na quarta vez [ namjin ]

Namjoon

   Kim Seokjin é tão bonito que eu sinto vontade de morrer, sabe?

   E se fosse só beleza exterior eu nem reclamava muito, mas ele é simplesmente a melhor pessoa que eu poderia ter conhecido em toda essa minha simples vidinha de quem só estuda, ajuda os pais e ama ao mesmo tempo em que inferniza a vida do cachorro que eu tenho certeza que se pudesse falar, me xingaria. 

   Ele é tão gentil, educado, inteligente... cheiroso....

   Muito cheiroso.

   Cheiroso demais, poxa!

   Todo santo dia eu fico no balcão só esperando ele chegar pra poder ver aquele pedacinho de céu passando por mim e sorrindo, me cumprimentando antes de entrar na cozinha do meu pai, junto com aquele amigo dele, o Jimin, e os dois começar a pôr, literalmente, a mão na massa fazendo aquele monte de comida gostosa que depois vira tudo relatório tanto da parte do pessoal que estuda quanto da parte do meu pai.

   O Jin estagia aqui já faz um tempo, eu até ouvi meus pais conversando sobre realmente efetivá-lo por que ele é incrivelmente bom cozinhando. O gato faz cada coisa que toda a vez que eu experimento só falto ficar de joelhos implorando por mais. Sério, é tudo tão bom. O jeito que ele mistura certos alimentos que ninguém imaginaria que combinam, mas no final fica tudo uma delícia é... incrível!

   Ele é todo incrível. Todo mesmo.

   A quantidade de erro que eu já cometi aqui quando 'tô passando troco e ele chega sorrindo daquele jeito nem dá pra colocar no papel.

   Na verdade dá sim, por que sempre que a conta do sistema não bate com o que fica no caixa, é do meu pequeno-quase-não-existente salário que meu pai tira. Ele nem tem um pingo de dó de um pobre cara apaixonado - e do Rapmon que fica sem ganhar as montanhas de petiscos que eu compro pra tentar fazer ele me amar, porém não adianta muito por que o fofo só me ama enquanto 'tá comendo as coisinhas...

   Como se não bastasse ser meio ignorado pelo menino que eu gosto, eu também sou totalmente ignorado pelo meu cachorro sabe, aquele ingrato.

   Mas não fique você pensando que eu fico só aqui babando no bonitão não, eu até que dou cantada nele sim, sempre que surge uma oportunidade - ou seja, todo dia - eu já 'tô perguntando se o pai dele é dono de empresa aérea pra ter um avião daquele em casa, ou alguma coisa chula desse tipo só pra ter o prazer de ver ele ficando vermelhinho e encolhendo os ombros dando risadinhas enquanto me chama de besta.

   É tão fofinho o jeito que ele ri. A primeira vez eu até que me assustei sabe, mas depois esse se tornou um dos meus sons favoritos do mundo todo e eu poderia, e aceitaria, passar todo o resto da minha vidinha ouvindo somente ele rir. Inclusive desse dia em diante minha meta é fazê-lo rir cada vez mais, só pra eu poder ficar apreciando igual o grande bobo apaixonado que eu sou. 

   Não tenho vergonha de admitir não, viu.

   O meu amigo Hoseok vive no meu pé falando pra eu criar vergonha na cara e chamar ele de novo pra sair, porque sim, eu já chamei o Seokjin pra sair - atenção! - três vezes. Três vezes. 

   E ele não aceitou nenhuma.

   Da primeira vez ele disse que não poderia por que era um domingo e acordaria cedo pra aula na segunda-feira, eu até pensei "poxa, eu também tenho que acordar cedo então ok, tudo certo deixa pra outro dia". Na segunda vez ele disse que tinha um monte de trabalhos pra fazer naquela semana e 'tava atolado até o pescoço de tanta coisa, eu entendi também, a gente que é universitário tem que ter empatia com o universitário ao lado, né? Quem aguenta essa vida de sofrimento e provas e lágrimas, dor....

  Voltando.

   Vou falar a verdade que na segunda vez eu já queria desistir, mas o Hobi disse que não acreditava que eu desistiria fácil daquele jeito e que um toco sempre é bom pra fazer com que nossa personalidade fique mais forte. Eu não sei se isso faz o mínimo sentido, mas eu confio no meu amigão sabe, então eu tentei uma terceira vez e levei outro toco.

   A desculpa que ele deu foi de que ia pro - atenção mais uma vez, por favor! - aniversário do gato do primo dele.

   Mas Jung Hoseok jurou que o que não te mata te faz mais forte. Ou talvez tenha sido a Kelly Clarkson.

   Mas então, eu com toda essa cara de pau cultivada e muito bem cuidada por mamãe ao longo de 23 anos de vida realmente não desisti. Eu gosto do Jin de verdade sabe, e eu sei que ele também não tem ninguém no momento por que eu perguntei pro Jimin se ele 'tava sozinho e a resposta foi um "sim Namjoon, se eu fosse você chamaria ele pra sair.". 

   Eu acho que talvez o Seokjin esqueceu de dizer alguma coisa pro Jimin, afinal isso foi antes de eu chamar ele pra sair pela segunda vez.

   Mas então nós chegamos até o dia de hoje, onde eu estou  finalmente saindo da aula e indo debaixo de uma baita chuva em direção ao estacionamento onde a van de entrega do restaurante fica estacionada, pra poder correr pro meu balcão a tempo de pegar ele chegando sempre lindo com aquele cabelinho de franja na frente do olho que me faz querer passar o dia todo fazendo carinho e dando cheirinhos, por que repetindo, Seokjin é cheiroso.

   Só que eu acho que o destino, ou seja lá o que for que faz as peças se encontrarem e encaixarem, resolveu estar do meu lado nessa manhã de chuva que começou de repente e mais  parece que não tem hora para acabar, porque enquanto dirijo em direção aos portões de saída do campus, eu consigo enxergar aquela figura alta que tanto ilumina minhas tardes, todas as tardes, embaixo de uma das árvores tentando seu melhor para não se molhar tanto e com uma cara de aflição enquanto olha para o relógio em seu pulso.

   Eu reconheceria aquele casaco azul até de olhos fechados. Mas aí seria através do olfato e tal...

   Enfim, eu conheceria aquele casaco azul por que o Seokjin usa bastante sabe, e eu sou um cara observador. Por exemplo, no momento em que monta um prato e vai finalizar, pegar o paninho para limpar algum respingo fora do lugar ou qualquer coisa do tipo, a cara de concentração se mescla com a  pontinha da língua dele que se prende entre os lábios enquanto a mão habilidosa executa seu trabalho e entrega mais uma bomba de sabor excepcional. Ou o modo como alisa antes de dobrar o avental e guardar ele no lugar certinho todos os dias.

   Ai, ai, queria eu ser aquele avental pra ser alisado com tanto carinho...

   Voltando ao assunto, talvez pela terceira vez e no momento você deve achar que eu sou meio distraído, né? E eu sou mesmo, ha!

   A minha paixão estava ali, ilhado e sozinho esperando a chuva passar pelo que eu entendi. E é com a certeza de que alguém em algum lugar quer nos aproximar - ou só confiando nas vozes da minha cabeça - que eu encosto a van no meio fio, baixando a janela e convidando ele para uma carona, afinal, nós iríamos para o mesmo lugar e certeza que ele se atrasaria e muito se fosse esperar o toró passar, isso se for passar ainda hoje.