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Levantei-me da cama, calcei as pantufas e dirigi-me à casa de banho. Olhei-me ao espelho, pus a água a correr e lavei a cara.

Os meus olhos castanhos claros eram destacados do resto do rosto pelas olheiras que os salientavam, consequências de uma noite mal dormida.

O meu cabelo já não era cabelo, era uma juba castanha escura que me caía pelos ombros. Peguei na escova na tentativa de domá-la, tinha mesmo de conseguir se não o mais provável era ficar ao portão do Colégio sem me deixarem entrar! Dizia no Regulamento do Colégio de St. Peter:

"As alunas deveram ter o cabelo apanhado quando estão no Colégio. Como o prendem fica ao critério dos encarregados de educação e respetivos educandos. Apenas o poderão soltar nos dormitórios."

Decorei o que estava escrito pois na minha opinião era estúpido! Já não bastava ter que usar aquela farda horrível também tinha de pôr o cabelo como eles queriam! Então e a originalidade? Enfim tinha de me conformar. Fiz um rabo-de-cavalo e escovei-o uma última vez.

Voltei ao meu quarto, vesti a saia xadrez, a camisa branca, as meias azuis escuras até ao joelho e calcei os sapatos que combinavam com o resto do uniforme.

Desci as escadas e entrei na cozinha lá já estava a minha mãe, olhou para mim com os seus olhos verdes acastanhados cheios de ternura e sorriu-me simpaticamente:

- Bom dia querida!

- Bom dia mãe.

- O pequeno-almoço está aqui, come depressa para não nos atrasarmos!

- Ok mãe obrigada! - Depois ela sorriu-me de novo, era de facto impressionante a boa disposição e positivismo da minha mãe.

A sua vida não fora fácil. O pai abandonou-a aos 3 anos, deixando-a aos cuidados da minha avó. Ela criou-a como mãe solteira. Passados os anos a minha mãe casou-se e teve-me a mim.

Aos 5 anos o meu pai faleceu devido à explosão de uma mina numa guerra no Iraque. Não tinha muitas memórias dele, lembro-me que era moreno de olhos esverdeados, entroncado devido a ser militar e tinha o cabelo aloirado. Não me relembrava de mais nada, infelizmente.

Passados alguns anos da morte do meu pai perguntei à minha mãe porque não se tinha voltado a casar. Lembro-me da resposta dela perfeitamente, tinha guardado automaticamente quando a ouvira:

"-Tu e o teu pai são os meus dois grandes amores. Ele já não esta entre nós mas eu continuo a amá-lo como se estivesse. E sei que nunca na minha vida sentirei um amor igual ao que sinto por vocês."

Palavras sábias e profundas. O meu pensamento foi interrompido:

- Já acabaste de comer?

- Aah...- Olhei para a taça dos cereais, surpreendentemente estava vazia, era como se o meu cérebro estivesse apenas a pensar e as minhas mãos se tivessem encarregado do trabalho de me fazer comer o pequeno-almoço- Sim já terminei.

- Então pega na mala e vamos para o carro. Está na hora!

- Está bem...- Peguei na mala que estava encostada ao balcão da cozinha e andei até ao carro depois entrei e fechei a porta com a raiva, de ter de ir estudar para tão longe durante tanto tempo:

- Epá, estas com força!

- Parece que sim...- Depois a mãe arrancou, ligou o rádio, pôs na estação que dava músicas mais antigas e começou a cantarolar.

- I'm "wallaking" on sunshine oh oh oh...- Enquanto a mãe se ocupava com a cantoria enterrei-me de novo nos meus pensamentos.

Desta vez pensei na minha prima Amy. Nunca estivera muito com ela só uma ou duas vezes. A única recordação que tenho dela era uma foto. Nela eramos pequenas, não tínhamos mais de dez anos. Eu estava muito sorridente, ela não tinha uma expressão séria, uma franja a tapar-lhe os olhos azuis esverdeados que se destacavam da sua tez branca e bochechas rosadas. Não sabia mais nada sobre ela sem ser que frequentava o Colégio onde eu ia passar o resto do ano letivo.

Foi por causa da sua mãe, a minha prima afastada/ tia Emma que lá ia parar! Devido ao meu fraco desempenho escolar a minha mãe queria mudar-me de escola.

Não sou das melhores alunas, admito! Odeio todas as disciplinas exceto Inglês, pois adoro escrever, as outras como Ciências, Matemática, História...Achava dispensáveis. Por essa razão não me preocupava em estudá-las o que resultava em notas baixas, ou seja negativas.

Quando a minha Tia Emma informou a minha mãe de que a Amy estava a ter excelente resultados num colégio na Carolina do Sul ela nem pensou duas vezes! Pôr a sua filha de 15 anos num colégio interno a 100 Km de casa em pleno março de maneira a ela melhorar as notas pareceu-lhe uma excelente ideia!

Então informou-se, tirou-me da minha antiga escola, inscreveu-me no Colégio, encomendou a farda e em menos de duas semanas já podia frequentar o Colégio de St. Peter. O que para ser franca não me agradava de todo.

Olhei para o relógio, um quarto de hora de viagem já tinha ficado para trás.

Estava cada vez mais perto da prisão quer dizer Colégio! Sentia-me um pouco nervosa por ser a "Rapariga Nova", não parecia que aquele título me assentasse bem.

Na minha cabeça já estava a imaginar olhos fixados em mim quando entrasse pelos portões daquele sitio. Se calhar estava apenas a dar-me muita importância, com tantas alunas vestidas de igual como é que eu não podia passar despercebida?

Não era uma tarefa assim tão difícil já que na outra escola o fazia constantemente. Às vezes pensava que era invisível ou que estava coberta pelo manto de invisibilidade do Harry Potter ou alguma coisa assim, essa era a mais pura das verdades as pessoas simplesmente NÃO REPARAVAM EM MIM! Eu nem me importava pois já estava habituada...

A mãe mal abriu a boca durante a viagem. Achei estranho pois normalmente ela era muito conversadora durante as nossas longas viagens de carro. Se calhar estava só pensativa como eu.

***

A viagem estava a chegar ao fim, já só faltava subir a estrada de terra acidentada e esburacada que separava o Colégio no cimo do monte da vila lá em baixo.

Começámos a subir, cada vez que o carro andava mais para cima imaginava-o a descer a encosta e eu e mãe a espatifarmo-nos nas casas que estavam no seu começo.

- Não te preocupes que o carro não vai às cambalhotas até lá abaixo!- a mãe dissera aquilo como se estivesse a escutar os meus pensamentos e soubesse os meus receios quanto aquela subida ingreme.

- Sim eu sei.- respondi sorrindo. Mas a verdade é que não sabia. O medo de cair lá para baixo estava cada vez mais presente. Contei até dez como fazia sempre para me acalmar. Não resultou. Dei uma chapada a mim própria, acho que a mãe não reparou, espero eu! Disse mentalmente a seguir á chapada que me deixara vermelha na face:

"ACALMA-TE BETHANY! NÃO VAIS CAIR OK?"

- Ok!- respondi eu à minha consciência.

- O quê? Disseste alguma coisa querida?

- Não mãe não foi nada. - Oops! O meu "Ok!" sem sentido tinha sido em voz alta! Sem sentido para a minha mãe pois para mim era a resposta a uma pergunta ao qual eu tinha omitido a verdade. Deveria ter respondido à minha pergunta mental que não estava "ok" mesmo nada "ok"!

- Chegámos!- Exclamou a mãe que me apanhara de surpresa com a notícia. Respirei de alívio. Realmente já subíramos o monte agora estávamos paradas em frente aos portões do Colégio. Eram altos e estavam enferrujados. De repente como por magia abriram-se! Nem eu nem a mãe tocáramos alguma espécie de campainha, mas os portões já não estava fechados e era agora possível estacionar e entrar no Colégio...

Bom espero que tenham gostado do primeiro capitulo!

Sei que ainda não houve muita "ação" mas queria que ficassem a conhecer um pouco a Bethany e a sua vida antes de ir para o Colégio :D

O cast da mãe da Bethany (Marjorie) é a Jennifer Aniston, e o da Amy é a Megan Fox.

VOTEM E COMENTEM <3 :D

Boas leituras :D

Colégio de St. PeterWhere stories live. Discover now