Part 4

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Assim eu me divirto...

Não há para mim melhor situação do que ter o destino dos humanos em minhas mãos. Manipulá-los, brincar com suas vidas, faz com que meus milênios de existência se tornem um pouco menos tediosos.

Mas Mérida me intrigava. Ela tinha uma personalidade que mesclava o doce e o atrevido, o intenso e o abrasador, o romantismo, e ao mesmo tempo o interesse em se manter sozinha.

Ela não pensava como as outras mulheres, ou agia como a maioria. Admirava sua liberdade, e nada melhor do que ser livre ao lado de alguém que te deixe voar, mas que espere calmamente que você retorne.

E Mérida retornaria... isso o príncipe Erick, quero dizer, o doutor Erick, sempre acreditou.

Neste momento, o desespero...

Caminhava de um lado para o outro na sala de espera. Já havia contado os passos necessários para circular a sala, analisado quantas cerâmicas tinham de um lado ao outro, e até quantas manchas na pintura da parede branca.

Notei as marcas de dedos no vidro, que ia da metade da parede até o teto, e os locais em que a cola tinha descolado, formando um vão entre as placas de vidro.

Um exame não poderia demorar tanto, não é mesmo? Mas o da minha mãe demorou. Depois de cerca de duas horas, uma enfermeira que eu não havia notado entrar nessa sala, sentou-se ao meu lado, colocou sua mão sobre o meu ombro, e chamou minha atenção.

— Sua mãe já está no quarto, querida. — Esta, que foi gentil, não poderia ter mais que quarenta anos. Pequenos e estreitos olhos castanhos, um pouco grisalha, e um sorriso calmante estampado no rosto.

— No quarto? — questionei, mesmo temendo pela resposta.

— Ela teve um pequeno mal-estar durante o exame. Ela esteve em observação, e agora está com o doutor Erick. Quer que eu te acompanhe até lá?

Sinalizei que sim, até mesmo porque não sabia o caminho e minhas pernas fraquejavam. Seguimos pelo mesmo caminho de antes, mas agora tudo parecia um pouco mais turvo.

Descemos para o sexto andar, e a senhora, sorrindo mais uma vez para mim, disse para que eu continuasse seguindo. A cada passo mais perto da minha mãe, a ansiedade e o medo aumentavam.

Mas eu não poderia mais ser controlada pelo temor. Precisava agora encarar o que viesse, e ter força para apoiar minha mãe. Sairíamos lado a lado dessa e venceríamos essa batalha com louvor.

A enfermeira parou em frente ao quarto 613, meneou a cabeça indicando para que eu entrasse. Fiquei estagnada olhando para o interior do quarto, tomando um longo fôlego. Ela me olhou com ternura, como se aquele olhar pudesse aquecer meu coração a ponto de ser despedaçado.

— Var dar tudo certo, minha querida.

Esbocei um sorriso em retribuição àquele carinho, e caminhei para perto da minha mãe. Ela chorava copiosamente, e em um impulso, corri em sua direção. Sem saber sequer o que estava acontecendo, aninhei-a em meu colo, sentando-me na cama, e a apertando.

Enquanto ela soluçava, olhei para o médico, parado aos pés da cama. Sua beleza era evidente, mas estava escondida por trás de um semblante sóbrio.

Sabia que algo estava errado, mas precisava de qualquer resquício de esperança para me manter de pé, vendo agora minha mãe desmoronar.

Alguns instantes após, sua respiração começou a se equilibrar, e o doutor Erick sinalizou para que eu o encontrasse do lado de fora do quarto.

IndomávelWhere stories live. Discover now