d é m o n s

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As gotas frenéticas que caiam com força contra meu corpo pareciam levar para longe todas as impurezas que corroíam a minha pele

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As gotas frenéticas que caiam com força contra meu corpo pareciam levar para longe todas as impurezas que corroíam a minha pele.

Minha respiração estava completamente descontrolada, seguindo uma sequência interminável de suspiros e soluços. A dor presente em meu peito se misturava com a dor inconfundível dos meus olhos, os mesmos ardiam profundamente por conta das lágrimas que os enchiam rapidamente.

A dor não conseguia passar despercebida, mesmo depois de ser sentida incontáveis vezes por conta do mesmo motivo.

Eu não conseguia entender.

Na verdade, demorei tempo demais para entender.

Assim como ela.

A única diferença era que apesar da minha inocência, eu conseguia ver claramente que havia algo errado, apesar de ver apenas o que me era permitido através do véu branco jogado em meus olhos,  nos momentos em que ele caía, o errado estava bem ali. Sutilmente mascarado.

Porém, a mulher com belos cabelos castanhos e olhos azuis não parecia ter algo que a impedia de ver claramente, a não ser sua "paixão" precoce que percorria suas veias e dificultavam seus movimentos mais racionais.

Ela estava cega.

E a pior cegueira é aquela que te impede de ver o óbvio e o certo.

Pois parece que a escuridão é substituída pela dependência e o "amor" por aquilo que você não é permitido de enxergar.

Lágrimas.

Elas sempre caíam dos seus belos olhos que pareciam com os meus, mas que a mesma insistia em dizer que se pareciam com os olhos do homem que ela mais amou na vida. Desde tal declaração eu não consegui mais ver os olhos dos seus acompanhantes da mesma forma. Desejava desesperadamente por aqueles que tinham olhos azuis turquesa, repetindo a mesma pergunta cheia de esperança.

"Você é o meu papai?"

A resposta programada sempre vinha acompanhada por um riso arrogante e uma malícia no olhar.

"Sim."

E eles sempre eram.

Temporariamente.

Até que algo acontecesse e tivéssemos que ir embora das suas casas ou de suas vidas.

Talvez fosse aquelas batidas.

Eram aquelas batidas.

Batidas.

As gotas de água que caíam freneticamente das suas torneiras quebradas era o som em que eu me concentrava para não escutar aquele barulho agonizante.

Todas as vezes que eu o ouvia, fazia o que ela sempre me mandava fazer em tais situações. 

Corria para debaixo da cama com meu ursinho e o abraçava, colocando minhas mãos com força nos meus ouvidos até não escutar mais aqueles sons, enquanto murmurava incansavelmente a música que ela havia me ensinado ao cantar todas as noites para mim, mesmo tendo a presença de um dos homens que ela ficava na porta, apenas aguardando impacientemente os momentos que ela tinha comigo se esgotarem.

RUINESWhere stories live. Discover now