Capítulo - 02

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Como estranhos
Perfeitos fingidos,
Estamos nos apaixonando perdidamente
Por algo que não é real,
Nunca poderia ser nós,
apenas eu e você

Sigrid – Strangers


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Sentada na cama, terminava de enfaixar a perna onde se cortou para não manchar suas roupas com o sangue que não havia conseguido estancar o sangramento. Vestiu a calça larga e preta com grande dificuldade, logo depois de vestir com dor nos braços a regata cinza e uma jaqueta velha e que já estava ficando pequena em seu corpo. Tentou usar a maquiagem da mãe pra esconder os ferimentos do rosto, mas esses estavam tão escuros e profundos que tinha medo de Darwin notar apesar da densa escuridão da noite. Viu se estava tudo certo antes de trancar a casa e sair.

Solitária, parou na frente da porta. O vento frio que passava ali causou-lhe um arrepio. Colocou o capuz e depois de um suspiro começou a andar firme até o prédio abandonado. Quem via Aurora andando assim na rua com um ar de confiança não imaginava o quão só e necessitada era a garota.

Encarou os tênis encardidos pelo tempo, depois ergueu os olhos encontrando assim sua única vizinha lavando a calçada da casa com a água que jorrava da mangueira a essa hora da noite. Quando seus olhos se encontraram a senhora já de idade os desviou em seguida. Ela sabia, e Aurora se lembrava de quando ela lhe negara algum tipo de ajuda.

Sua mãe tinha saído e fazia sete dias que não aparecia em casa, as prateleiras da despensa estavam vazias há três dias, ela não queria de modo algum mas teve de pedir comida a vizinha corcunda. Enquanto estavam ambas na sala de estar tomando sopa, ela viu bondade na senhora e com sorte, se pedisse da maneira certa ela iria com ela até a policia como testemunha.

"Volte para casa, e espere que tudo melhore se não irá ficar sozinha".

Foi só o que ela disse, antes mesmo da pobre garota concluir com o assunto e fazendo sua esperança evaporar lentamente, até virar o que é hoje, alguém que desacredita completamente e que encara "a luz no fundo do poço" como algo inexistente.

Aurora volta a se concentrar no caminho que percorria, a polícia da cidade era horrível, de fato incompetentes, preguiçosos, que só iam ao trabalho por conta do café de graça. A cidade era tão vazia, principalmente a noite, nenhuma alma era encontrada a não ser a de Aurora.

Existe um problema em ficar sozinha no silêncio sem algo para se concentrar, é nessa hora que seus pensamentos se apoderam da sua mente, te sufocando devagar.

"Diga-me por que você é assim!"
A frase que sua mãe gritou mais cedo ecoa em sua mente, diversas vezes como um murmúrio.
Por que você é assim Aurora? Por que não consegue fazer nada certo? Qual o seu problema afinal? Por que tão inútil? Porra. Por que você não se mata logo?

Ela já cogitou várias e várias vezes, mas agora era tão diferente, ela sentia um ar de firmeza ligeiramente diferente em sua alma. Ela queria de verdade poder fazer isso, mas tinha tanto medo. Não que seria capaz de cortar os pulsos e vê-los sangrar até a morte.

Devia ser algo rápido, e sem dor. Um tiro de uma bala talvez. Certeiro, na cabeça. Mas ela seria capaz de apertar o gatilho?

Ela virou a esquina em que ficava o prédio abandonado. O prédio onde pessoas desabrigadas, mendigos dormiam; o prédio onde Darwin estava. Ela se aproximou mais do lugar escuro e frio. Quando entrou, se surpreendeu ao ver poucas pessoas enroladas em seus cobertores deploráveis deitadas no chão. As pessoas já a conhecia, ela visitava o prédio sempre que dava então não ficavam com medo e nem se moviam ficando em uma posição defensiva.

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