos fundos da casinha de madeira. Plantei muitas mudas de flores que Thom trouxe. Isso me ajudou a passar o tempo. Na pequena varanda, eu coloquei uma rede, uma mesa, cadeiras e uma cadeira de balanço que eles não usavam. E eu amei como tudo ficou.
No tempo que eu estava ali, ainda não tinha ido à cidade e agora, eu precisava ir a uma farmácia comprar minhas pílulas, shampoos e outras coisas de higiene pessoal.
Pedi que Cielo fosse comigo.
Eu entrei na caminhonete vermelha que Thom deixou para meu uso e juntas, seguimos. Passamos em frente à propriedade do senhor O'Connor. Ainda não o conhecia. Aquele pasto que ficava do outro lado da estrada, de frente com a casa que eu morava, era dele. A casa principal era linda. Dava pra ver pelas aberturas do grande portão. Uma estrada seguia até a entrada da casa. Tinha enormes árvores e palmeiras plantadas dos dois lados dessa estrada. Realmente, linda.
Na cidade, passamos no mercado. Comprei alguns legumes e frutas. Um pote de sorvete de abacaxi e algumas maçãs. Na farmácia, comprei minhas pílulas, aspirinas, objetos de higiene pessoal, shampoo e outras coisas.
Saindo da farmácia, nos deparamos com uma moça de cabelos avermelhados na altura dos ombros e os olhos bem verdes. Estava em um vestido marrom e uma bota delicada. Era bem mais alta que eu e magra de um jeito bonito.
— Dona Cielo! Como vai? — perguntou a moça, cumprimentando-a com um abraço.
— Eu vou bem, querida. E você?
— Vou bem. E quem é sua amiga?
— Essa é Heloyse Sanders! Heloyse, essa é Patsy White!
— Oi! — foi a única coisa que consegui dizer.
— Você não é daqui, não é?
— Não.
Ela continuou me olhando com um sorriso falso no rosto e em seguida me perguntou:
— E então?
— E "então" o quê? — eu perguntei.
—  De onde você é?
— Ah... Boston!
— Entendi! — ela demorou alguns segundos olhando para as minhas roupas e sorriu. — O papo está verdadeiramente agradável, mas, tenho que ir. Preciso fazer minhas unhas. Foi bom te conhecer — o rosto dela dizia outra coisa — e até logo, dona Cielo.
— Até — disse Cielo revirando os olhos.
Andamos até chegar à caminhonete. Eu me virei para trás e sorri para ela.
— Ela é linda.
— E nojenta. Se acha melhor que todos por aqui.
— Linda do jeito que é...
— Não diga besteira, Lisy. Isso não lhe dá o direito de se sentir superior às outras pessoas. Veja você... É linda também e sabe ser humilde.
— Eu, linda? Oh, por favor, não me faça rir, Katherine!
Ela colocou as mãos na cintura e em seguida, apontou para um grupo de rapazes.
— Você está tendo algum problema nos seus olhos? Não os vê ali? Não tiram os olhos de você desde que chegou. E no mercado, os homens estavam quase quebrando os pescoços para poderem olhá-la. Se você não enxerga sua beleza, vou pedir pra Thom trocar seu espelho por um maior.
— Eles me olham porque não sou daqui, e se estão flertando comigo é porque sou "carne nova".
— Lisy, você é mais burrinha que Megan — disse enquanto entrava na caminhonete.
Eu ri.
Nem dez segundos se passaram e notei que faltava uma sacola com as coisas que comprei.
— Você esqueceu isso na farmácia.
Eu levei um susto quando notei alguém parado próximo à janela da caminhonete. O homem mantinha minha sacola entre os dedos, erguida. Um sorriso enfeitava o rosto. Aliás, um rosto muito bonito. Tinha os cabelos escuros, assim como os olhos. O cabelo tinha um corte militar e no rosto, não havia vestígios de pelos. A camisa com alguns botões abertos na parte de cima, estava dentro de uma calça jeans apertada que o deixava atraente.
— Como vai, Johnson?
— Muito bem! E você dona Cielo?
— Bem! E obrigada por trazer as coisas da Lisy.
— Por nada!
Ele se aproximou ainda sorrindo e estendeu a sacola para que eu pegasse.
— Me chamo Johnson!
— Eu percebo isso.
Johnson ampliou mais ainda o sorriso e quando dei por mim, eu já estava sorrindo e me apresentando.
— Sou Heloyse. Mas, pode me chamar de Lisy.
— Com certeza eu chamarei. E quando quiser almoçar, será bem-vinda ao meu restaurante. É por conta da casa.
— Obrigada.
— Até qualquer hora. Foi um prazer conhecê-la. E mande um abraço para o Thom, dona Cielo.
— Mandarei. Tenha um bom dia, Johnson.
Eu o observei se afastando e dei partida na caminhonete.
— Ele é bonito, não é?
— Acredita que não reparei?
— Não me diga que você está querendo enganar essa pobre senhora?
Soltei uma risada alta e liguei o rádio.
No caminho para a fazenda Ferrel, uma enorme caminhonete preta passou, levantando poeira e algumas pequenas pedras.
— Lá vai o Will. Sempre como uma tempestade. Ele todo é uma tempestade.
Eu olhei pelo espelho, mas, já não havia nenhum sinal da grande caminhonete.
— Esse senhor O'Connor, ou Will, como vocês chamam, é casado? Tem filhos?
— Por que o interesse? Você já o viu?
— Não, eu... Eu só estou curiosa. Você disse que ele tem um gênio difícil. Eu não o vi, mas, pela forma que o descrevem, ele não é muito amigável. Me pergunto se ele é assim com a família.
— Se você acha que por ele ter um gênio difícil, ele não tem uma mulher que o aguente, você acertou. Muitas já tentaram, mas, a personalidade dele não deixa que alguém se aproxime. O velho Will vai terminar sozinho.
"Velho? Então ele era velho?"
Cielo cumprimentou alguns senhores que passavam na estrada e logo, Will já não era mais o assunto.

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