Capítulo treze

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Eu estou quebrado

Então não me peça para continuar

Amor, eu não consigo

Deixe-me aqui, apenas vá

Siga seu caminho
     
                10 de outubro, 2016.

             O silêncio se estendeu sobre nós, enquanto o clima permanecia pesado. Seus olhos carregavam ódio, como se esse simples nome causasse uma guerra dentro dele.

Algo nele havia mudado, e isso me assusta.

Ele estava sério e, por um momento, acabou desviando o olhar. Era estranho vê-lo sem palavras, afinal, nunca achei algo que o afetasse.

Umedeci meus lábios, suspirando fundo. Eu precisava sair dali antes que aquilo se transformasse em algo pior, mas então ele suspirou e voltou a me olhar.

Quem te falou dessa pessoa, Clark?

Sua voz estava rouca.

Ele sabia exatamente quem me falou, mas sei que prefere ouvir a confirmação dos meus lábios. Desviei o olhar, me concentrando em um ponto qualquer do carro. Inspirei fundo, fechando meus olhos.

- Sam - sussurei, abrindo meus olhos e encontrando ele com a mão no cabelo - Quem é essa pessoa, Devil?

Então, no momento que terminei de falar, ele se aproximou perigosamente de mim. Seu rosto estava muito próximo do meu e o cheiro de perigo tomou o lugar.

Não é ninguém.

Mordi meu lábio inferior, enquanto ele olhava fixamente para mim. Então me afastei e saí do carro, deixando-o lá. Algo estava errado, então eu precisava fugir dele, do mundo, de mim.

Caminhei até a universidade e o barulho de seus passos ecoavam em minha cabeça. Quando me virei, o encontrei deslocado. Eu senti a dor tomar conta dele.

David Hall nunca foi e nunca será ninguém, Clark.

Um sorriso brotou em seus lábios.

Ele sempre foi um nada.

Então ele pegou um cigarro em seu bolso, colocando-o entre os lábios.

(...)

              11 de outubro, 2016.

As pessoas falavam com frequência sobre a morte de Sam, como se elas realmente se importassem com isso. Elas choravam sem parar, como se em algum momento de suas vidas tivessem passado mais de duas horas com o padre. A maior parte delas tiveram que depor sobre o terrível caso.

Inclusive eu.

O policial não parecia se importar tanto com a morte do padre. Ele perguntava o necessário e eu respondia apenas o que ele precisava saber.

As perguntas fluíam naturalmente, assim como minhas respostas também. Ele me olhava com desdém, enquanto uma prancheta e uma caneta estavam em suas mãos.

— Você o conhecia? — perguntou deixando as coisas na mesa e entrelaçando os dedos, olhando fixamente para mim.

— Sim — me limitei a dizer no começo, mas continuei — Ele era amigo dos meus pais, digamos que eram como irmãos.

Ele anotou algo em sua prancheta, logo depois voltou a me olhar. Ele continuou a fazer as perguntas, só que de uma forma fria.

— Ele não merecia — falei mordendo meu lábio inferior — Ele era bom.

Então um sorriso nasceu em seus lábios.

— Não sei se posso concordar, senhorita Clark — falou ganhando minha atenção — Ele foi acusado por pedofilia dentro da igreja, estávamos procurando-o.

Ele só é um maldito padre que passa a imagem de um bom homem para todos em nossa volta, mas quando as cortinas se fecham o show de horrores começa.

Sua voz chegou até meus ouvidos, enquanto eu tentava entender o que estava acontecendo ali. Foi como um soco no estômago, o qual fez cada parte do meu corpo doer.

Pedofilia?

Te vejo no inferno, Sam — pensei enquanto minhas mãos estavam trêmulas.

Então o policial se levantou, acabei fazendo o mesmo. Ele me olhou, como se pudesse sentir a tensão do meu corpo.

— Ele não era um santo — falou desviando o olhar — Ele estava muito longe disso, senhorita.

(...)

Noemy estava inquieta sobre o banco de madeira. Parecia não entender o que eu havia dito. Ela estava perdida naquele momento. Foi como se a negação chegasse até ela antes das minhas palavras.

— Eu o mataria também — falou suspirando fundo, logo depois me olhou — Eu arrancaria o amiguinho dele e faria ele comer.

Sorri.

— É uma ótima ideia — falei soltando a fumaça — Eu também faria isso se soubesse de seus crimes. Você pode entender o nojo e o repúdio que senti quando soube?

Ela assentiu.

Ficamos em silêncio por um instante, enquanto a brisa gélida tocava nossos rostos. Estávamos praticamente sozinhas na área aberta da faculdade.

Foi como nascer de novo.

Olhei para o lado encontrando Devil olhando para frente, enquanto seu cabelo balançava pelo vento.

Eu nasci no momento em que ele morreu.

Quando seus olhos me encontraram, esqueci de tudo a minha volta. Senti seu corpo se aproximar, até seus dedos tocarem a minha pele.

Ele estava quente como o próprio inferno.

Eu preciso de você, Clark.

Agora.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ouvi Noemy me dizer sobre alguém estar se aproximando. Quando olhei para frente, encontrei-o.

Dylan.

— Precisamos conversar.


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