Amor de ieti

8 5 0
                                    

Vou contar como foi o dia em que finalmente decidi renunciar de uma vez aquele deus, que não trazia nada real para mim, era tudo passageiro mesmo ele estando lá todos os dias e como encontrei alguém muito especial para mim.

Era véspera de natal e como sempre meus pais e meus irmãos estavam preparando as oferendas para o nosso deus, quem era esse deus? O papai Noel, estranho eu sei. As frutas mais vistosas que tínhamos em casa seriam todas dele, e eu detestava esse fato, trabalhava o ano inteiro com meus irmãos, sempre correndo perigo fora da zona mágica e não tínhamos direito de comprar nada para nós, apenas economizar e comprar comida para aquele cara. Saco!

Eu não me envolvi em nada na preparação da oferenda, tinham carnes, os melhores pratos da minha mãe, resumindo, tudo de mais gostoso era para ele, tudo isso para não congelar no inverno, que já havia começado.

- Venha Lia, coloque seu desejo na cesta! – meu irmão mais novo puxou meu braço.

- Não obrigada, esse ano não vou querer nada. – disse o olhando e ele ficou confuso.

- Como assim nada filha?- meu pai perguntou.

- Ele não pode realizar meu desejo este ano. – disse segura.

- Como assim, não pode? Ele é nosso deus, pode tudo. – minha mãe apareceu.

- Eu vou contar pessoalmente a ele meu desejo. – disse séria.

Não queria mais viver daquela forma, todos ali viviam em plena miséria, arriscando suas vidas o ano inteiro em troca de não terem seus corações congelados, enquanto ele ficava todo tempo sentado, apenas comendo e nos fazendo trabalhar.

Mal consegui dormir naquela noite, o vento passava assoviando pelas frestas da porta e janelas, o frio começava a ficar cortante, levantei e vi a neve caindo pela janela, àquela hora os ajudantes deles já começavam a surgir na neve, não eram duendes, mas sim os bonecos de neve, se formavam sozinhos e apareciam apenas para servi-lo.

Era natal e todos em casa estavam empolgados para irem adorar o papai Noel, já podia ouvir as primeiras notas dos instrumentos do coral, meus pais e meus irmãos vestiram suas melhores roupas, que já estavam surradas, pois só tinham aquelas.

- Vista-se Lia. – minha mãe pediu empolgada.

- Já estou pronta. – disse pegando apenas o meu casaco e calçando minhas botas.

- Vai de pijama?! - minha irmã perguntou me olhando incrédula.

- Sim. – disse séria.

Meus pais tentaram me convencer a colocar minha roupa festiva, mas me recusei e fui daquela forma mesmo até a praça central.

Todos ficaram me observando incrédulos com a forma que eu estava vestida, mas não liguei algumas senhoras fizeram cara feia, como se aquilo fosse um insulto, mas continuei sem dar importância.

- Parem tudo! – o Noel falou. – Abram espaço para essa garota de pijama! – todos se afastaram e fiquei encarando-o. – Onde estão suas roupas menina?

- Não importa, vim assim somente para você me notar, tenho algo importante a dizer. – comecei a me aproximar. – Ouçam todos! Esse deus é um grande mentiroso, oferece a vocês uma grande farsa todos esses anos, já reparam que nossos desejos tem que ser sempre os mesmos? Não termos nossos corações congelados, já viram a miséria em que vivemos enquanto ele fica com a melhor comida, muita comida, e nos oferece um amor falso, é apenas interesse! – todos ficaram horrorizados.

Contos natalinosWhere stories live. Discover now