Capítulo 2

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POV JC

- Boa noite, Joana. Ainda acordada?

- Agora que não preciso levantar mais tão cedo, estou aproveitando para assistir a um filme - responde por entre dois goles em seu chocolate quente.

- Conversei com uma colega de sala hoje e ela comentou que estão precisando de copeira na Construtora Menezes, aquele prédio verde perto do mercadão.

- Copeira? Não aguento mais este tipo de serviço – faz uma careta de desprezo, que me irrita.

- É uma empresa grande, pode haver vagas de secretária no futuro. E você pode, mesmo empregada, continuar procurando uma colocação que lhe agrade mais.

- Já que preciso trabalhar, que pelo menos ganhe alguma coisa. A mãe não me dá folga aqui em casa.

- Não fale assim, sabe como ela chega exausta todo dia – já respondo ríspido. Será que ela não percebe o quanto nossa mãe se esforça?

- Tá, não precisa começar com sermão. Vou amanhã ver esta vaga.

- Boa noite, vou descansar – termino a conversa antes que briguemos.

Deito-me, mas não durmo de imediato. Fico pensando em minha irmã e como parece amarga e descontente com a vida que temos. Não entendo seus sentimentos, pois apesar de querer evoluir, batalho para isso enquanto sou grato pelo esforço de meus pais. Espero que seja apenas coisa de moça, e que logo ela amadureça.

Minha irmã disputa a vaga com outras garotas, consegue o trabalho e começará após os exames médicos admissionais. Minha mãe está radiante, mas minha irmã não parece empolgada.

- Mãe, preciso jantar rápido, senão perco a primeira aula- falo entrando correndo na cozinha.

- Já está pronto, filho. Veja se come direito.

Faço meu prato e me sento à mesa. A comida de minha mãe é simples, mas deliciosa.

- JC, brinca comigo? – meu caçulinha se aproxima com a bola que lhe dei de aniversário de 9 anos.

- Não posso, Toninho, me desculpa. Tenho que ir para a universidade. Prometo jogar bola com você no sábado.

- Tá bom, mas você jura? – faz uma carinha de cachorrinho pidão que não resisto.

- Juro, amiguinho – bagunço seu cabelo e lhe dou um abraço, antes de continuar comendo.

Me dói não dar atenção ao meu irmãozinho, ele está crescendo e nem estou vendo passar. Este é um sacrifício que não gostaria de fazer, mas preciso. Há também o Edmilson, de 13 anos, que por enquanto só estuda, mas que já pede para ir ajudar na obra, apesar de tão novo. Realmente aproveito da convivência com eles apenas nas férias escolares e em alguns domingos, quando não tenho que estudar.

- Filho, seu tio Justino ligou da Paraíba hoje, pedindo para que sua avó Severina passe um tempo conosco. Ela sente muita saudade dos netos, e sabe que não conseguimos visitá-la com frequência.

- Que boa notícia, mãe. Vovó é muito engraçada, vou adorar.

- Porque não é você que vai ter que dormir no chão... – resmunga Joana.

- Deixa de ser mal educada, menina, que não foi assim que te criei. Ninguém morre por causa de uma coisa pequena destas! Sorte sua que seu pai não ouviu.

- Estou mentindo? Vou perder a pouca privacidade que tenho, nosso quarto já era pequeno, agora então...

- Você só reclama, Joana. Preciso ir, mãe, senão me atraso – saio indignado com minha irmã, a cada dia que passa se torna mais difícil de conviver com ela.

Sonhos e preconceitos - Livro 1 da Série SonhosTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang