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Fazia 5 dias desde que Helena tinha sumido e ninguém tinha notícias. Eu não queria pensar no pior, mas ao mesmo tempo era como se eu já tivesse aceitado o pior.

O clima entre nós todos era de luto. Essa era palavra. Helena veio tão de repente e iluminou a vida de todo mundo com suas piadas e sua bondade. Era tudo tão simples com ela. Depois que ela surgiu nossa ideia de tempo mudou: duas semanas pareciam dois meses, e quanto mais o tempo ia passando era como se tivéssemos vivido uma vida ao lado dela.

E esse tipo de pensamento me fazia nutrir mais ainda o sentimento de que "ela nunca vai voltar", como se ela tivesse sido colocada na nossa vida de propósito e cumpriu seu dever de ser mais feliz e nos fazer mais felizes.

Ela me mudou, de verdade. Me tornei mais leve, mais livre, cresci e amadureci. Era pra ser.

Durante esses 5 dias, Larissa não desgrudou de mim nenhum segundo. Eu juro, ela só me largava pra ir no banheiro. Passou todos os dias aqui no hotel comigo, no meu quarto.

Eu percebi o quanto senti falta da nossa relação e de ter minha melhor amiga por perto. Eu realmente amava Lali e o quanto ela se preocupava comigo e cuidava de mim.

Lali transformou meu quarto num acampamento, uma festa do pijama. No chão do quarto, em qualquer espaço livre, tinha edredons, mantas e almofadas. Era o ambiente mais aconchegante que eu já tinha estado e foi aqui que eu passei todos meus dias até agora.

Eu e Larissa conversávamos o dia todo, víamos filmes e ela tentava me acalmar. Me colocava pra dormir e me dava comida, falava sobre séries e filmes e até jogamos vídeo games.

Era incrível que por alguns momentos ela me ajudava a esquecer completamente que estava sozinho. Eu sentia que tinha uma companhia pra vida inteira. Alguém que pararia o mundo pra me ver bem.

*Helena narrando*

Eu não aguentava mais não ver minha família, não ver meus meninos e não ver Joel. Me corroía por dentro.

Cinco dias aqui e eu só tinha direito a tomar banho. Não conseguia comer e não tinha nada pra fazer.

E foi nesse quinto dia que eu descobri o porquê de está vivendo esse pesadelo.

- Bom, acho que tá mais do que na hora de refrescarmos seu pensamento - Sara disse entrando no quarto.

A garota se sentou na minha frente.

- Temos que entrar num acordo e não sei quanto tempo vai demorar, mas - ela continuou - você precisa lembrar antes, né? - soltou uma risinho fraco.

- Prossiga - eu respondi, revirando meus olhos.

- Você sabe muito bem que entre nós há muito mais do que simplesmente não se gostar. Munca gostamos do mesmo menino e nunca houve uma briga por isso - Sara começou.

- Você tá me contando coisas que eu já sei por qual motivo? - eu já tinha perdido minha paciência.

- Para de ser estúpida, garota. Se você já sabe, para de fazer a sonsa - ela inclinou a cabeça com a maior prepotência - Trate de me deixar terminar.

- Continue.

- Eu achei que finalmente tivesse em paz depois de nunca mais ver sua cara, mas infelizmente te reencontrei e, demorou mas percebi que cometi o erro de te provocar com seu namoradinho já que você guarda um dos meus maiores segredos - Sara começou a falar.

Realmente, ninguém sabia mas no terceiro ano do ensino médio nós tínhamos um professor bem novinho, muito bonito e as meninas eram doidas por ele. Porém, foi Sara quem se relacionou com ele. E o pior: acabou engravidando, não contou pra ninguém (só os dois sabiam) e entregou o filho pra adoção.

Eu tive a infelicidade de ser a única a saber dessa história, ouvi sem querer os dois conversando e agora tenho que carregar comigo o peso do segredo dela e do professor.

Eu nunca contaria pra ninguém, nós já tínhamos falado sobre isso. Sara vivia na defensiva e na maioria do tempo a gente não se suportava, ela fazia questão de não entender que eu não dava a mínima e não era da minha conta.

Eu achava que esse assunto era passado... até agora.

- E QUE PORRA TUDO ISSO TEM A VER COM O FATO DE EU ESTAR AQUI? - eu bati com as mãos no colchão onde estava sentada, frustrada e deixando escapar as lágrimas que eu segurava há muito tempo - Você se toca de que cometeu um "erro" e eu pago por isso? Até quando vou pagar pelos seus erros?

- Vai se acalmando, minha linda - ela disse se levantando e começando a andar pelo quarto - Eu não tenho como adivinhar se você vai se vingar ou como vai se vingar depois de eu ter mexido com seu cantorzinho de reggaeton. E você guarda um segredo meu, preciso mesmo ficar te lembrando que preciso ter muito cuidado com você?

- Resume - eu disse sem paciência.

- Precisamos chegar num acordo definitivo sobre isso para finalmente vivermos em paz, sem eu sentir como se pisasse em ovos sempre que te encontro - ela definiu.

*Fim de Helena narrando*

Era noite e eu e Lali assistíamos Friends para ver se eu me acalmava e conseguia dormir.

- Obrigado - eu olhei para a menina que estava deitada do meu lado.

Ela segurava a cabeça com a mão enquanto apoiava o cotovelo numa almofada, hipnotizada com a série.

Ela me olhou e sorriu genuinamente.

- Obrigada por tudo que está fazendo por mim, de verdade. Por isso que não me lembro como era minha vida antes de você - terminei.

- Você não lembra porque você nem pensava naquela idade - ela riu alto e eu sorri junto - mas, eu já te disse que apesar de você não gostar de mim da mesma forma que eu gosto de ti, isso nunca vai interferir na nossa amizade. Em qualquer hora e momento que você precisar eu estarei aqui com você, fazendo de tudo pra te ajudar.

Eu continuei olhando pro rosto da menina sem dizer nada. Fiquei sem palavras porque eu sabia que era verdade e não sabia se eu era digno de um carinho tão grande.

Passei minha mão pelos seus cabelos e os coloquei atrás de sua orelha. Fiz um carinho em sua bochecha e vi a menina fechar os olhos e sorrir. Meu coração estava cheio de ternura.

Me sentei e abri os braços, recebendo um abraço forte de Lali.

- Você sempre me prova nos piores momentos o quão importante é na minha vida - disse em seu ouvido enquanto estávamos abraçados e ouvi ela suspirar.

Afastamos nossos corpos lentamente, mas mesmo assim Lali ainda segurava minha nuca então por alguns segundos colamos nossas bochechas, como se elas se abraçassem.

Movemos nossos rostos para finalmente a gente pode se separar, e em certo ponto só nossos narizes se encontravam encostados.

Nesse momento senti meu corpo esquentar numa adrenalina repentina e ouvi Larissa choramingar, soltando pesadamente o ar e cravando suas unhas no meu pescoço.

Eu a beijei.

Delicadamente encaixei meus lábios nos dela e foi a primeira vez, em todos aqueles 6 dias, que eu me senti preenchido.

Eu não sei se era carência, se era tristeza, se eu estava muito sensível mas durante todo o tempo em que nossas bocas estavam juntas foi como se eu tivesse esquecido todo sofrimento que eu sentia há quase uma semana.

Eu descobria carinhosamente cada textura dos lábios de Larissa até que nos afastamos e eu me deitei.

Caí no sono enquanto minha amiga fazia carinho em meus cabelos, me sentia protegido de toda a ansiedade que inquietava meu coração.

Pelo Som de Sua VozOnde histórias criam vida. Descubra agora