Capítulo V

14 0 0
                                    

Harrison estava tendo pesadelos constantes na última semana, com algo dentro de sua cabeça, uma voz áspera como uma lixa, que era esfregada em sua mente, lhe causando fortes dores de cabeça. Ao acordar, Harrison foi até o banheiro escovar seus dentes e já tomou três comprimidos de aspirina. Seu cabelo louro estava todo bagunçado por ter acabado de acordar, seus olhos claros perderam seu lugar de destaque para olheiras embaixo de seus olhos. Sua barba por fazer o incomodava, mas a preguiça de fazê-la era ainda maior.

A primeira gaveta a direita estava cheio de remédios e pomadas para quase qualquer coisa. Harrison pegou seu frasco de remédios alaranjado e de tampa branca a rodando até abrir e jogando dois comprimidos em sua mão. Comprimidos brancos com um risco no meio, indicando que poderiam ser cortados ao meio caso fosse necessário meia dose. Harrison estava exagerando, tomando mais do que o necessário, por tinha medo de fracassar consigo mesmo e deixar aquele monstro que habita nele voltar.

Ele sonhava também com a noite em que seu pai chegou bêbado em casa e o enforcou pela primeira vez. Havia marcas em seu pescoço até os dias de hoje, das unhas de seu velho odioso.

...

1992

Harrison chegou tarde novamente em casa, após visitar a casa de sua mãe, sem seu padrasto saber e jantar junto a ela. As visitas eram constantes. Seu padrasto tinha quatro filhos (Eram eles em ordem do mais velho para o mais novo: Dodhes Chelstan, Sinas Chelstan, Bardson Chelstan e por fim o caçula, Zawine Chelstan) e não possuía condições de cuidar de mais alguém, mas sua esposa fazia de tudo por debaixo dos panos para dar uma boa vida ao seu filho. Já faziam cinco anos que sua mãe havia fugido de casa, cuidando do seu filho de longe.

-Chegou tarde, a comida já esfriou.

-Estou sem fome.- disse o jovem Harrison ao passar por de trás de seu pai que estava sentado no sofá assistindo ao Jogo da Sorte.

-Como assim sem fome?- perguntou ele desligando a TV e virando-se devagar e o máximo que seu pescoço gordo e dolorido permitia. Seu cabelo que um dia foi louro claro, agora se encontrava aos poucos e ganhando um tom branco, espalhados pela sua grande cabeça quase careca. Em uma de suas mãos, havia um Marlboro pendendo a baixo. Havia sido consumido mais da metade.

-Eu só não estou com fome pai, não me enche tá? Eu vou para o meu quarto.

-Você só tem onze anos, ainda mora sobre o meu teto e deveria fazer a comida, já que a puta que eu engravidei por acidente não se encontra mais em casa. Eu cuido de você e te dou todo o conforto que você precisa, me deve satisfações. Por que caralhos você não está com fome?

-Por nada, só não estou.- disse ele parado na metade do caminho. Suas pernas tremiam de medo em quanto aquele velho bêbado levantava furioso lentamente. Ele sabia que se corre-se, seria pior. Além do que, ele não tinha para onde fugir, não tinha amigos, sua mãe morava com um cara rígido e seu pai... Bem, seu pai estava prestes a fazer o que sempre fazia.

-Foi por você que eu abri mão de ser jogador de futebol americano? Hã?- perguntou ele engrossando a voz na última palavra enquanto se abaixava para ficar cara a cara com o seu filho e observa-lo nos olhos, aquele monte de bosta que o fez desistir de seus sonhos.- Eu levava jeito para a coisa, eu era foda, forte, lindo... Mas sepois que engravidei aquela maldita líder de torcida e nasceu você, tudo mudou... Tive que arrumar um emprego em uma loja merda de vendas de televisão, mas acabei sofrendo um acidente. Passei a beber mais do que já bebia, pois só assim eu esquecia da vida merda que eu tenho.

BlackoutOnde histórias criam vida. Descubra agora