1 • Alcohol

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Seus pés carimbavam o chão por onde passava. Era a melhor parte do dia, para Marco. Não só porque adorava caminhar, mas porque, todo dia, às 17h em ponto, Tom estava lá para esperá-lo.
Quando ele chegava no parque, Tom já estava no local combinado, se aquecendo para o percurso. Eles se cumprimentavam com um aceno de cabeça, preparavam o corpo e começavam o trote.

É estranho pensar como haviam chegado naquele ponto. Tipo, eles nunca haviam de fato mantido uma conversa longa. Trocavam apenas palavras curtas, e isso parecia bastar.
Um dia, há muito tempo, Marco estava fazendo sua caminhada quando um cara passou por ele. Era Tom, mas na época ele não sabia seu nome. Como os dois vinham em direções contrárias, puderam ter pleno contato visual. Marco estava preso naquele olhar, mas não Tom. Este apenas sorriu de canto e deu-lhe um aceno de cabeça.

A partir de então, essas topadas aconteceram com mais frequência, até que Marco tomou a iniciativa de falar com ele.

— Iae, sou Marco. Opa, Marco Diaz. — Estendeu a mão.

Tom sorriu — Oi, Marco Diaz — Disse imitando sua voz vacilante. — Eu sou Tom Lucitor, mas você não precisa me chamar pelo nome completo.

Marco riu. — Você também não precisa chamar pelo meu! Era pela formalidade. Então... quer caminhar comigo? — Marco estava começando a se sentir vermelho. A forma como ele propôs uma caminhada tornou um gesto simples em algo super tenso.

Estava tão paranoico naquele dia que sentiu que o jeito como falara com ele soava como se estivesse chamando-o para sair, mesmo que ele não estivesse propondo nada demais.

Sem fazer ideia das paranóias do outro, Tom respondeu naturalmente. — Claro! Por que não, né? — e deu de ombros.

E foi a partir daí que passou a ser rotina, a ser um ritual. Marco aguardava ansioso o dia inteiro para o momento do parque, onde era só ele e Tom, seu crush. Em seu íntimo, ele se sentia muito confuso em relação ao outro. Quer dizer, ele não era mais um adolescente com hormônios à flor da pele, mas mesmo que os dois quase não conversassem, ele estava começando a gostar demais de Tom.

Em teoria, até ai tudo certo. É normal nos sentirmos atraídos por galãs trevosos como ele, e os dois já estavam andando juntos há semanas. O problema começou quando certo dia, após a caminhada, Tom quebrou a rotina. No geral, eles chegariam no ponto final do percurso, se despediriam com um toque de mão e iriam cada um para uma direção. Tom ia a pé para casa, e Marco iria de carro, ouvindo música e pensando na vida.

Mas não dessa vez.

Quando Marco estendeu a mão, seu companheiro de corrida a dispensou. — Hey, quer ir, sei lá, tomar uma cerveja comigo?

Wow. Marco podia sentir o coração martelar no peito. Não conseguia disfarçar a surpresa em seus olhos arregalados. Não queria se iludir, não queria mesmo, mas aquilo parecia muito uma proposta de encontro. Podia não ser nada demais, mas para ele certamente era. Mordeu a língua, tentando não gritar ali mesmo.

— Ahn, claro! Claro, claro. Claro. Eu não bebo muito mas... — Balbuciou.

Tom se adiantou. — Não, não. Tudo bem, é só pra fazer uma social. Eu sei que você está de carro. Vou beber pouco também.

Só que não.

A conversa estava tão boa que os dois beberam e nem notaram. Na verdade, Marco não bebeu tanto assim, mas ele não sabia que Tom tinha uma queda por álcool.
Quando a conversa começou a perder um pouco da coerência é que ele percebeu que Lucitor estava bêbado. Não como aquelas pessoas que ficam agressivas, mas como as que ficam falantes e sonolentas.

Azar o Meu ✵ Tomco [THREE-SHOT]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora