05 - Edelweiss

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Amandy White

A água invade meu quarto, seu nível vai aumentando lentamente; corro em direção a janela para tentar abri-la e me salvar, mas estava emperrada. Tento gritar, mas a voz não sai. Bato com força no vidro da janela com esperança de que ele quebre e eu possa pular, mas é tudo em vão e o nível da água já está na minha cintura e eu não consigo fazer nada para sair daquele lugar. Olho em volta e vejo todos os meus livros flutuando no meio do quarto, um deles estava aberto e mostrava a fotografia de um homem que eu não reconhecia. Ele me olhava e seu rosto expressava medo, seus olhos seguiam todos os meus passos e ele parecia saber que estava sendo levado pela água que agora cobre todo o meu corpo. Começo a me debater numa falha tentativa de sobreviver, pois tenho certeza que aquela é a minha hora; eu não tenho chances. Me desespero e luto contra uma água furiosa com todas as minhas forças, um barulho infernal de uma construção que estava acontecendo ao lado me acorda e percebo que estou molhada em cima da minha cama e por alguns segundos penso que foi real, mas era apenas suor. Mantenho os olhos fechados por alguns minutos e lembro do homem da fotografia,

— Quem ele era? Por que ele apareceu no meu sonho? Se é que aquilo pode ser chamado de sonho... — pergunto para mim mesma em voz alta.

Pego o celular na escrivaninha ao lado da cama e vejo que são 14h da tarde; dormi tarde e acordei mais tarde ainda. Me levanto e vou direto para o banheiro, faço minhas higienes, escolho um vestido preto soltinho com uns detalhes geométricos e prendo meu longo cabelo negro com um coque alto. Desço até a cozinha a procura de alguém:

Meu pai estava sentado na bancada da cozinha com um jornal na mão e um copo de café na outra. Seus cabelos ficavam cada dia mais brancos e eu nem precisava olhá-lo para saber que ele estava naquele exato local vestido com sua calça social e camisa azul engomada. Ele tinha uma coleção de camisas azuis de tons diferentes, nunca entendi porque a fixação dele com essa cor, mas ele diz que: "de acordo com a cromoterapia, o azul representa serenidade e confiança, isso faz com que as pessoas deem mais importância ao meu trabalho".

— Pai? Mãe? Onde vocês estão?

— Boa tarde, querida. Pela sua cara imagino que a noite não foi boa, o que houve? — questiona meu pai com sua doce voz rouca.

— Não foi nada demais, só um sonho ruim. Cadê a mamãe?

— Ligaram do hospital por volta das 4h da madrugada, sua mãe teve que ir.

Minha mãe, Amy White era uma mulher maravilhosa, mesmo que o seu jeito superprotetor me irritasse, eu amava ela. Mas ela era médica, a única da cidade, por isso não nos víamos com frequência em casa. Essa é uma das desvantagens de se morar em uma cidade com 4.000 mil habitantes e com apenas um profissional de cada área. Meu pai, Andrew White era escritor e escreve sobre coisas locais, foi daí que surgiu meu amor por ler e pesquisar as lendas daqui, que são muitas por sinal...

— O senhor vai sair?

— Sim, querida. Vou até a estação de esqui encontrar com um jovem que me ajudará no meu próximo projeto.

— Posso ir com o senhor até o Edelweiss?

— Vai encontrar algum amigo por lá?

— Não, papai... o senhor sabe que eu não tenho amigos para encontrar, só estou com vontade de comer um daqueles deliciosos bolinhos enquanto leio.

— Tudo bem, então vamos.

Meu pai e eu entramos no carro e seguimos até o Edelweiss, um restaurante que ficava próximo a estação de esqui e estava sempre cheio de turistas, mas hoje era o último dia de férias então provavelmente não haveria muitos turistas por lá hoje. Eu amava aquele lugar, o cheiro, a localização, até mesmo as famílias que levavam suas crianças que não paravam quietas e faziam barulho demais, aquilo o tornava um lugar alegre, cheio de vida, bem diferente do que sou...

— Consegue voltar sozinha?

— Sim, senhor White. Até mais tarde — falo batendo a porta do carro e indo em direção a entrada do restaurante.

Assim que entro, sinto o cheiro de uma fornada dos maravilhosos bolinhos de chocolate, os meus preferidos... Posso dizer facilmente que são ao melhores de toda Vermont. Sento em uma mesa um pouco distante das demais e vejo quando um garçom se aproxima.

— Olá, senhorita White. Deseja algo?

— O bolinho de sempre e um café, por favor.

— É pra já!

Não estranhei o garçom me chamar pelo meu sobrenome, a cidade é pequena e todos se conhecem; eu também o conhecia, seu nome era Joe, Joe Smith. Um rapaz simpático e trabalhador que apesar de tudo era anônimo por aqui devido sua posição social.

Enquanto aguardo meu pedido, tiro da bolsa um livro e começo a ler quando ouço alguém falar meu nome, olho em volta e percebo que duas colegas estão sentadas na mesa da frente, Caeli Collins e Chloe Wilson, as patricinhas da escola. Ignoro a presença das duas e retorno a atenção para a minha leitura que é interrompida mais uma vez, dessa vez pelo garçom que traz meu pedido.

— Mais alguma coisa, senhorita?

— Não, Smith. Obrigada — falo em resposta.

Tomo meu café rapidamente, guardo meu livro de volta na bolsa e como o percurso até em casa é curto, decido ir caminhando mesmo. Durante o caminho, passei próximo a um pequeno lago e aquilo me lembrou o meu sonho, o que me fez imaginar aquele homem desconhecido tendo sua imagem coberta pela água. Aquele sonho não foi um sonho comum, eu preciso descobrir quem é aquele homem, mas como? — balanço a cabeça na tentativa de fazer meus pensamentos sumirem e é quando eu sinto que uma gota cai sobre meu nariz. Olho para cima e vejo que o céu se transformou de repente, agora há uma nuvem carregada acima de mim e logo a chuva vai engrossar.

— Ótimo, era só o que faltava pra completar o meu dia, chuva! Em pleno fim de verão! — exclamo em tom alto o suficiente para que algumas pessoas me olhem estranho na rua.

Começo a correr para fugir da chuva e agradeço por estar perto de casa.

Ao chegar, noto que o carro do meu pai ainda não está na garagem; pego um molho de chaves na bolsa, abro a porta e para a minha surpresa minha mãe está lá, sentada no sofá branco da sala com os pés estirados na mesinha de centro assistindo um programa aleatório na TV.

— Mãe? O que faz aqui tão cedo?

— Minhas consultas acabaram e vim pra casa. Onde estava, minha filha? Você está ensopada.

— Só saí pra tomar um café e acabei pegando essa chuva.

— Vai se trocar antes que pegue um resfriado, querida.

— Já volto, mãe.

Subi as escadas correndo e fui direto tomar um banho. Ao terminar, visto uma calça vermelha xadrez que uso para dormir e coloco um moletom cinza quentinho. Agora que estou confortável com menos chances de adoecer e faltar logo no primeiro dia de aula diminuíram, desço de volta para a sala.

— Prontinho, senhora White. O que está assistindo?

— É um programa de culinária, mas isso está me deixando com tédio. Está com sono? Quer ver um filme comigo?

Ver filmes com a minha mãe era meu passatempo preferido quando criança, mas com o tempo as oportunidades foram diminuindo e agora isso quase nunca acontece. Como amanhã era meu primeiro dia de aula e eu tinha certeza que não iria ter essa chance novamente tão cedo, me dirigi até a cozinha para fazer uma pipoca e pegar dois copos de guaraná; era o preferido da minha mãe e apesar de não ser saudável, tomávamos todo fim de semana. Quando voltei para a sala, minha mãe havia escolhido uma comédia romântica, meu gênero preferido. Sentei ao seu lado com a cabeça recostada em seu ombro e ficamos ali, em silêncio, rindo de vez enquanto de algo engraçado que passava.

Na metade do filme minha mãe já estava dormindo e eu já havia dado vários cochilos, foi quando meu pai chegou e nos acordou para irmos dormir em nossos quartos. Ainda sentindo o sono me dominar, subi as escadas e me joguei na cama lembrando que amanhã teria aula e infelizmente teria que voltar para minha velha rotina... 


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