TRINTA E OITO

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Quando entramos no tribunal outra vez, na manhã do nosso sétimo dia em Subsampa, o clima era diferente. As fadas reunidas diante do prédio e dentro da sala de tribunal não nos vaiavam nem me chamavam de assassina. Ao invés disso, nos aplaudiam. Nos apoiavam.

"Que irônico", Tam murmurou. "Que as culpadas tenham desvendado décadas de crimes insolucionáveis e que agora sejam tratadas como heroínas."

Soltei uma risadinha.

"Se não tivessem nos culpado, a gente não teria aparecido para investigar."

Aquela foi a terceira vez me coloquei naquela mesma cadeira, ao lado de Tam, Nana, Tales e Otelo — mas o que eu senti naquele momento foi completamente diferente das outras.

Reconheci na multidão o rosto da primeira mulher que questionara Lírio, no dia anterior. A cumprimentei com um sorriso largo antes de me sentar. Era bom ver ali, ao meu lado, algumas das pessoas que acompanharam tudo o que tinha acontecido nos dias anteriores. Me fazia sentir mais segura. Me fazia acreditar que aquilo era real, que o pesadelo tinha mesmo acabado.

Tales sorria muito, iniciando conversas com as pessoas em volta. Vez por outra, roçava seus dedos nos meus, segurando-os com carinho. Nana e Tam discutiam de maneira amigável, para a minha surpresa, se o show da Luna era ou não melhor do que Peixonauta. Enquanto isso, Otelo se limitava a ficar em silêncio entre elas com um sorriso bobo nos lábios. o braço do rapaz circundava preguiçosamente o pescoço de Nana e sua outra mão estava pousada no próprio peito, quase como se ele mal pudesse acreditar no que estava acontecendo. Tobias, um sorriso suave na carinha reptiliana, mantinha os olhos fechados, ressonando de modo pacífico no colo de Tâmara.

Filipa me abriu um sorriso triste assim que se sentou à mesa ao lado da nossa. Para todos nós, o caso já estava encerrado... mas ao que parecia, a promotora não tinha a mesma opinião.

A juíza sentada no lugar de Lírio moveu a cabeça em positivas graves a cada nova etapa do processo. A trouxeram de Rio de Janeiro subterrânea especialmente para o nosso julgamento — ela seria imparcial, disseram. A juíza Julieta franziu as sobrancelhas, conferiu papéis, fez anotações, comentários, perguntas e ajustou a gola de sua toga no calor infernal da pequena sala de tribunal.

Sinceramente, eu não entendia o motivo de nada daquilo. Tales, que parecia tão confuso quanto eu, não poupou esforços para lembrar, de novo e de novo, o papel que Tâmara, Eliana e eu tivemos ao desvendar todo o esquema de Lírio. Ainda assim, segundo Filipa, o problema era a memória que me mostrava atacando Donatela.

"Mas a questão não é só a memória," Tales sussurrou ao meu lado. "Depois de tudo o que aconteceu por aqui, eu não duvido que estejam apenas tentando mostrar serviço. Que não haverá mais nenhum tipo de corrupção na administração, quero dizer."

"E por isso eu tenho que pagar o pato, é?", devolvi num tom baixo e irritado.

"Não é pagar o pato, é servir de exemplo", ele disse baixinho. "E pelo menos a Filipa não mostrou a memória pro tribunal inteiro — se tivesse, você estaria em maus lençóis."

"Ótimo conhecimento de expressões mundanas, Tales. Num ótimo momento, também", eu disse num tom irônico.

"Eu sei, obrigado", ele respondeu. "Meu conhecimento se estende a tantas áreas que —"

"O que eu posso fazer?", interrompi num suspiro comprido.

"Nesse ponto? Esperar o júri decidir... não há muito mais a fazer além disso." Com um sorriso, ele deslizou o dedo pelos meus, segurando minha mão com firmeza. "Confiança. Vai dar tudo certo."

Assassinato no Mundo das Fadas (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora