Capítulo 4

1.4K 268 31
                                    

POV JC

Minha irmã chega de madrugada, e não responde às minhas perguntas pela manhã, mas está com um sorriso arrogante que me preocupa. Gostaria de conversar, mas sei que ela não irá me ouvir, e espero encontrar outra chance.

- Inês, você conversa mais com a Joana. Ela contou algo sobre a festa?

- Não falou nada, está toda misteriosa. Algo parece errado.

- Estou com esta impressão também.

- Ficarei de olho, se descobrir algo preocupante, te aviso – responde minha irmã, que é bem mais jovem, mas muito mais madura que a outra.

Nosso serviço na obra chega à fase de colocação de revestimentos e meu pai faz um trabalho primoroso. É a sua parte preferida, enquanto a minha é ver o edifício se erguendo e ganhando forma.

- Como o senhor é talentoso, pai. Deveria dar cursos de formação para novos profissionais.

- Deixa de ser abestaiado, menino. Não sei nem "falá" direito, imagina que vou bancá o "professô"? Conheço o meu lugar.

- Pai, não fala assim - Suspiro desanimado, nem sei por que insisto.

- Seu avô sempre dizia para não se meter a entendido, para não "quebrá" a cara e tinha razão.

Meu irmão balança a cabeça, me indicando para mudar de assunto. É triste não poder conversar com meu pai, estar sempre tomando cuidado com o que digo.

- JC, para te irritar o pai – Manoel me diz quando ele se afasta.

- Falei com boa intenção. Você não acha que ele trabalha tão bem que poderia ter aprendizes além de nós?

- Sei que sim, mas ele não acredita nele mesmo.

- Por que tanta dureza? Como se já não fosse o bastante o preconceito de estranhos...

- Sabe que ele é assim e não vai mudar – diz conformado.

- Queria tanto o apoio dele, mas só encontro desaprovação – confesso amargurado.

- Quem sabe um dia ele fica orgulhoso? – fala para me animar, mas também não acredita.

Minha mãe me espera com o jantar pronto. Seu carinho é minha força e sem ela não sei se conseguiria ir em frente.

- Sua avó chega esta semana. Está vindo de carona com uma família que visitará parentes aqui também.

- Já disse por quanto tempo ficará?

- Não tem prazo. Seu pai quer que seja definitivo, já que aqui podemos cuidar dela.

- Concordo, ela já tem certa idade, e como o tio viaja muito, ela fica sozinha.

Enquanto como, Toninho me mostra sua lição e Edmilson conta do campeonato de futebol da escola. Rimos de seu entusiasmo com os gols que fez. Dou um beijo em minha mãe e na Inês e corro para a aula.

Larissa já está sentada quando entro. Seus lindos olhos verdes me sorriem e sinto o cansaço do dia me deixar.

- Boa noite, JC. Guardei seu lugar, como sempre.

- Boa noite, e obrigado. Como foi com a psicoterapeuta?

- Há uma diversidade de diagnósticos possíveis, apenas conversando com minha mãe para definir. Chamei-a para sair comigo na sábado e pensei em aproveitar para sugerir falar com a profissional quando chegássemos em casa. Porém meu pai estava nos esperando e perdi a oportunidade.

Sonhos e preconceitos - Livro 1 da Série SonhosWhere stories live. Discover now