2 • Anxiety

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✵✵✵

Marco suspirou, cansado, e olhou o relógio. Quando ele e Tom caminhavam juntos, geralmente não conversavam, porque isso atrapalhava no trote. Mas dessa vez, o silêncio era diferente. Era frio. Não sabia explicar. Parecia que Tom estava distante dele. Só olhava pra frente e não sorria em momento algum. Eles não tinham nem se cumprimentado quando ele chegou.

Eles estavam do mesmo jeito no carro, quando Marco levou Tom para casa. Aparentemente, Tom não se lembrava do que acontecera no dia anterior, ou se lembrava, não queria mostrar. Isso matava Marco por dentro. A ansiedade de ter alguma resposta, mesmo que negativa, do seu companheiro corroía suas entranhas. Parecia que tinha algum bicho pesado em seu interior, empurrando seus órgãos para baixo.

Cuspiu na rua, sem notar que o saíra de si não era escarro, mas sim uma pétala.

Se ele soubesse que sua relação de amizade fosse se deteriorar, nunca teria transado com Tom. Ele o amava, mas prezava por sua companhia. Na verdade, ele preferia ser apenas seu amigo para todo o sempre, se isso significasse ter sua companhia constante pelo mesmo período de tempo.

Cuspiu de novo, remoendo lembranças e sentindo os olhos ficarem úmidos.

Tom tinha acordado estranho. Olhava para a cama onde dormira com um olhar vago, como se estivesse perdido em memórias e pensamentos.
Marco tinha até feito café para os dois, mas Tom quase não comera, mesmo tendo tentado. Puxou assunto, e Tom foi monossilábico em suas respostas.

Saíram mais cedo, para que Marco pudesse levar Tom em casa antes de ir para o trabalho, e o mesmo silêncio de agora reinava no carro. Tom dava instruções curtas de qual caminho tomar, qual esquina virar, sem nunca sair do impessoal. Marco poderia confundi-lo com a voz do GPS, se não atentasse.

Quando chegaram, Tom murmurou apenas um "obrigado" quando saiu. De dentro do carro, Marco viu uma moça regar as plantas no simplório quintalzinho, com uma mangueira. Era loira natural, branquinha. Parecia ter origem européia, e contrastava muito com Tom. Eles tinham biótipos muito diferentes. Não poderiam ser parentes, poderiam? Parecia absurdo dizer uma coisa dessas.
A loira, ao vê-lo se aproximar, largou a mangueira de qualquer jeito e começou a gritar e gesticular em sua direção, vindo de encontro ao mesmo. Marco não podia ouvir o que ela dizia a Tom, pois todos os vidros do carro estavam cerrados.

Da janela, uma idosa o observava, atenta. Era bonita, e passava a impressão de ter vivido a vida ao máximo quando mais jovem. Ela tinha esse olhar brincalhão e atrevido. Pegou uma rosa do canteiro logo abaixo do parapeito, com cuidado para não se cortar, e olhou para Marco. Uma a uma, foi arrancando as pétalas e as jogando no jardim, enquanto ele dirigia lentamente para longe daquela casa.

O medo e a dúvida arranhavam as paredes do seu estômago. Mas talvez houvesse algo mais o arranhando por dentro...

Conforme os dias passavam, Tom parecia ficar mais leve. Talvez perdoasse pouco a pouco o pecado que Marco não cometera.
Ele também não forçava nada. Deixava que seu companheiro gradativamente ficasse menos carrancudo, menos silencioso e mais o amigo de quem ele sentira falta. Mais Tom.

Hoje, quando chegou no parque, notou que o mesmo parecia diferente. Sorria à toa, e dava bom dia para todo mundo que passava. Até para Marco ele deu bom dia.

— Nossa, vai chover — Brincou — Desde quando você fala?

— Ai que besta — Tom zoou, sorrindo genuinamente. Exibia suas fileiras de dentes perfeitos, brancos e curiosamente pontudos.

Marco sorriu sozinho, lembrando do dia em que comentou que os caninos de Tom eram muitos grandes, e este lhe respondeu que era porque havia sido um demônio na vida passada.
De volta ao presente, começou a caminhada junto de Tom. Comparando os dois momentos, Tom parecia muito mais adulto, e muito mais sério. Mas pelo menos, parecia que a relação dos dois estava voltando ao normal. Estava como o ritmo da caminhada: a princípio devagar, mas acelerando gradativamente.

Azar o Meu ✵ Tomco [THREE-SHOT]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora