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Depois de tomar um belo banho, dedico-me a arranjar a minha imagem. Se quero que corra bem tenho que estar apresentável. O meu currículo já está pronto desde que saí de Portugal. Sim, estou demasiado obcecada por este emprego. Mas é o meu sonho.

Antes de sair de casa, olho novamente para o espelho para me certificar que estou minimamente bem, já sinto os nervos à flor da pele e hoje vou apenas entregar o currículo.

As ruas estão muito movimentadas, coisa que ainda me é estranho. Ainda me estou a habituar a este ambiente. Esta cidade é deveras movimentada e tenho mesmo que me habituar a isso. Acho que não vai ser difícil.

Paro num pequeno café, quase em frente ao meu prédio e compro um chocolate quente. Para além de precisar de energias também preciso de sorte, e dizem que o chocolate dá sorte. Não sei, mas vou acreditar que sim.

Caminho por entre as ruas, milhares e milhares de pessoas apressadas, provavelmente para os seus locais de trabalho. Gosto de olhar o mundo desta forma, de observar todos os pequenos detalhes, e imaginar para mim mesma o que será que aquela mulher ruiva e alta faz na vida, ou no que é que aquele homem de jornal na mão está a ler. Pequenas e insignificantes coisas.

Deito o meu copo de chocolate quente ao lixo quando o acabo. Dou mais alguns passos e paro em frente ao grande edifício da Marks & Spencer. É agora. Respiro fundo e entro.

A grande loja divide-se em duas partes. Uma parte para roupa e outra parte para o hipermercado. Basicamente esta companhia tem lojas espalhadas por toda a Inglaterra e muito mais. Isto é um mundo. «Ok Charlotte, é só mais uma loja. Concentra-te no que tens a fazer, só vais entregar um mero currículo.», respiro fundo novamente numa tentativa quase falhada para me acalmar.

Dirijo-me ao balcão e espero que a atenção da empregada do outro lado se dirija para mim. Ela está completamente vidrada no computador, e pelo que consigo ver pelo reflexo nos seus óculos, está a jogar qualquer coisa. O seu cabelo é ruivo e tem uma franja reta, os seus lábios estão pintados num vermelho escuro e horrível. A sua pele é pálida e contém sardas nas bochechas. Não diria que tem mais de 25 anos.

Deixo-me tossir levemente para que a sua atenção seja virada para mim,

"Que quer?" a sua voz aguda e fria é ouvida. Ela olha por cima dos óculos com uma expressão chateada no rosto.

"Bom dia, eu vinha entregar o meu currículo." digo nervosamente.

"Ah, hmm vá ao escritório. Não sou eu que fico com isso." ela torna a responder rudemente. Estou a ver que a parte de tentar fazer algumas amizades no trabalho vai ser quase impossível se forem todos como esta.

"E, onde é o escritório?" estalo.

Ela olha-me novamente por cima dos óculos, segurando o queixo com uma das suas mãos. "Desça aquelas escadas, é a primeira porta à direita." diz apontando para as mesmas.

"Obrigada, Megan?" Meio que questiono olhando para o pequeno papel preso ao seu peito.

Megan rola os olhos e vira a sua atenção novamente para o ecrã do computador. Bem, espero que nem todos sejam assim, porque se realmente ficar cá estou metida num grupo de anti-sociais.

Desço as escadas e bato ligeiramente à porta que a Megan me indicou. Um "Entre" é dito por uma voz masculina e rodo a maçaneta da porta, abrindo-a lentamente e entrado pela mesma.

"Sente-se." a voz masculina soa novamente e a grande cadeira que antes estava virada para uma janela, vira-se para mim mostrando um homem novo e bem apresentável. "O que a trás por cá?"

"hmm, eu vinha entregar o meu currículo." digo nervosamente, o seu olhar verde encontra-se com o meu. Este homem deixa-me nervosa.

"Então vem candidatar-se para um emprego?" ele eleva um sorriso divertido.

After Thirty [n.h.]Where stories live. Discover now