Alice
Orgulho sempre foi uma das minha características mais fortes. Mesmo quando eu era a errada, sempre me negava a ir pedir desculpas diretamente.
Nunca gostei de assumir meu erro, então procurava formas de me redimir de modo que a pessoa até esquecesse que eu não tinha oficialmente me desculpado.
Bem, o relógio do meu celular indicava que já eram quase 03:00 da madrugada e eu ainda estava deitada olhando para o teto do meu quarto pensando no que eu poderia fazer para acertar as coisas com Bruno.
Peguei meu celular de novo e meus fones de ouvido, sabia que não dormiria tão cedo então restava apenas a alternativa de me distrair de alguma forma.
- Puta merda! -minha reação automática foi essa quando vi a barra de notificação do WhatsApp descer. Era um áudio de Bruno.
Havíamos brigado naquele dia de manhã e ele já estava me mandando um áudio, se eu era a pessoa mais orgulhosa que existia então ele era a menos com toda certeza.
Desliguei o Wi-Fi do meu celular, não queria que ele visse ainda que eu tinha escutado até porque eu nem sabia se saberia o que responder.
"Alice, eu odeio brigar contigo, mas na moral eu também não sou tão idiota. Na real acho que cê tem é vergonha de tá comigo na frente dos outros, parece que só sirvo pra ficar contigo escondido. Então eu vou jogar a real que eu não quero ficar assim, se cê quer ficar comigo pra valer nós fica. Assim não rola pra mim. Sei que é direito seu não querer nada, mas é direito meu também querer alguma coisa."
Respirei profundamente ao fim do áudio. Aquilo era uma pressão e tanto, talvez mais pressão do que eu podia aguentar. Naquele momento eu realmente precisava em pensar em tudo, em como eu me sentia e se eu realmente queria algo pra valer com Bruno.
Eu queria ter certeza de que realmente estava disposta a encarar uma relação mais séria e se me perguntassem naquela hora eu com certeza não saberia a resposta.
Soltei o celular na mesinha ao lado da cama e puxei o lençol para que me cobrisse toda. Precisava pelo menos tentar dormir um pouco, apesar de ter praticamente certeza que não conseguiria.
No dia seguinte seria a feira de artes da escola, ainda teria que cantar porque já tinha passado para a professora de artes que era isso que eu iria fazer.
Direta ou indiretamente, Bruno só me metia em furada mesmo.
[...]
- Caralho, você tá muito gata! -Lívia praticamente gritou quando eu estava me aproximando dela. Não vou fazer a falsa modéstia, eu estava mesmo. Estava usando um vestido preto de mangas longas, meia arrastão e coturno. Ainda fiz uma maquiagem pesada e completei com algumas pulseiras e anéis. - Nem parece que não tem coração.
- Não tenho mesmo, obrigada e de nada. -sorri com ironia, recebendo um "cutoco" dela.
- Passei a noite ontem ouvindo os lamentos do meu irmão, sério se resolvam logo porque to com preguiça já. -disse, revirando os olhos.
- Cara, ele que veio apressar as coisas. -me justifiquei, apesar de saber que eu errei na forma de conversar com ele, eu não achava que eu estava errada no geral .
- Ah pronto, agora tenho que te ouvir também. -cruzou os braços.
- Sério? Você sempre reclama que eu não te conto nada e quando eu conto você ainda reclama. -meu argumento era bom demais para que ela pudesse refutar, então a reação automática da minha melhor amiga foi bufar irritada por ter perdido.
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Collide
RandomAs roupas pretas, a expressão constantemente fechada e o humor ligeiramente ácido torna Alice diferente de quase que 100% dos adolescentes da pequena cidade onde ela vive. Ela é gata, eles dizem, pena que é tão esquisita. Pra sua sorte, ela está lon...