Capítulo 29

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_ Pode me dizer o que houve. _ Falo assim que estaciono o carro numa praça longe da escola. Olho para Ruan e o vejo encarar a rua.

_ Quando fui para casa ontem, arrumei minhas malas e disse que estava indo embora, me despedi do meu filho, expliquei que não podíamos continuar naquela situação, mas Bianca não aceitou. Afirmou que eu estava sendo um péssimo pai e ameaçou não me deixar mais ver meu filho. _ Morde o lábio inferior tentando controlar as lágrimas _ Falei que se ela fizesse isso, entraria na justiça para pedi a guarda dele e saí de casa. Fui para um hotel. Já de noite, recebi uma ligação do porteiro do prédio dizendo que Bianca estava tentando se jogar da janela do apartamento. Quando cheguei lá, convenci ela a descer da janela, mas afirmei que não voltaria para o apartamento. A gente discutiu e eu saí novamente, Bianca veio atrás de mim e se jogou na frente de um carro que passava na rua. Ela está no hospital, fora de perigo, mas Cauã viu tudo e está bastante assustado, não quer que eu chegue perto dele. Não sabe como foi ver meu filho se encolhendo por medo de mim, do pai dele.

_ Mozi eu não sei como está se sentindo, não posso dizer que te entendo, mas seu filho te ama, eu sei disso. Cauã está traumatizado, acabou de ver a mãe ser atropelada depois de brigar com o pai, a cabecinha dele está confusa nesse momento. Ele só tem cinco anos. Porém, quando tudo se encaixar e ele conseguir entender melhor tudo isso, vai voltar a ser como antes. _ Seguro sua mão e fico o olhando por alguns minutos até que Ruan beija minha mão e enxuga suas lágrimas.

_ Tenho que buscar Bianca e Cauã no hospital. Pode me levar? _ Sento direito no banco e ligo o carro _ É o hospital aqui perto. _ Assim que chego no lugar, Ruan respira fundo e desce do carro. O sigo para dentro do hospital e seguro seu braço quando sinto um arrepio na espinha, detesto esse lugar. Ruan passa o braço por meus ombros e beija o topo da minha cabeça.

_ O que faz aqui? _ Bianca pergunta grossa assim que chegamos ao quarto em que ela está.

_ Vim buscar vocês, está de alta. _ Ruan responde calmamente.

_ Não está ocupado demais agradando sua namorada? _ Reviro os olhos. Ruan se afasta de mim e vai até Cauã no sofá.

_ Vamos para casa, garotão? _ O menino levanta e corre para perto da mãe.

_ Leva a sua namorada para casa, ela é mais importante que seu filho, não é?

_ Cauã, meu pequeno, vem aqui. _ Chamo o menino e me abaixo quando ele se aproxima de mim _ Você gosta de sorvete? _ Pergunto.

_ Sim. _ Responde ele.

_ Quer tomar um agora comigo? _ Afirma com a cabeça sorrindo _ Se despede da sua mãe e me espera ali no corredor então. _ Levanto enquanto o garoto diz tchau para sua mãe e sai do quarto.

_ Está tentando comprar o amor do meu filho com sorvete? Que baixaria... _ Me aproximo de Bianca.

_ Está tentando fazer a cabeça do meu namorado usando o seu filho? Que baixaria... _ Sorrio de lado _ Acho melhor você tomar cuidado com o que faz e diz, Bianca. Não me conhece. _ Pisco para ela saindo do quarto. Cauã me esperava no corredor _ Vamos? _ Pergunto estendendo minha mão e ele segura a mesma.

_ Mamãe disse que você é má, mas eu acho que você é boazinha. _ Diz ele enquanto andamos até a sorveteria.

_ Sua mãe não gosta muito de mim. _ Falo _ Mas o importante é que você goste de mim, fico feliz com isso.

_ Eu gosto de você. _ Sorrio.

_ Também gosto de você. _ Chegamos na sorveteria, compro os sorvetes e levo Cauã para a praça do hospital. Sentamos em um banco e o observo tomar seu sorvete de flocos.

_ Eu acho que quem é mal é o papai.

_ Por que acha isso? _ Pergunto surpresa com sua afirmação repentina.

_ Papai bigou com mamãe, pó isso que ela tá no hospital. _ Diz.

_ Cauã, deixa eu te explicar uma coisa. _ Ele me olha _ A sua mãe estava muito triste porque seu pai saiu do apartamento, eles brigaram e ela quem quis está nesse hospital, seu pai não tem culpa.

_ Mas porque ele saiu de casa se não quelia nada de ruim pá mamãe? _ Suspiro.

_ Você sabe que eu e papai somos namorados, não é? _ Afirma com a cabeça _ Quando você crescer vai entender melhor, mas estava me magoando ver seu pai morando com sua mãe, sabe? Eles não estão juntos e eu namoro o seu pai, não estava dando certo.

_ Você não quer que eu fique com o papai? _ Suspiro.

_ Não, não é isso. Vou te contar um segredo e você não pode contar para ninguém, tudo bem?

_ Sim.

_ Eu tenho medo do seu pai querer voltar a namorar com sua mãe. _ Falo baixo.

_ Mas o papai ama você. _ Sorrio.

_ E ele te ama também. Sabia que ele chorou hoje porque você não estava falando com ele?

_ Mamãe disse que eu tinha que ter medo do papai. Ela disse que se eu não fizer isso, não vai me dá lanche nem de manhã, nem de tarde e vai me bater. _ Fico surpresa com o que ele diz.

_ Sua mãe deixa você sem lanche? _ Pergunto.

_ Ela disse que não tem paciência nem tempo pá perder comigo, às vezes me deixa sem tomar café da manhã.

_ Seu pai não vê isso? _ Nega com a cabeça.

_ Ele sai de casa cedo. _ Me ajeito no banco e o olho preocupada.

_ Sua mãe bate em você? _ O menino abaixa a cabeça e parece pensar um pouco _ Pode confiar em mim. Se me contar tudo, não vou mais deixar sua mãe fazer isso com você.

_ Ela disse que eu não posso contar. _ Fala.

_ Confia em mim. _ Peço.

_ Quando não obedeço mamãe, ela me bate de cinto e não deixa papai me vê tomando banho. Tenho que fingir que não gosto de você pá ela não me bater. _ Vejo Ruan se aproximando da gente.

_ Não vou deixar que nada te aconteça. Seu pai está vindo, pode abraçá-lo, se quiser. _ Falo.

_ Bianca já está no carro, vamos? _ Cauã levanta e abraça o pai.

_ Vamos. _ Responde o menino sorrindo. Jogo a casquinha de sorvete fora e caminhamos até o carro.

A Filha Do Diretor (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora