Capítulo 4 - Pegando fogo

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Fico pensando sobre quantas pessoas têm essa fantasia de pegar um gato de arrasar na balada e dar um trato nele e depois fugir... Ficar com aquela sensação de proibidão nos pensamentos.

Fica aqui a minha curiosidade ...

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FABI

A paisagem majoritariamente rural entre Londrina e São Paulo trouxe um pouco de paz para aquietar o meu coração recheado de ansiedade.

Claudinha tinha conduzido grande parte do trajeto e eu só as últimas três horas, nos arredores de Itatinga, onde paramos para o almoço, até a entrada da capital.

Lá, devolvi a direção para ela. O trânsito louco da cidade era algo novo para mim e preferi não arriscar, o carro nem era meu e eu nada conhecia daquelas grandes e confusas avenidas. Para quem só pegava o 'poisé' do pai, que mais parecia uma carroça, dentro de Londrina ou para ir para Maringá, São Paulo era intimidadora.

Na ocasião da entrevista de emprego, quando tinha estado na cidade pela primeira e única vez, pousei em Congonhas e o taxi, que cobrou os olhos da cara para me levar até a Vila Olímpia, foi uma das poucas experiências no trânsito que eu tive. A maior parte do tempo eu tinha usado o metrô.

Da cidade, eu sabia onde ficavam a sede da empresa no Itaim, o hotel que a Claudinha dividiu o quarto, na clandestinidade, comigo, e a casa do gatinho que eu conheci, do lado do bar, pertinho do hotel.

Okay, tudo bem, "gatinho que eu conheci" não era exatamente o melhor termo. Eu tinha vivido a noite de Cinderela, com um pouco menos de inocência que ela, só que a danada era mais esperta, deixou o sapatinho de cristal e eu... não. Por isso que ela agarrou o príncipe e eu agora estava só sonhando acordada com ele.

Com duas malas de roupas e zero dinheiro no bolso, estava maravilhada com o apê da minha amiga. De última hora ela e o pai decidiram que um apezinho era melhor que a kitchenette, muito mais por causada localização e ele foi um achado, tudo fruto daquela semana da minha vinda a São Paulo.

Pequenino, tinha só cinquenta e cinco metros quadrados, mas com dois simpáticos dormitórios, sentia-me marajá no pequeno quarto que ela deu para mim, ainda sem cama, porque eu tinha vindo de supetão. Dormiria em um acolchoado no chão, até que recebesse meu primeiro salário para comprar uma cama de solteiro, o único tamanho possível naquele cubículo pelo qual já estava apaixonada. 

Mesmo dormindo no chão, a alegria não cabia dentro de mim, embora já morrendo de saudades dos meus pais.

Como é que a vida podia mudar tanto de um dia para o outro?

Tinha conseguido um emprego, estava em um dos bairros mais badalados de São Paulo e quer mais? Na companhia da minha melhor amiga. Assim do nada, a sorte grande tinha me escolhido e eu faria de tudo para retribuir aos cosmos, ao destino, ao que fosse, de tão agradecida que me sentia.

Você acha que é possível esconder a minha felicidade? Claro que não, jamais tinha estado assim tão radiante.

Tudo isso porque três dias atrás, aquela mesma empresa de São Paulo que tinha me rejeitado na entrevista, ligou no meu celular, voltando a me oferecer a vaga e é claro que em casos como esse, a gente engole o orgulho e ainda agradece. Finalmente eu estava empregada e vinha sendo como nós duas sempre tínhamos planejando, eu deixando Londrina para morar na cidade grande, com ela.

A noite daquele sábado começou cedo pra nós duas. A Claudinha pediu uma pizza e mal terminamos o jantar, cada uma foi para o seu quarto, pois o cansaço das horas na estrada falava mais alto que qualquer excitação para continuarmos tagarelando.

Provocação - degustaçãoWhere stories live. Discover now