Capítulo Quarenta e Quatro

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O restante da semana se sucedeu de forma calma, sem muitos imprevistos. Porém creio que com tudo o que havia acontecido não sei se aguentaria maiores emoções.

Graças à Deus Henrique não me procurou mais. 

É estranho como nós nos permitimos viver certas coisas, e no final conseguimos compreender o quanto crescemos com isto. Desde pequena meus pais me ensinaram, e me incitaram a ser uma pessoa questionadora, que não aceita as coisas apenas por aceitar. 

Lembro-me de inúmeras vezes ouvir meu pai dizer que quando descobrimos o que Deus pensa acerca de nós aprendemos a conhecer à nós mesmos com base no que Ele diz sobre a gente. É muito louco pensarmos desta forma, e talvez até confuso, mas Deus nos ama, isso é claro. 

E de certa forma ouvimos isto desde que nos entendemos por gente, mas quando sentimos este amor as coisas mudam. Descobri que nunca aceitaria um relacionamento abusivo por saber que Deus nunca me trataria desta maneira, e eu apenas aceitaria o que Ele estava disposto a me oferecer. O melhor. 

Durante muito tempo achei que Henrique fosse o melhor, contudo não era. Hoje vejo isso. 

Deus havia preparado algo melhor, muito melhor, para mim. E por mais que tenha conhecido Davi de uma forma atípica, ainda assim era a vontade dEle que nós nos conhecêssemos.  E suas experiências se tornam maiores, e melhores quando permitimos que o Autor da existência nos guie. 

É incrível isso! 

-Juh. -A voz de Drica me tirou de meu pequeno transe. 

-Sim? 

-Vou fazer um café da tarde pra gente, beleza? 

-Nunca descordaria disso. 

Vejo-a sorrir. 

O sol já está se pondo, e os variados cadernos estão jogados em minha mesa, hoje é uma sexta onde não terei aula. Contudo creio que mesmo se tivesse não iria por conta deste trabalho que está me deixando louca. 

Retomo minha leitura do texto anotando as ideias principais. 

-Amiga? 

-Hm? 

-Vou precisa ir na padaria, acabou o pó de café. -Diz passando pela mesa onde estou e seguindo para seu quarto, retornando logo em seguida. 

-Tudo bem. -Respondo. 

Drica assente e caminha em direção á saída, apenas ouço a porta se fechar. 

Torno a me focar no texto que não parece fazer muito sentido pra mim. Meu celular vibra sobre a mesa, e por mais que devesse ignorá-lo o pego. 

Vejo que há uma mensagem de Davi, e isso me faz sorrir. 

Amor, 19:10.

'Oi, tudo bem?'

Julia, 19:11.

'Oiii, tudo sim e você?'

Amor, 19:11.

'Tudo também. Onde está?'

Julia 19:12. 

'Em casa estudando! Por que tanto texto Davi, por que?????'

Amor, 19:12.

'Não sei, amor kkkk. Espero que se dê bem com a matéria e com o trabalho que está fazendo.'

Julia, 19:12. 

'Obrigada, vou precisar.'

Um barulho me faz desviar do celular. Era a porta se abrindo. 

-Esqueceu o dinheiro, Drica?-Pergunto esperando ver minha amiga, contudo o que vejo faz com que me levante em um solavanco. 

-Oi. 

-O que faz aqui? 

-Eu disse que precisamos conversar. 

-Henrique sai da minha casa! 

Droga! Droga! Droga, eu não tinha avisado o porteiro! Como fui me esquecer disso? 

-Apenas depois de você admitir que ainda sente algo. -Diz se aproximando. 

-Por favor. Eu vou chamar a polícia. 

-E dizer o que? Que ainda ama o seu ex? -Um passo dado em minha direção. Recuo. 

-Henrique, você nunca foi assim, não precisamos fazer isso dessa maneira. 

-Sabe, não tinha percebido o quanto te amava até saber que realmente está com outro. 

Mais um passo. Agora outro, ele está ficando próximo demais. 

Recuo mais um passo, sinto a parede do corredor que dá acesso a porta de entrada em minhas costas. Desvio meu olhar para porta, posso correr, não posso? 

Antes que possa agir ou algo do tipo, sinto sua aproximação. Torno-o a fitá-lo, está tão perto, sua respiração se mescla a minha. Engulo a seco sentindo o ar por um segundo faltar. 

-Henrique. -Meu tom de voz soa como uma súplica.

-Eu ainda te amo. E sei que sente o mesmo. 

Abro minha boca para respondê-lo, porém a porta se abre, para meu alivio. Viro-me para vizulizar minha amiga, contudo o que vejo causa uma confusão ainda maior. 

-Davi não é o que está pensando! -É a primeira coisa que digo me desvinculando de Henrique que talvez pela surpresa me permite passar sem nenhuma restrição. 

Davi reveza o olhar entre mim e Henrique, ele parece abalado. Droga, deve estar interpretando tudo errado. 

-Amor. -Chamo-o me aproximando ainda mais. 

Vejo-o abrir a boca para dizer algo, porém a fecha logo em seguida.  

-Davi não é o que está pensando. 

-E o que é que eu estou pensando? -Pergunta seriamente, aproximo-me, contudo ele recua alguns passos. 

-Eu não o convidei, ele apenas entrou na minha casa e tentou me beijar. -Explico um tanto apressado, e desajeitado. 

-Como ele sabe onde você mora se nem no Brasil ele estava? -Pergunta parecendo decepcionado. -Quer saber, esquece. -Diz virando-se e caminhando em direção ao elevador. 

-Não, Davi, você precisa me escutar. -Digo puxando-o, e o fazendo se virar para mim. 

Ele, porém, não diz nada. Apenas me fita, e por um momento juro ter visto seus olhos marejados, contudo as portas do elevador se abrem e ele adentra. Tento segui-lo, mas o mesmo não me permite. 

-Agora não Julia. -É a última coisa que ele diz antes que as portas de metais se fechem novamente, apenas deixa seu olhar decepcionado que me perfura para trás.

O desespero me consome e então consigo mover-me novamente. Abro a porta que dá acesso as escadas, contudo antes que conseguisse adentrar sinto uma mão segurar-me. 

-Você não vai atrás dele. -A voz de Henrique soa assustadora. 

-Não, quem não vai fazer nada é você! VAI EMBORA! -Grito, ele parece assutado com minha reação, então me solta. 

Começo a descer as escadas em um ritmo frenético. Sinto-me ficar um pouco ofegante por estar correndo. 

Não sei dizer ao certo, contudo percebo algumas lágrimas escorrerem por meu rosto. 

Preciso alcançar Davi, este é meu único pensamento. 
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Só vem pro último capítulo amores!

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