Capítulo 27

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Sem contar os dias

Que me faz morrer

Sem saber de ti

Jogado à solidão

Mas se quer saber

Se eu quero outra vida

Não! Não!


— Djavan, "Te Devoro"


Dias atuais


Camila POV


Hoje é o meu aniversário.

E também o desembarque do Heart on Fire em Miami.

Passei a noite inteira em claro, sem conseguir pensar em qualquer outra coisa que não seja Lauren e as músicas que eu estava compondo. Durante o sereno da noite, a ideia de conversar com Lua e esclarecer as coisas me pareceu tentadora, mas, depois que Nathalie acalmou-se e resolveu me contar o outro lado da história, acabei optando por deixar o tempo passar.

Não tinha muito que fazer. Eu não podia forçar Lauren a conversar comigo ou a enxergar com clareza o que estava estampado na sua frente. Ela precisava de tempo, ela era a pessoa pela qual eu estava apaixonada e eu daria todo o espaço que fosse necessário.

Porém, isso não significava que eu não estava sofrendo.

— Você está pronta para ir?

DJ havia passado a noite no meu quarto, prestativamente me ajudando a escrever mais duas músicas para que Stuart não comesse nossos rins. Estávamos com a agenda apertada entre viajar para fazer uns shows e terminar as faixas do futuro CD da banda. Graças a Deus, em meio à tristeza na qual eu me meti, nós conseguimos criar alguma porcaria profunda. Dizem que toda compositora precisa viver emoções extremas, como felicidade e tristeza, para ser uma ótima profissional.

É, pelo visto, o que eu achava que era o fundo do poço depois que perdi Jennie foi apenas a entrada de um buraco mais profundo e solitário. E o que eu cogitei ser felicidade era apenas o reflexo de uma mentira. Lauren era felicidade, tudo sobre ela me fazia feliz, porra. Agora, ela era tristeza também, a mais profunda ausência e vazio dentro do peito.

Sentia falta da minha Cristal, da maneira como ela fazia eu me sentir. Seu corpo, seu toque, seus beijos e sua voz. Sim, em algumas malditas horas, sua ausência já se tornou uma ferida. Será que eu teria isso novamente? Será que ela me permitirá tê-la de novo? Com uma dor gigante no meu coração, a dúvida surgiu. Sorte que eu estava na lista das pessoas que acreditavam em sonhos. Eu sou o tipo de pessoa que pensa positivo até não ter outra alternativa, e, se eu aprendi alguma coisa sobre ser a Rockstar de uma banda como a The Rock Skull, é que nós nunca devemos parar de sonhar.

— Estou... — Respondi, içando a mala nas costas. — Temos que encarar a realidade agora.

A vida não era tão doce quanto os dias que passei a bordo do Heart on Fire. Eu tinha tantas coisas a fazer no instante em que colocasse meus pés em Miami que duvidava da possibilidade de conseguir dormir por mais de quatro horas por noite. Enfrentaríamos uma rotina de gravar as músicas que faltavam, tirar projetos do papel e dar cor a eles, fazer as fotografias para o novo álbum, entrar em um looping infinito de idas à casa do Stuart. Além, claro, das viagens para cumprir a agenda lotada.

Não ficaria em Miami por muito tempo nas próximas semanas, e isso me amedrontava.

Parte de mim queria parar todos os afazeres e ficar no meu apartamento, ou melhor, na minha casa mais afastada da parte central da cidade, o lugar onde eu mais me sentia confortável. Aquele sobrado era maravilhoso e ele abraçaria bem o fundo do poço no qual eu me encontrava. Seria assim por longos meses: eu afundada na lama por não poder tê-la para mim e o meu coração na merda, cansado demais para tentar reverter a situação.

Heart on Fire - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora