01 - Novo habitante

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Ignis Griffim

Chamas vivas e quentes se espalhavam por toda a cidade. As ruas eram cobertas por fumaça e as pessoas corriam desesperadas de um lado para o outro, sem saber ao certo como se proteger daquela grande onda vermelha que se alastrava mais e mais a cada segundo. As árvores, que antes exibiam beleza por suas folhas alaranjadas, agora estavam cinzas e secas devido ao incêndio. A floresta que fazia parte do cenário daquela singela cidade havia sido destruída, assim como a esperança dos cidadãos em presenciar um novo dia. Sorrisos e gargalhadas foram substituídos por gritos e sangue. Era um caos. Era um pesadelo. Um quente e assustador pesadelo!

Acordei assustado com minhas pálpebras se arregalando, tinha sido apenas um sonho ruim, mais um entre muitos que eu havia tido nessas últimas semanas. Vários pensamentos inundaram minha mente. Um incêndio? Em uma pequena cidade? Será que me mudar seria tão horrível assim? — Talvez a mudança não fosse o grande problema, mas as circunstâncias que eu me encontrava para precisar ir morar com minha avó Esther Griffim, em uma cidadezinha chamada Stowe, localizada no interior do estado de Vermont, sim — pensei comigo mesmo.

Aquela pequena e graciosa cidade era um espetáculo de beleza, segundo minha avó. Fora o lugar onde ela nasceu, cresceu e estabeleceu família. Onde conheceu meu avô em um dos lindos campos de grama baixa e flores das mais variadas cores. Fora o lugar em que viveu uma linda história de amor. Amor esse que resultou no nascimento dos irmãos Richard e Ethel Griffim, meu tio e minha mãe, respectivamente.

Eu costumava morar com minha mãe, vivíamos uma vida difícil em Montpelier, capital de Vermont. Morávamos em uma casa com pouco mais de 5 cômodos: dois quartos, um banheiro, uma cozinha e uma sala com TV. Quando eu tinha 14 anos, ela foi diagnosticada com câncer de mama. E então tudo começou a desandar, o tratamento era muito caro e a medicação também. Conseguíamos nos virar com muito esforço, mas chegou um período que a intervenção do meu tio se fez necessária e ele passou a morar com nós. Foram 3 anos difíceis e minha mãe acabou falecendo há pouco mais de 2 semanas. Desde então, meu tio vem cuidando de mim. Sei que não posso continuar fazendo isso com ele, afinal, Richard tem uma vida fora daqui.

— Sim, é por isso que estou indo morar com minha avó. Eu disse que os motivos não eram bons — respondi mentalmente para mim mesmo.

E meu pai? Não cheguei a conhecê-lo, ele morreu antes do meu nascimento em um acidente de carro. Isso mesmo, qual a probabilidade de ser órfão e passar por uma mudança repentina dessas? Bom, para mim, essa probabilidade indica 100% de chances.

Olhei para o lado e avistei meu despertador em cima do criado mudo, ele marcava 3:37 da manhã. Precisava dormir, o dia seguinte seria bastante enfadonho. Voltei a me enrolar com o grosso lençol cujo tecido não sabia identificar e logo senti meus olhos se fechando...

-----X-----

10:53 da manhã. Minha mala estava pronta, o carro abastecido e meu tio já estava fechando a porta que dava entrada para minha antiga casa. A casa em que vivi toda minha vida. Confesso que estou em partes aliviado com essa mudança, seria impossível seguir em frente vivendo em um lugar que me lembrava de tudo que perdi, cheio de recordações e momentos que compartilhei com minha amada mãe.

— Pronto? — perguntou meu tio logo após se posicionar ao meu lado e levar uma de suas mãos para meu ombro, em um gesto de solidariedade. Agora os dois observavam a pequena casa à frente.

— Sim.

— Então vamos, é um longo caminho até chegar em Stowe — dito isso, caminhou até a porta do motorista e entrou dentro do carro.

— É, tá na hora de recomeçar. — fui de encontro ao carro onde meu tio me esperava, logo após pronunciar aquela frase em voz alta.

O caminho estava incrivelmente silencioso, a única coisa que não deixava aquele ambiente em silêncio absoluto era uma música qualquer que Richard insistia em ouvir pelo rádio. Sabia que seria uma longa viagem, portanto tirei o mesmo lençol que havia dormido na noite anterior e me cobri. Encostei a cabeça no vidro da janela do carro e fiquei esperando o sono vir, o que não demorou, admito.

The four elementsWhere stories live. Discover now