Bruno
Pedro me olhou com um expressão estranha, provavelmente após ouvir sair da minha boca as palavras "vamos passar lá na biblioteca".
- Biblioteca? -questionou, a careta se transformando em risadas logo em seguida.
- Anda, zé buceta! -dei um tapa na nuca dele, que soltou um "ai" seguido de xingamentos direcionados a mim. - Preciso pegar um livro de história emprestado. Não trouxe o meu e não quero ser expulso da sala pela quinta vez esse ano por causa dessa merda.
Bufei com a recordação da última vez que Ernandes tinha me feito perder a aula e ainda levar falta. Aquele velho tinha era uma implicância comigo, talvez porque ele soube que eu peguei a filha dele.
- Sabe o que eu acho? -a pergunta de Pedro me trouxe de volta a realidade, fazendo com que eu saísse dos meus próprios pensamentos. - Que a gente já tinha que estar planejando o baile do carnaval.
- Era pra gente ter feito isso esse fim de semana né cabeça! -retruquei. - Mas você deu um chá de sumiço.
- Sabe como é né? -ele coçou a cabeça e riu sem graça. - Fiquei ocupado.
- Me poupa dos detalhes. -O interrompi. - Por mais que eu tenha dado minha bênção, ainda é a minha irmã.
- Relaxa, irmão. -Pedro riu e levantou as mãos, como se estivesse se rendendo. - Eu juro que não fiz nada demais.
- Mente, que eu finjo que acredito. -balancei a cabeça, afastando os pensamentos. Em certos casos, a ignorância é um presente.
Intenrrompemos nossa conversa ao abrirmos a porta da biblioteca. Haviam uns dois ou três alunos lá dentro estudando e a mal humorada responsável pelo lugar.
- É a penúltima estante. -sussurrei para Pedro que apenas assentiu com a cabeça.
- E você ainda não me falou como você e a Amanda ficaram. -ele comentou, enquanto eu caçava na estante um livro de história do terceiro ano.
- Terminamos de novo ontem a noite. Ela é ciumenta demais e fica tentando me controlar, sabe o quanto eu odeio isso. Mas sabe acho que vou voltar com ela, acho que serviu pra ela se controlar um pouco. -respondi. - Ela é gata demais e eu gosto dela.
- Com todo respeito, eu concordo com você. Ela é gata mesmo, provavelmente uma das mais gatas da escola. -parei minha procura para olhar para Pedro, curioso.
- E quem você acha que é a mais gata da escola? -questionei, apesar de ter uma ideia de quem ele responderia.
- Eu acho que a Alice é a garota mais gata da escola. -respondeu como se fosse óbvio. - Pena que ela é tão esquisita.
Ela tinha uma aparência diferente do padrão das garotas da cidade, a pele mais pálida, os olhos claros. Com um estilo diferente com certeza ela ficaria ainda mais bonito.
- Concordo com você. -nem precisei pensar muito para concluir aquilo. - Aposto que por baixo daquelas roupas pretas deve ter um corpo gostoso pra cacete.
Pedro deu uma risada baixa e abriu a boca para responder, mas antes que ele dissesse algo cabelos pretos com mechas verdes e um casaco preto passando lentamente pelo corredor nos fez travar. Ela fez questão de ir para o outro lado do corredor em que estávamos, olhando os livros daquela parte.
Alice estava atrás da estante onde eu procurava o livro, é claro que ela havia escutado.Olhei para o meu amigo que me olhou de volta provavelmente com a mesma expressão na cara que eu. Puta merda, ela vai matar a gente.
- E aí, Alice! -soltei sem pensar, tentando ser casual. Talvez ela nem tivesse escutado, ela sempre estava com fones de ouvido escutando sabe-se Deus o quê.
- Tranquilo? -Pedro me acompanhou na tentativa de disfarce mais desajeitada de todos os tempos.
Ela não respondeu, um meio sorriso pra lá de debochado surgiu no rosto dela e ela foi embora. Porra, ela ouviu!
[...]
Lívia e Pedro quiseram aproveitar os minutos que faltavam pro intervalo acabar para ficarem juntos, o que me fez ir pra sala antes de o sino tocar porque eu com certeza não iria ficar de vela pra minha irmã com o meu melhor amigo.
Fiquei meio bolado quando ele chegou em mim pra falar que estava curtindo minha irmã, mas dei uma chance pela sinceridade de chegar direto comigo.
A primeira coisa em que meus olhos focaram foi em Alice no fundo da sala, com a costumeira cara de nojenta e os fones no ouvido.
Eu ainda estava sentido com a ideia de que ela pudesse ter escutado o que eu havia dito, então fiz a péssima escolha de caminhar até onde ela estava e arrastar uma cadeira para mais próximo da dela.
Coloquei os dois cotovelos sobre o "braço" da cadeira e usei minhas mãos como apoio para minha cabeça. Meu ato fez com que Alice me olhasse desconfiada.
- O que você quer? -perguntou, puxando os fones de ouvido que usava .
- Nada, ué! -respondi na defensiva.
- Se você quer saber se eu ouvi vocês na biblioteca, eu ouvi sim. -ela suspirou, como se estivesse cansada. - E eu não tô nem aí. Então faz o favor de arrastar essa cadeira pra longe de mim, obrigada.
Alice sendo Alice. Honestamente eu me perguntava como ela é Lívia conseguiam ser amigas, minha irmã já havia me dado diversas explicações e nenhuma delas fazia muito sentido na minha cabeça.
- Você é muito esquentadinha, garota! -ri. Observei uma mecha caindo sobre o rosto dela e aproximei a mão para afastar.
O tapa que estalou no meu braço foi tão forte que deixou uma marca vermelha. A olhei com indignação, sério que surto foi aquele?
- Tá doida? -perguntei, sentindo meu braço arder.
- Doido é você de tentar tocar em mim. -ela se levantou irritada. - Se você tentar outra vez, fica sem mão.
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Collide
RandomAs roupas pretas, a expressão constantemente fechada e o humor ligeiramente ácido torna Alice diferente de quase que 100% dos adolescentes da pequena cidade onde ela vive. Ela é gata, eles dizem, pena que é tão esquisita. Pra sua sorte, ela está lon...